Capítulo 9

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Enquanto isso Santiago voltava para a mesa levando consigo uma garrafa de água gaseificada e uma cópia da comanda.

— Mary? Cadê você Mary? – Perguntou o rapaz olhando para a mesa vazia. — Amigo! – chamou o garçom erguendo a mão. — Viu onde foi parar a moça que aqui estava comigo?

— Senhor. Assim que levantou em direção a gerencia, ela tomou um pouco de vinho, comeu um pedaço de carne e saiu por aquela porta. – respondeu o garçom apontando o dedo indicador para a porta.

— Viu para qual direção ela foi?

— Não senhor, isso não sei lhe informar. Com licença senhor.

— Obrigado.

Santiago sentou-se, apoiou os cotovelos sob a mesa de madeira, abriu a garrafa d’água, tomou um gole, fechou-a novamente, colocou-a na mesa e levantou-se. Foi em direção a porta e quando colocou a mão nas maçanetas para abri-la, Mary apareceu.

— Onde você estava sua maluca? Não sabe que é perigoso sair desse jeito a noite? Você nem conhece nada aqui, não pode sair assim. – repreendeu o rapaz, deixando sair um suspiro de tranqüilidade.

— Não sou maluca não! Apenas fui tomar um ar lá fora. – disse a psicóloga ajeitando os cabelos, tentando disfarçar sua respiração ofegante.

— Não achas que está muito cansada para uma pessoa que foi apenas respirar um ar puro? – Santiago foi ainda mais incisivo.

— É proibido se cansar agora? – retrucou indo em direção à mesa, pegando a garrafa d’água.

Santiago por sua vez nada respondeu, sabia que se falasse algo poderiam ficar a noite toda discutindo e não queria se cansar por pouca coisa.

— Podemos voltar a nossa refeição Mary?

— Sim claro. – Respondeu enquanto se acomodava na cadeira.

— Me fale de seus pais. – Perguntou enquanto também se sentava.

— Não quero falar deles agora. Não estou bem.

— O que aconteceu?

— Não aconteceu nada. Apenas não estou me sentindo bem, somente isso.

— Você está estranha Mary.

— Eu, estranha?

— Sim, estranha. Ao chegarmos parecia tão elétrica, tão viva. Agora parece que esteve de frente com a morte. – disse Santiago enquanto pegava nas mãos da moça.

— Você esta inventando coisas. Apenas acho esse lugar um tanto quanto estranho, apenas isso.

— O restaurante estranho?

— Não o restaurante, mas tudo nessa cidade.

— Porque diz isso apenas agora?

— Estou apenas dizendo o que acho. Tudo aqui é estranho. – dizia a psicóloga com a voz tremula; olhos murchos e suando frio.

— Alguma coisa aconteceu, tenho certeza disso.

Mary desviou o olhar e começou a tomar o restante do vinho que estava em sua taça, juntamente com o resto de pato em seu prato.

— Vamos terminar de comer e ir embora, por favor, Santi.

— Não estou sendo uma boa companhia para a senhorita?

— Não tem nada haver com você Santiago, apenas quero ir-me.

Ela nem mastigava mais a comida, colocava na boca com o auxilio do garfo e engolia rapidamente, em uma tentativa desesperada de se livrar daquela comida e ir embora daquele lugar. Tudo o que acontecia com ela deixava-a um tanto inquieta, porém não poderia dizer nada para Santiago. Primeiro que talvez o rapaz nem acreditasse nela e depois nem conhecia realmente quem era aquele rapaz, seu colega de trabalho.

— Terminei Santiago! Podemos ir agora. – Disse Mary levantando-se da cadeira e pegando sua bolsa.

— Ei! Calma mocinha. Eu ainda não terminei de comer.

— Temos que ir embora, rápido!

— Porque toda essa pressa? Isso era para ser um jantar romântico. Onde esta todo o romantismo Mary?

— Esquece, vamos embora, agora!

— Espere, tenho que retornar ao toalete. – disse Santiago, tentando esconder a cara de dor. Mary não sabia, mas ele tinha um grave problema de bexiga. Nunca disse isso para mulher alguma, talvez tivesse medo delas se desinteressarem.

— Novamente ao toalete?

— Por favor, me espere.

Assim que Santiago foi ao banheiro, ela sentiu receio de ficar sozinha. Passou as mãos nos cabelos e discretamente começou a lentamente se dirigir ao banheiro. Assim que se aproximou da porta, olhou para os lados e adentrou, dando de cara com Santiago.

— Querendo me espionar mocinha?

— Não é nada disso que você esta pensando Santiago. – respondeu Mary gaguejando.

— Vamos para o carro. – retrucou Santiago pegando no braço esquerdo dela e arrastando-a para o veiculo.

Ele abriu a porta do carro e colocou a moça em seu interior. Fechou a porta e entrou também, ligando o carro e voltando par ao hospital.

— Conversaremos seriamente no hospital! – gritou Santiago enquanto arrancava o automóvel e sintonizava em uma rádio. Quando finalmente encontrou a estação que queria, começou a cantar com o som no ultimo volume: — We all live in a yellow submarine, Yellow submarine, yellow submarine! We all live in a yellow submarine, Yellow submarine, yellow submarine.

Para Mary, toda aquela cantoria era algo perturbador. Não gostava nenhum pouco de Beatles, e ter que ficar ouvindo aquela música, naquele volume alto, com alguém desafinado cantando, além de estar apavorada e com Santiago bravo, era uma das coisas mais terríveis que poderia acontecer naquela noite que deveria ser quase perfeita, depois da morte daquele paciente no hospital.

Porém para ela parecia que nunca ia passar aquela angustia. Toda vez que uma música terminava, logo outra era tocada, sem ao menos um misero descanso para seus pobres ouvidos.

Alguns minutos após saírem do “Prato de Arroz”, avistaram o grandioso Hospital alguns metros à frente. A lua apareceu novamente, majestosa e brilhantemente linda, como nunca estivera no céu. As estrelas pareciam ainda mais brilhantes, alguns planetas podiam ser vistos sem maiores dificuldades e toda aquela nevoa havia desaparecido. O grande Hellingly estava iluminado, porém continuava com aquele velho aspecto tenebroso.

Ao se aproximarem do portão, Santiago pisou bruscamente no freio, desligando o rádio e apontando o dedo para a cara da psicóloga.

— Agora você vai me dizer que droga esta acontecendo aqui?

A Outra Face do MedoWhere stories live. Discover now