01 - NÃO DESMORONE, VERONICA

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20 DE OUTUBRO
"NÃO DESMORONE, VERONICA"

O túmulo de William Baker era visitado todos os dias por Veronica. Ela desviava do caminho do colégio Carven High School e dirigia-se, sozinha, para o lugar onde jaziam os restos mortais do seu melhor amigo. A garota conversava com a placa de concreto, os joelhos na grama baixa e os olhos presos ao nome entalhado na pedra. Por vezes, Brooks não sentia-se à vontade para relatar os seus problemas, em conflito diante da perspectiva de atormentar o finado com os seus dilemas, então, apenas fitava o horizonte em silêncio, esperando que, onde quer que Will estivesse, soubesse do amor que ela ainda cultivava e regava por ele, assim como ela fazia com as tulipas que os dois tanto adoravam.

Embora desejasse, Veronica não permanecia muito tempo naquele lugar durante as manhãs, retirando-se em poucos minutos para chegar a tempo do primeiro período de aula. Sempre que afastava-se do túmulo, as botas afundando na terra fofa e molhada, sentia a dor consumindo-lhe todo o corpo, a pontada fina e agonizante, que a saudade lhe proporcionava, ameaçando arrancar o seu coração ── como em uma cirurgia sem anestesia ── e fazê-lo entrar em combustão. Cada passo era um tormento, repleto de sentimentos impronunciáveis e de feridas incuráveis. Cada respiração era um lembrete de que ela ainda estava viva, mas Will não. Cada piscar de olhos era repetido para evitar que as lágrimas caíssem em seu rosto.

No início daquela segunda-feira, a garota chegou atrasada no prédio do colégio. Estacionou o carro velho do seu pai, uma das poucas coisas que ela tinha herdado dele, na vaga mais próxima da entrada e, ao alcançar a bolsa no banco de trás e pendurá-la nos ombros, olhou para uma demarcação distante, onde Will costumava estacionar o próprio carro. Outro aluno usava aquela vaga, provavelmente sem saber que, durante dezoito meses, ninguém ocupava-a além do Baker. Por um breve momento, Veronica vislumbrou o automóvel do melhor amigo e o garoto de sorriso gentil que saía pela porta do motorista com a jaqueta do time de futebol emoldurando os ombros. Sobressaltada, Brooks desviou o olhar, as lembranças tentando invadi-la a todo custo.

Dois toques ressoaram em sua janela. Ela abaixou o vidro ao reconhecer Madelyn Carter.

── Você está atrasada.

── Eu sei. ── Veronica arqueou as sobrancelhas. ── O que está fazendo aqui? Deveria estar na sala de aula.

Madelyn abriu a porta do carro, apoiando o corpo nela, e indicou o estacionamento com a mão livre.

── Palestra para os formandos - explicou. Ela esperou Veronica sair para fechar a porta. ── Não acredito que você se esqueceu do dia em que podemos sumir pelos corredores, sem notarem a nossa falta.

As duas caminharam lado a lado pelo pátio vazio, em direção à secretaria.

── Sinceramente, ando tão cansada que tem dias que pareço esquecer até o meu nome.

QUANDO VOCÊ PARTIUOnde histórias criam vida. Descubra agora