Capítulo V

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𝐕𝐈𝐕𝐄𝐑 𝐎𝐔 𝐌𝐎𝐑𝐑𝐄𝐑



Brion abriu os olhos vagarosamente, sentindo seus sentidos despertarem com ele. Estava brutalmente frio e ele buscou com as mãos o corpo musculoso que o esquentara durante toda a noite. Mas Rascott não estava mais ao seu lado.

Ele acabou soltando um grunhido confuso.

— Estou aqui.

Brion praguejou baixinho, imaginando o quão ridículo ele pareceu procurando por alguém com quem havia passado apenas uma noite. Ele se lembrou da cama pequena e dura em que dormia na taverna e que, se pudesse escolher, dormir nos braços de Rascott no chão frio era infinitamente melhor.

Balançando a cabeça, ele perguntou:

— O que está fazendo?

A visão dos cabelos ruivos de Rascott, iluminados pelo tímido sol que invadia o cômodo pelas frechas das janelas, despertou algo em Brion. E ver aqueles músculos flexionados em frente à porta não ajudaram. Rascott não havia nem se incomodado em colocar sua cueca.

E como se tivesse encostado em um caldeirão quente, Brion se lembrou que ele também estava nu.

Rascott se afastou repentinamente da frente da porta, com as ataduras recolocadas em seu ferimento, e Brion se encolheu, envergonhado. Ele se sentia patético. E como o homem não o respondeu, ele repetiu:

— O que você está fazendo aí?

O ruivo levou aquele dedo, que na noite passada estivera dentro de Brion, até a boca, pedindo que fizesse silêncio. Então murmurou:

— Estou vendo se os demônios já se foram.

Rascott se aproximou, arrastando seu corpo nu pelo chão, quase tão silencioso quanto o vazio. Ele se ajoelhou ao lado de Brion e o envolveu com um dos braços, tentando aquecê-lo. Ele não deveria se sentir desconfortável com a quantidade de pele destapada de Rascott, mas acabou se sentindo.

— Você está bem? — Rascott perguntou.

Brion mordeu o interior da bochecha, afastando o pensamento de estar com fome ou que estava louco para sair daquele castelo infernal. Então ele apenas respondeu:

— Estou.

Rascott beijou o alto da sua cabeça, um ato inesperado de puro cuidado, antes de dizer:

— Vou tirar você daqui. — Ele o analisou com os olhos, contemplando cada parte do corpo de Brion e riu. — E vou arrumar roupas secas para vestirmos.

Brion assentiu e se levantou do chão.

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O dia pareceu espantar as feras demoníacas de dentro do castelo. Eles esperavam isso, pelo menos. Apanharam roupas neutras nos antigos armários do quarto maior do castelo. Mesmo sendo velhas, Brion nunca vestira algo como aquilo.

Rascott dissera a Brion que sair daquele lugar infernal era seu maior desejo, mas que nunca tivera coragem para o fazer. E havia encontrado no jovem taverneiro a coragem para desejar o restante de sua vida a salvo.

Brion se pegava dando sorrisinhos bobos ao se lembrar disso.

A porta de madeira avermelhada que guardava a entrada do castelo, parecia ainda maior e mais pesada agora que o jovem sabia que era ela que mantinha os demônios do lado de fora. Longe deles. Rascott verificou os lugares principais do castelo e não encontrou nenhuma das feras. Talvez tenham desistido de procurar por eles.

A Maldição e o CamponêsOnde histórias criam vida. Descubra agora