Capitulo 33

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Natasha

Dizem que nada fala mais alto que o instinto de sobrevivência, ficamos cegos, surdos e mudos para quais quer sejam os valores ou princípios que nos foram ensinados. O foco está apenas em manter-se vivo.

Com um filho a caminho não tive muita escolha, e diria que estou um pouco arrependida por ter sabotado o carro de Judith. Obviamente ansiava pelo seu sumiço, mas nunca pensei que seria pelas minhas próprias mãos. 

Foi mais fácil do que pensei, aliás, quem desconfiaria de uma mulher grávida e sozinha?
Patrick me avisou o momento em que Judith deixou a empresa, aparentemente triste e chorosa. Vulnerável. A hora perfeita para agir.

Ela não pareceu perceber que estava sendo seguida, e tudo estava caminhando perfeitamente bem. Judith estacionou o veículo e saiu do mesmo secando as lágrimas, a curiosidade em saber o porquê do choro deixou-me pensativa por um bom tempo.

Para ser sincera, eu não fazia ideia do que fazer. Nunca soube muito sobre carros e freios, apesar de ter tido uma breve explicação de Patrick na noite passada. Felizmente a insegurança não me deixou recuar, abri a porta do carro e fui em direção ao Jaguar XJ vermelho.

-Belo carro.-pensei alto admirando o automóvel.

O estacionamento vazio e meu coração a milhão, me abaixei a altura do pneu esquerdo e retirei um alicate da bolsa discretamente. A todo instante minha mente trabalha lembrando das instruções de Patrick.

FLASHBACK on:

-É mais fácil do que parece, acredite.-ele diz com uma caneta em mãos.-Você só precisa cortar a mangueira de freio perto da roda.

-E como vou saber que estou cortando o cabo certo?

-Você não vai, mas qualquer dano que faça já é uma chance de falha no veículo.-Patrick comenta dando de ombros.-Lembre-se de não fazer parecer um corte, se houver alguma análise da perícia as coisas podem ficar bem feias.

FLASHBACK off

-Ok, Natasha. Se concentre.-falo levando a mão abaixo da lata do carro.

Alguns segundos tateando as peças ainda quentes e logo encontro o que deduzi ser a mangueira de freio. Aperto o alicate diversas vezes para que mastigue a borracha do objeto, assim evitando um corte perfeito.

Foi muito mais trabalhoso do que imaginei. O medo de ser pega já estava me fazendo suar frio, mas em alguns minutos me retirei do local o mais rápido que pude.

Foi impossível pregar os olhos durante a noite, a todo momento torcia para que tudo tivesse dado certo e não via a hora de ligar a televisão para ver os noticiários. O dia mal amanheceu e pulei da cama indo direção a sala de estar. Tudo estava como no dia anterior, e então notei que Patrick não havia dormido em casa.

Me sentei no sofá principal e abracei meus joelhos por alguns segundos, pensei em Christopher, no meu bebê e em todas as coisas boas que viveremos juntos daqui pra frente. Sorri ao notar as primeiras marcações da minha barriga na camiseta amarrotada, estou ansiosa para conhecer o seu rostinho.

Tateio o controle remoto ao lado e ligo a televisão aumentando um pouco do volume.
O jornal local se iniciava justamente naquela hora, e a ansiedade se tornou imensa. Algumas reportagens banais e eu já estava desistindo de acompanhar o programa, até que seu estimado nome foi citado.

"Judith Evans, filha do falecido milionário Mark Evans, sofre acidente mas escapa com vida. A empresária estava embriagada, e foi levada à delegacia para prestar depoimento..."

Senti o meu corpo inteiro se arrepiar, minha cabeça gritava com tantos pensamentos de uma só vez. Minha garganta estava mais seca a cada segundo, e engolir a própria saliva já se tornara minha maior dificuldade.

Não será tão simples enterrar o corpo de Judith Evans e disso tenho certeza, talvez seja a hora de colocar em prática o plano B.

Christopher

A primeira noite sozinho desde a chegada no México. Sinto falta de Natasha e até mesmo de suas birras, embora tenhamos muitos defeitos nos amamos e nada mudará o que sinto por ela.

Pedi ao Patrick que a hospedasse em sua casa durante os 3 dias de sua estadia em Seattle, e também que a recebesse na cidade. Fico feliz que depois de tanto tempo sua mãe tenha repensado e aceitado vê-la.

A chuva caia amenamente no fim da tarde, depois de um dia entediante decidi telefonar para Patrick, apenas para saber como estavam as coisas.

Ligação on:

-Senhor Vélez.-ele atende educadamente.

-Como estão as coisas por aí?

-Bem.-Patrick diz um pouco relutante.

-E Natasha? Onde ela está?-altero o tom de voz devido à preocupação.

-Em casa.

-Patrick, está tudo bem?-questiono após um bom tempo em silêncio.

Não obtenho resposta alguma, apenas alguns chiados são ouvidos. O que me pareceram correntes se arrastam causando um barulho agudo.

-Patrick, o que está acontecendo?-a altura em minha voz entregava o sentimento de desespero.

Mais chiados e logo uma respiração ofegante é o principal som do outro lado da linha.

-Vélez, quanto tempo!-uma voz masculina fala.-O Patrick está um pouco...ahn, ocupado no momento. Quer deixar recado?

-O que está acontecendo?-grito impaciente.-Exijo que passe o telefone para o Patrick imediatamente.

-Você não está em posição de exigir, me desculpe.-o homem diz rindo.

Em minha memória busco o timbre aparentemente conhecido, o sotaque e a forma de pronunciar as palavras. Era Jackson Wang, com toda certeza era ele.

-Desembucha Wang, o que você está fazendo com o Patrick?

-Droga, você me descobriu. O que farei agora?-Jackson debocha fazendo o meu sangue ferver.-Patrick, conte ao Vélez sobre o nosso passeio de horas atrás...

O aparelho parece ser afastado e logo voltado para Patrick. Alguns gemidos baixos e a respiração descompassada me alertaram de um perigo, um perigo que Natasha provavelmente também está correndo.

-Anda Patrick, não seja tímido.-Wang fala irônico.-Parece que ele não quer falar com você, Christopher.

-Seu desgraçado! O que você fez com ele?

-O que fazemos com traidores.

Ligação off

A ligação se encerrou antes mesmo que eu pudesse implorar para que não toquem em Natasha. Eu faria qualquer coisa por ela, e nesse exato momento qualquer segundo perdido pode valer a sua vida.

Preciso voltar para Seattle imediatamente.

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