DOZE.

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No tornozelo das minhas meias tem um sorriso desenhado. São dois rostinhos redondos amarelos com sorrisos que os tomam quase que por inteiro, ainda mais quando as visto e meu pé dá forma ao que antes era um tecido murcho. Visto uma calça de moletom azul marinho, combinando com alguns detalhes da meia, e um blusão da mesma cor. Nele está escrito "good energy club". Nos últimos meses, venho notando que das quatro as peças que comprei recentemente, quatro eram com frases escritas. Acho que é o meu novo vício.

Adoro como elas vendem uma boa imagem de mim com suas palavras motivacionais e engraçadas. Odeio o fato de eu não ter brecha alguma para usá-las por baixo de um blazer de alta costura. É chique demais para os lugares que ando indo.

Não que eu super gaste o meu dinheiro com alta costura, a maioria das minhas peças que custam mais de cem dólares eu ganhei de Hanna ou comprei usadas em brechó, por um preço bem mais acessível do que o das lojas originais. Meu estilo é básico, confortável e minimalista. Sempre tive coisas demais para fazer para ter tempo para perder com estudo de moda e análise de lojas de grife, essa é uma tarefa que eu sempre deixei para minhas mães ou para as propagandas do Instagram.

Agora, uso do meu tempo nem um pouco livre — eu deveria estar pensando em algo para escrever para o Reputation, ou procurando jornais interessados nos meus textos — para me juntar a Monique e Hanna no sofá da nossa sala de tv, onde os cachorros estão amontoados, assim como o casal mais apaixonado que já vi de perto.

— Quando eu crescer, quero ser igual a vocês. — Digo, afastando Moá para poder me sentar ao lado direito de Monique.

— Você já cresceu, Eva Maria. — Hanna relembra.

O senso de humor dela às vezes é o pior.

— Infelizmente, Hanna Maria.

Esse não é o nome dela, mas eu adoro adicionar o nome complementar após dizer o das minhas mães. Assim, fica parecendo que temos todas a mesma composição. Uma família de verdade, padronizada, de nome composto e sobrenome.

A tv já está ligada no canal que vamos assistir. Logo, a abertura do The Ellen Show chama nossa atenção para a tela grande — enorme — e a apresentadora loira começa a dizer ao telespectador tudo o que ele verá nessa noite de sexta feira. Nada é novidade para mim, eu estava lá quando eles gravaram o programa e só estou assistindo por pura insistência da minha mãe.

Quando o primeiro bloco acaba, antes de ir para as propagandas, passa um flash do que virá a seguir; a entrevista com a banda. Os meninos aparecem na tela rindo, seguido de alguns segundos deles no palco externo ao estúdio tocando alguma das três músicas. É breve e sem o som original, mas o suficiente para Luke voltar aos meus pensamentos.

Eu não havia pensado nele o dia todo, tinha sido uma vitória para minha mente incansável, mas não durou muito. É claro que não.

Na última uma semana e meia, eu não tive notícias sobre Luke por nenhum dos meus meios de informação, a internet ou os garotos. Parece que o cara se isolou no meio do mato e não avisou ninguém, mas, diversas vezes, minha mente viajava para qualquer lugar em que ele pudesse estar. Eu ficava repassando suas palavras de agradecimento, a forma como ele me olhou e o quão chocada eu fiquei com aquilo.

Quando eu estive com Ashton, na quinta-feira seguinte ao ocorrido, mal consegui prestar atenção nele. Passamos seis horas juntos, entre um café, uma loja, seu carro e minha casa, e em nenhum desses lugares eu me dediquei ao que deveria ter me dedicado; ouvi-lo. Não porque ele é repetitivo e maçante, mas porque minha cabeça estava ocupada demais repassando pela milésima vez a cena de Luke me pedindo desculpas em frente a porta da casa de Michael. E quando eu deixava de pensar nela, meus olhos ficavam analisando o baterista que me acompanhava.

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