Capítulo I

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𝐀 𝐆𝐑𝐀𝐍𝐃𝐄 𝐓𝐄𝐌𝐏𝐄𝐒𝐓𝐀𝐃𝐄


O céu se tornou branco mais uma vez assim que um raio desabou, estremecendo o solo. As gotas de chuva eram tão fortes que pareciam pequenas pedras sendo lançadas contra o corpo esguio de Brion.

Mas Philipe, seu cavalo, não hesitou em nenhum instante em salvá-los daquela tempestade. Brion agradecia aos deuses por ter escolhido aquele filhote feroz em meio a tantos outros, anos atrás.

Outro raio desabou em uma das árvores que cercavam o caminho de Brion, derrubando-a na estrada escura e alagada. Phelipe empinou relinchando e o jovem teve forças o suficiente para puxar as rédeas e alterar a direção com que corriam. Nunca vira uma obra tão assustadora e, se sobrevivesse, não desejaria presenciar outra.

Um conforto apertou o coração dele quando, em meios às nuvens pesadas de chuva, Brion avistou a ponta de uma torre alta. Ótimo. Teria um lugar para parar e se esconder ou estava satisfeito somente em pensar que não estava tão longe da civilização assim.

Ele morava em um vilarejo pobre e seu trabalho como taverneiro exigia que ele fosse comprar comida e mantimentos em um reino vizinho, todas as vezes que a lua se tornasse cheia. A única coisa que sua terra provia eram lindos campos de flores coloridas, independente da estação do ano. E com o azar que tinha, o jovem foi designado a viajar ao mercado logo na época das chuvas de verão.

Outro raio iluminou a terra. Ele sentiu os músculos de seu animal, abaixo de si, estremecerem com o estrondo que sucedeu.

— Calma, amigo — gritou ele, para que sua voz ultrapassasse o som da tempestade. — Já estaremos seguros.

E não era uma mentira já que acreditava mesmo naquilo.

E em sinal de confiança e confirmação, Phelipe disparou na direção da torre que seu dono havia avistado. Nem mesmo o terreno irregular e a força da chuva foram capazes de pará-los.

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Os deuses cuidavam deles e Brion teve ainda mais certeza disso quando ultrapassou os portões abertos da propriedade misteriosa. Tudo ali era feito de pedra, mas ele não se daria ao trabalho de analisar a arquitetura do lugar antes de estar seco e quente.

Phelipe berrou com alívio assim que chegaram nas portas do castelo.

Brion desceu da sela e correu, subindo as escadas. Ele golpeou a porta de madeira vermelha com os punhos fechados. Simples batidinhas não seriam ouvidas em meio aos trovões.

— Olá! — ele berrou. — Me ajudem!

Ninguém respondeu.

O jovem se virou com os olhos arregalados, em busca de algum outro abrigo na propriedade. Era um lugar muito grande para não ter algum estábulo ou até mesmo um moinho onde pudessem se esconder.

Mas seus olhos só pararam quando ele avistou uma única rosa solitária bem no meio do lugar. Mesmo com a chuva, a flor parecia majestosa e intocada, como se desafiasse o vento a derrubá-la.

Um uivo grave soou, tornando o corpo do jovem ainda mais gelado do que estivera nas últimas horas.

Ele não havia visto lobo algum durante seu trajeto até ali. E encontrara um a passos de seu refúgio? Ele voltou a duvidar do cuidado que os deuses tinham consigo.

Brion novamente golpeou a porta e até mesmo tentou empurrá-la, verificando se estava aberta por algum acaso. Como era tolo.

Ele sentiu o fedor de cachorro molhado e sangue podre antes que seus olhos pudessem ver a fera parada a passos dele.

A Maldição e o CamponêsOnde histórias criam vida. Descubra agora