CAPÍTULO ÚNICO

28 2 0
                                    

Entrei na biblioteca e passei direto, indo para o fundo da mesma. Sentei no chão encostada na parede fria e com cheiro de mofo da biblioteca, coloquei minha cabeça entre as pernas e fechei os meus olhos com uma certa força e contei até dez

Um....dois.....inspira......três...quatro...respira

Não adiantou. Comecei a tremer ainda mais, não consegui controlar as lágrimas que desciam pelo meu rosto e minha respiração ficou curta e fraca, meus pulmões ardiam pedindo por oxigênio mas eu simplesmente não conseguia respirar

— O céu hoje está laranja — uma voz surgiu ao meu lado. Levantei minha cabeça para encarar a pessoa e fiz uma expressão confusa

— O-oque? — minha voz saiu fraca. Olhei para o garoto em minha frente, ele usava óculos e algumas mechas do seu cabelo castanho caia nos olhos

— O céu — ele apontou para a enorme janela de vidro que estava do nosso lado — ele está laranja hoje

Respirei com uma certa dificuldade. Limpei as lágrimas da minha bochecha e o encarei

— E o que isso tem de esquisito? — ele virou a cabeça em minha direção e estalou a língua

— Quando o céu está assim é por causa de fogo, fumaça para ser mais exato — ele voltou a olhar para a janela. Minha respiração estava voltando ao normal e eu me endireitei no chão

— Acho que o céu está laranja só por estar mesmo — eu disse, encarando a janela —  isso se chama "fenômenos da natureza"

— Pode até ser — ele riu — mas vou acreditar na minha teoria

— Como quiser — dei de ombros e ficamos em silêncio por alguns segundos — como você sabia?

— Minha irmã mais nova tem — ele soltou um suspiro pesado — você não precisa passar por tudo isso sozinha, você sabe disso não é?

Eu dei de ombros. Era difícil entrar nesse assunto, desde os meus quatorze anos que eu lido com a ansiedade. Meus pais não acreditam que eu precise de remédios ou terapeuta porque eles acham que isso é falta de Deus, então lido com isso em segredo

— Sim, mas não quero contar para os meus amigos — ele se virou para mim e franziu o cenho

— Por que?

— Porque eles não iriam entender e também porque eu posso lidar com isso sozinha — ele bufou e revirou os olhos — além disso não era nem para você ter visto isso

— Mas eu vi — ele retrucou e eu o olhei feio — vi a hora que você começou a ficar tensa e saiu da sala. Eu só te segui para ver se estava tudo bem

— Mas você me odeia, não é? Por que fazer isso? — perguntei. Realmente o Pedro e eu não nos dávamos muito bem

— Te odiar é uma palavra muito forte — ele riu — eu apenas não suporto esse seu jeito mimado de agir e também não suporto seus amigos "populares"

— Ei não fale assim deles, eles são legais

— Não, não são — eu revirei os olhos — enfim vou te ajudar a ter menos crises dessas, tudo bem?

— Tudo bem — hesitei um pouco antes de apertar a mão dele — mas só vou aceitar porque realmente você me ajudou hoje

— Você não merece passar por isso sozinha, Maya — ele falou em um tom sério — aliás ninguém merece passar por isso sozinho

— Obrigada, Pedro — em um movimento rápido e impulsivo, eu envolvi meus braços no seu pescoço — obrigada de verdade.

— Não me agradeça, vai ser um prazer te ajudá-la

Nós dois sorrimos e nos encaramos por alguns segundos, o que pareceu uma eternidade, e fomos interrompidos pela bibliotecária que estava parada na nossa frente de braços cruzados

— Posso saber o que está acontecendo aqui? — a bibliotecária nos olhou por cima do óculos

— Desculpe, nós viemos pegar um livro que o professor pediu mas acabou que a pressão dela abaixou e só estávamos verificando se ela estava melhor.

A bibliotecária nos analisou de cima para baixo. Nós dois nos levantamos juntos e fomos em direção a saída da, junto com a bibliotecária

— Da próxima eu chamo o diretor, seus baderneiros.

ANSIEDADEOnde histórias criam vida. Descubra agora