Eu ainda estava com Vitor em meus braços, as minhas mãos estavam ensangüentadas e quanto mais tempo passava, mais eu sentia que ele ia me deixando, por mais que o olhar verde já não brilhasse mais e não entregasse todo o seu amor e intensidade.
Eu nunca havia visto Artur chorar, essa era a primeira vez, chorava pela dor física, emocional, pela perda e por todo sofrimento que vem passando desde que o irmão se foi pela primeira vez, a pressão dos pais e o desprezo também faziam parte da sua trajetória de desgaste emocional.
Meu gêmeo estava impaciente, sempre tivemos a cabeça e a alma fraca, desesperado e sem saber o que fazer, ele ainda caminhava de um lado para o outro tentando assimilar tudo o que havia acontecido, os corpos no chão, os gritos, o choro, a arma que ainda estava ao seu alcance e talvez o tranava um assassino.
Meu irmão. Um assassino.
Naquele momento senti que Deus realmente havia me dado as costas, não ouvia as minhas preces e me senti um ser humano inútil, consegui colocar todos em um problema cruel e irreversível, se eu ainda tivesse em Gales, nada disso estaria acontecendo. Se eu não tivesse sido teimosa e tivesse ouvido o meu vizinho, ninguém teria se machucado. Nunca acreditei em carma, mas agora me sinto como tantas vezes intitulei o Artur: egoísta.
Finalmente os paramédicos chegaram, me afastaram de Vitor e procuraram o seu pulso, insistiram em cuidar de Artur, e ele insistiu dizendo que estava bem. Me retiraram da varanda juntamente com o meu irmão, e depois disso não vi mais nada que acontecia com os Evan's do lado de fora.
— Eu matei uma pessoa, Chloe. — Caio falou, levou as mãos até o rosto e deitou a cabeça sob os joelhos elevados. — Eu sou um monstro.
— Você não é um monstro. Eu te meti nisso, mas te garanto que vou te tirar, nem que eu tenha que me entregar por você. — suspirei e o abracei.
— Não, você não pode fazer isso porque... eu quis fazer isso, foi para te proteger. Mas eu não quero carregar esse peso pelo resto da vida.
— Precisamos ir até o hospital. — olhei para frente e vi Artur com o braço enfaixado e pendurado numa tipóia.
— Você está bem? — me levantei e fui em direção dele, passei a mão em seu rosto e o seu olhar me destruía, me entristecia.
— Estou bem, foi de raspão... as notícias não são boas, o Tyler...
— Ele está morto?
— Foi muito grave, eles não deram muita esperança. O pulso estava fraco, e eles acreditam que ele teve uma parada cardiorrespiratória. Mas só vamos ter certeza quando chegarmos ao hospital. — suspirou e desviou o olhar para Caio, que permanecia falando sozinho, se culpando. — O que ele tem?
— Ele matou o seu pai, Artur. — franzi os olhos, era óbvio o que ele tinha, por que ainda perguntava?
— Ele cumpriu a missão, ele é um herói. Caio! — o chamou, meu irmão olhou rapidamente com os olhos vermelhos. — Meus parabéns, você foi corajoso. Você nos salvou!
— Você é sempre assim, idiota? Eu matei uma pessoa! — Caio se levantou ao falar e se aproximou de nós dois.
— Você matou o Aaron Evans! Quando souber da história, não vai ficar aí se lastimando.
— Claro, não vou ficar aqui, porque eu vou ser preso.
— Não, você não vai. — Artur me olhou. — E ninguém aqui vai falar com a polícia antes dos advogados. Entenderam?
— Você vai ficar bem, ele é idiota, mas vai cuidar disso. Tá bom? — me virei para o Caio e segurei o seu rosto, ele era o bebê da minha idade e que eu ia proteger sempre.
[...]
A sala de espera de um hospital era um lugar frio e silencioso, ao mesmo tempo um lugar agitado e imprevisível. Artur já havia me mandado sentar diversas vezes, mas eu só sabia caminhar até o balcão, olhar as salas, voltar até as cadeiras e depois fazer tudo de novo. A polícia foi até a casa de Vitor, averiguou tudo, as provas e foi inevitável não falarmos com ele, eu era a testemunha principal, o interrogatório estava marcado e decidiria mais uma parte do nosso futuro louco.
Artur já havia falado que queria receber a melhor notícia, contar para o irmão que guerra foi vencida e que finalmente eles teriam paz.
— Algum familiar de Tyler Evans? — o médico saiu da sala de cirurgia e Artur se levantou, encarei o homem de máscara e pijama cirúrgico, ficamos calados enquanto víamos ele coçar a cabeça. A sua expressão não era da melhores e o resto de esperança que havia dentro de mim já se desfazendo aos poucos.
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Meu Amado Vizinho
Romance• Livro 3 • Continuação de "Meu Inesquecível Vizinho" +18 Recomeçar depois de todo o cenário horrendo de morte seria uma tarefa difícil para todos os envolvidos naquela tarde. Mas apesar e depois de tudo, Chloe e Artur estavam juntos, finalmente. D...