A porta da cozinha se abre, fazendo Mark calar a boca por um instante. Ele está enchendo os meus ouvidos sobre como tem interesse em abrir um floricultura e assim poderia me presentear com uma flor diferente a cada dia.
Digno de umas respiradas fundas e tentei não dar muita bola enquanto preparava minha vitamina de banana com aveia. Mas não adiantou muito ficar quieta, porque Mark sempre quer ouvir a minha opinião e a minha voz. Eu gosto da sua voz, Crystal, é mansa.
Não tenho tanta certeza disso. Ainda consigo ter uma voz mansa com ele sendo tão falador?
— Boa tarde, galera — a voz do meu irmão entrando na cozinha é um alívio. Ele não gosta de Mark e acredito que o sentimento seja recíproco. — Cadê o nosso pai, Crystal?
— Não sei, não tem ninguém em casa — balanço a cabeça, vendo o jeito que ele está vestido, de terno e tudo, então dou um sorrisinho. — Para onde você vai?
A última vez em que vi Derick arrumado assim, foi para o seu casamento. Normalmente, ele anda despojado, informal e só o farrapo – o que faz com que Rachel, sua esposa, brigue com ele na maioria das vezes.
— Mark, acho que vi seu pai chegando lá fora — meu irmão informa, ajeitando a gravata. Para quem não tem o costume de usar a peça, até que ele parece familiarizado.
Meu amigo se levanta, aparentemente curioso com a aparição do pai, então pede licença para ir verificar.
Derick abre um sorriso de canto, me fazendo estreitar os olhos.
— O pai dele não está lá fora, está? — pergunto.
Meu irmão ri, puxando uma cadeira para se sentar.
— Não, mas eu queria falar com você, a sós.
— O que houve? Cadê a Rachel?
— Ela ficou em casa. Mas, escute, estou indo me encontrar com Pedro Smith — Derick conta, me fazendo prender a respiração por um segundo e focar totalmente nele. — Aceitei vender as minhas terras de Felliciona* para ele.
— Você o quê? — meu choque é automático e visível. — Por que você vai fazer isso?
— Porque com o valor eu posso comprar outro lugar para viver, um maior, enquanto Rachel e eu alugamos nossa casa. Assim, teremos uma vida tranquila e poderemos ter nossos bebês. Você sabe que ela não quer engravidar até que tenhamos estabilidade.
É nada mais que intrigante ouvir meu irmão dizer que vai vender suas terras de maior tamanho. Foi um presente de casamento do nosso pai, e é de lá que Derick tira a sua renda, plantando nas terras férteis.
— Rachel concordou com isso? — quero saber.
— Sim, ela achou uma ótima ideia. Nossa casa é pequena e as terras não davam o suficiente. Com o valor que Pedro ofereceu, conseguiremos conciliar tudo e ainda vai sobrar — ele dá um sorriso animado. — Eu vim para contar ao nosso pai, mas já que ele não está — Derick se levanta —, vou informar apenas na volta.
— Quando foi que Pedro te instigou a vender suas terras? — pergunto, curiosa.
— Ele me ligou ontem pela tarde. Marcamos um café e conversamos. Pedro quer um vinhedo só dele, além dos que tem na fazenda de nosso pai — ele balança a cabeça. — Talvez ele queira um império de vinhos. Não acho que dinheiro é problema para que consiga o que quer.
— Nem lábia, né? Porque te convenceu a se desfazer das terras que foram presente de casamento do seu próprio pai.
Meu irmão fica pensativo, mas então contesta:
— Não tenho apego material, Crystal. E acho que nosso pai me apoiaria, porque ele sabe o quanto quero deixar Rachel feliz.
Eu fico olhando-o, achando-o romântico e ao mesmo tempo doido.
Pedro Smith quer um vinhedo só seu? Ele quer fazer das terras de Felliciona um vinhedo? Mais um? O que ele vai fazer com tanta uva? Vinhos. Sim, mas tantos?
— Eu preciso ir — Derick avisa quando ouvimos os passos de Mark voltando. — Eu vou dizer tudo para nosso pai, então, por favor, bico fechado.
Eu assinto. Não contaria mesmo que ele me pedisse. Seria constrangedor dizer que meu irmão está vendendo as terras que lhe foram dadas como presente de casamento. Derick diz que não tem apego material, mas acredito que meu pai tenha um laço sentimental.
— Acho que seu irmão se enganou — Mark diz, voltando a sentar do meu lado quando ficamos a sós de novo. — Não tem ninguém lá fora.
— É — concordo —, talvez ele tenha se enganado.
E se eu perguntasse? Não, sério. Eu poderia perguntar, profissionalmente, para Pedro o que ele pretende e o que está acontecendo em sua vida para que queira atirar para todos os lados em busca de mais vinhedos se os que tem para produção já são suficientes.
Pode ser que seja uma boa ideia. A melhor ideia. Se eu treinar algum tempo, me concentrar, pode ser que eu não fique sem voz perto dele. Eu consegui encará-lo, então falar é o próximo passo.
Só espero que ele não respire fundo de exasperação e me deixe no vácuo.
— Podemos ir lá para a minha casa assistir filme? — Mark pergunta e eu o olho, dando um sorriso.
— Não, Mark, obrigada, tenho coisas a fazer. Pode ficar à vontade, preciso ir ao meu quarto.
Deixo meu amigo na cozinha e vou ao meu quarto, empolgada com meu auto treinamento de resistência a Pedro Smith.
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Eu tô rindo do Mark
Só leva fora, pior que eu 😂
Maldade com o coitado
*Amores mio, os nomes que vou usar serão todos fictícios
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Às Escuras do Amor (NA AMAZON) #5
RomansaO amor tudo cura? Pedro não sabe. Ele não está a fim de pensar no amor quando a culpa o está consumindo todos os dias desde aquela noite da festa, onde a sua vida pareceu ser retirada de seu domínio em um piscar de olhos.