Capítulo único

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Há muito tempo, antes da criação dos humanos, a terra era habitada pelos Espíritos da Natureza, que eram regidos pelos dois grandes Espíritos antigos, celestiais e opostos, a Lua e o Sol.

Entre os Espíritos terrestres, um em especial observava em silêncio as estrelas. Era um espírito de cor verde, o Espírito da Floresta. O Espírito da Floresta não gostava da escuridão noturna. Sentia-se sem vida com a ausência da luz do Sol. Então, todas as noites, observava a Lua e as Estrelas, contando os segundos para que o Sol surgisse novamente. E assim ele passou milhares de anos.

Um belo dia, quando o Sol estava quase se ponto, o Espírito Verde da Floresta olhou para ele com tristeza e implorou:


— Oh Grande Espírito Celestial! Por favor, não me deixe! Há milhares de anos eu tenho passado noite após noite, sozinho na escuridão noturna. Sem tua luz, me sinto fraco e com frio... - ele clamava.


O Grande Espírito do Sol olhou para o Espírito da Floresta, e decidiu atender seu desejo.

— Não tema, pequeno Espírito - o Sol dizia com toda sua grandiosidade - Preciso partir e dar lugar ao Espírito da Lua, mas esta noite, lhe deixarei um presente.

O Sol então partiu, e como em todas as noites, a Lua e suas Estrelas tomaram o céu. O espírito da Floresta olhava a Lua e as Estrelas, tentando absorver sua luz, mas ela era pouca, e muito distante. O Espírito da Floresta voltou ao seu silêncio e frio, esperando novamente o dia amanhecer, para ser novamente aquecido pela luz do Sol. Entretanto, olhando entre suas árvores, ele viu um pequeno feixe de luz piscar.

— Quem é você? - perguntou assustado.

—  Sou o nascido do Sol. Um pedaço seu que ele enviou à Terra, para que eu ilumine e aqueça as noites frias.

— Qual seu nome? - perguntou o Espírito da Floresta, intrigado com a nova criatura.

— Me chamo Fogo - ele respondeu - e você?

— Eu sou o Espírito da Floresta! - respondeu o Espírito milenar, completamente encantado com a luz e o calor que emanava daquele novo Espírito.


O Fogo era diferente de qualquer espírito que habitava na Terra. Era diferente de qualquer espírito que conhecia. Era brilhante, vermelho e quente, como um próprio pedaço do Sol. Mas diferente do Grande Espírito Celestial que havia lhe dado origem, o Fogo não era uma bola enorme e laranja. Era vermelho, flexível, delicado...


— Você é mesmo filho do Sol? - perguntou a Floresta

— Sim.

— Você é tão diferente... - o Espírito verde o olhava confuso - é pequeno, não é redondo...

— Me acha feio? - o Fogo perguntou inseguro

— Não! - A floresta respondeu prontamente - Você é lindo! É o Espírito mais lindo que já vi!


O Espírito do Fogo sentiu aquelas palavras, como se elas o aquecessem ainda mais, e começou a soltar pequenas brasas, que deixaram o Espírito da Floresta ainda mais encantado.


— Não diga isso... - o Fogo disse envergonhado - Eu sou apenas um Espírito pequeno e estranho. Não me comparo à grandiosidade de meu pai. Sei que quando amanhecer, você sequer lembrará de mim.

Dança dos Espíritos (GaaLee)Onde histórias criam vida. Descubra agora