Capítulo 59: Quem você vê?

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A primeira hora de caminhada foi terrível pra mim, devido ao meu estado. Meu tornozelo doía a cada passo e minha cabeça ainda incomodava, latejando quando eu tentava acelerar o passo. Felizmente, Isaac tinha falado a verdade, depois de uma hora eu já me sentia melhor. A febre tinha ido embora e eu conseguia pelo menos andar, mesmo que muito mal.

—O que te fez pensar que ele ia nos ajudar? —Indaguei, olhando para frente, porque Mia estava seguindo pela trilha na minha frente, tomando cuidado para não ir rápido demais por minha causa.

—Não sei, mas não tinha muita opção. —Ela deu de ombros, me lançando um olhar cauteloso por cima do ombro. —Fiquei realmente com medo de você morrer, Zaia, além do fato de que eu ficaria sozinha aqui.

—Eu sei. —Engoli em seco, sabendo que não conseguiria sobreviver ali se estivesse sozinha. —Isaac é... legal.

—Acha isso mesmo depois de um deles quase devorar a gente? —Mia indagou, soltando uma risada amarga, enquanto eu comprimia os lábios.

—Ele nem chegou perto disso, graças a sua excelente execução de fuga. —Afirmei, soando um tanto sarcástica, o que fez Mia soltar uma risada e negar com a cabeça, me arrancando um sorriso. Pelo menos o clima já não estava mais tão sombrio entre nos duas.

—Se eu ia para o chão, nada mais justo que levar você junto.

—Você está certa. —Falei, ainda sorrindo, antes de ficar séria. —Quem você vê? Digo, quando olha para o Isaac?

—Ninguém importante. —Ela foi rápida em responder, tentando fugir do assunto. —Queria pelo menos ter alguma coisa pra comer aqui.

—Ei, eu sei que é alguém importante. Literalmente vemos a pessoa mais importante pra nós. —Falei, tentando chegar ao lado dela, enquanto fazia uma careta com a fisgada que senti no meu tornozelo. —Tudo bem se não quiser falar. Mas estamos aqui e...

—Eu vi o David. —Mia não esperou que eu terminasse de falar, soltando aquela informação pra cima de mim. O baque foi forte o suficiente para eu ficar sem fôlego, além de sentir uma pontada amarga no coração. —Esperava qualquer um, mas vi ele. Mas acho que eu não deveria ficar surpresa, já que ele salvou a minha vida, mais de uma vez.

—Mais de uma vez? —Olhei pra ela com as sobrancelhas erguidas, me perguntando o que aquilo queria dizer.

—Não conheci meus pais. Não faço a menor ideia de quem eles eram. Fui deixada no Chalé Azul dentro de um cesto, em pleno inverno. David quem me encontrou. Eu deveria ter sido levada para a cidade, para uma das casas que recebem órfãos. Mas ele convenceu Amélia de ficar comigo. —Mia parou de falar, puxando o ar com força. Vi a pequena lágrima que escorreu da bochecha dela. —Ele não era como um pai, porque ele não agia assim. Ele cuidou de mim, é claro, mas era mais como... como um protetor. Um padrinho.

—Mia, eu sinto muito. —Falei, sentindo um nó se formar na minha garganta, porque não sabia que a relação dos dois era tão profunda. Mas aquilo explicava porque David não hesitou um segundo antes de se sacrificar por ela. —Eu não imaginava que vocês dois tinham uma relação assim.

—Isso era mais entre quatro paredes, sabe? David gostava de agir como o guerreiro e treinador quase o tempo todo. —Mia explicou, com um tom de voz amargo. —Tentei sempre dar orgulho pra ele, mas acho que falhei em muitos momentos.

—Isso não é verdade. Aposto que ele se orgulhava muito de você. —Afirmei, abrindo um sorriso dolorido, porque estava doendo pra mim falar sobre ele e agora eu sabia que estava doendo em Mia mais ainda. —Você é a pessoa mais certinha que eu conheço. Não fez nada para que ele não se orgulhasse de você. Até aqui, nesse lugar, ele estaria orgulhoso por você estar sendo forte.

As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1 Onde histórias criam vida. Descubra agora