A soberba vem antes da ruína
e a altivez do espírito precede a queda.Provérbios 16:18
Prólogo
Das coisas que o primeiro homem conhecia desde que recebeu o fôlego da vida, nada era igual a isso. No meio da noite, ele se escondeu no alto de uma colina rochosa, próximo da entrada de uma caverna estreita, para observar aquela chama de fogo que pairava no ar. Distante e ao norte, a labareda fazia movimentos circulares em torno dos limites de um bosque sombrio.
A primeira mulher também não tinha se habituado à chama, mas não possuía a mesma curiosidade que seu marido. Não estava nem mesmo acostumada a usar nada sobre o corpo, mas agora necessitava se cobrir com um traje de pele animal.
Talvez ela estivesse mais preocupada com as fortes dores nas entranhas, que passou a sentir com frequência. Olhando para o alto e em direção contrária ao seu companheiro, suas mãos alisavam o próprio ventre, que crescia um pouco mais a cada dia, comprimindo-se dentro da roupa.
Antes disso, os dois haviam chorado muito. Agora, a confiança entre eles estava abalada. Ele a culpava pela insensatez. Ela o responsabilizava pela falta de proteção. Era o início do que eles começariam a sofrer por causa de um ato de desobediência.
Naquele momento, o homem não estava interessado em sua parceira. Preferia olhar para aquela vigilante chama. Estava magnetizado pelo interior dela. As labaredas cobriam uma peça metálica comprida e estreita, que tinha o tamanho de seu braço. Havia um gume preciso em cada lado da lâmina avermelhada pelo calor. Era mais leve que o ar e de aparência devoradora.
O mentor do primeiro homem chegou a lhe ensinar sobre os princípios da forja metálica, mas ele não se aprofundou no assunto. Logo aprenderia como fazer os objetos que os seres brilhantes usavam, mas um erro mudou o rumo da história.
Nunca mais sentiremos o sabor da vida.
O humano não se atreveria a se reaproximar do primeiro lar. Ele e sua companheira não desobedeceriam outra ordem tão cedo. Mesmo que quisessem, ao menor sinal de movimento próximo das flores murchas, a espada flamejante zuniria nos ares em proteção avassaladora. Ninguém poderia voltar àquele jardim. Nunca mais.
Meditando sobre essas coisas com tristeza misturada à saudade, o homem tentava entender sobre as causas que levaram seu mentor a colocar algo tão poderoso para impedir o acesso à Árvore da Vida. Dias antes, uma dúvida poderia ser esclarecida no entardecer de qualquer dia, mas esse tempo acabara. Naquele instante, algumas respostas de seus questionamentos só chegariam para outras gerações. Tudo por causa da desobediência.
A tentação foi doce no início e amarga no fim.
Aqueles primeiros humanos, porém, não sabiam que a assombrosa arma de guerra não estava ali por causa deles. Tudo começou em um reino estabelecido muito antes dos humanos andarem sobre o pó: o Reino dos Céus.
oOo
Para que um reino seja estabelecido é preciso um lugar. Neste lugar, deve haver habitantes. Os habitantes que buscam alimento, proteção e abrigo escolhem o mais forte para liderá-los e o fazem rei. Este rei deve proteger os moradores do reino e, para isso, forma um exército. Os recursos para proteger o povo são mantidos mediante impostos justos pagos pelo povo. Assim, o rei trabalha para suprir as necessidades de seus habitantes e, com isso, promover a paz.
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Antes do Princípio
FantasySINOPSE Durante uma apresentação para milhões de expectadores na capital do Reino dos Céus, Helel — um querubim que se destaca em sabedoria e beleza – deseja em seu íntimo abrir mão de uma grande responsabilidade em nome de sua paixão. Porém, algo m...