Começamos a nadar para o fundo, na direção que a espada estava. A respiração estava presa na minha garganta, enquanto eu sentia minhas roupas ficarem ainda mais pesadas, assim como a espada nas minhas mãos. Ousei olhar para trás, fazendo várias bolhas de ar na água quando soltei uma exclamação com os lábios.
Havia um rastro de sangue pela água, saindo diretamente da mordida na minha perna. Mia arregalou os olhos quando olhou para trás e também viu isso, parecendo assustada. Fiz um sinal pra ela para que continuássemos nadando, antes de sentir a água tremular ao nosso redor, junto com o barulho abafado de algo nadando na nossa direção.
Nadamos mais rápido para o fundo, até algo passar nadando no meio de nós duas, jogando Mia para um lado e eu para o outro. Meus cabelos tamparam a minha visão, mas ainda conseguir ter um vislumbre de braços e cabelos verdes. Quando puxei meu cabelo, tentando voltar a nadar, vi mais delas aparecendo.
As sersis se pareciam com sereias, com uma cauda mais longa e parecendo ser repleta de espinhos. Em vez de dois braços, elas tinham quatro, com unhas que pareciam mais garras afiadas. A boca mal se fechada com a fileira de dentes pontudos que saia pra fora. Eram completamente verdes, assim como seus cabelos gosmentos.
Mia criava esferas de luz e mandava na direção delas, enquanto eu movia minha espada sempre que uma tentava se aproximar mais de mim. Mas elas nadavam rápido demais, a ponto de eu ver o sangue e sentir a dor muito antes de perceber que uma delas havia conseguido me alcançar, lançando as garras no meu braço até rasgar minhas roupas e acertar minha carne, fazendo mais sangue manchar a água.
A boca de uma delas se cravou na minha perna, me fazendo abrir a boca para gritar, sentindo a água se entalar na minha garganta quando a engoli. Senti meu corpo sendo puxado para o fundo quando ela soltou minha perna e me agarrou, nadando rápido demais para que eu conseguisse ver alguma coisa, já que meus cabelos tampavam a minha visão.
Quando consegui ver, ela estava me levando praticamente na direção da espada, sem ter ideia de que era aquilo que eu queria. Deixei meu corpo leve, permitindo que ela me puxasse para o fundo. Quando estávamos perto o suficiente da espada, girei a minha e cravei no ombro dela, fazendo-a atravessar para o outro lado, manchando a água com um tipo de sangue verde, antes da sersi grunhir e me soltar.
Meu corpo bateu contra as pedras do fundo, fazendo areia se levantar e impedir que eu visse o que estava ao meu redor. As garras da sersi se afundaram no meu braço quando ela voltou, parecendo furiosa, até que eu puxei minha espada e lancei em direção a ela, mesmo que meus movimentos fossem lentos por conta da água. A lamina atravessou seu corpo, fazendo aquele sangue verde se misturar com o meu e com a areia ao nosso redor.
A sersi desapareceu, enquanto eu girava a procura da espada dos deuses, sentindo que estava prestes a desmaiar ali sem ar, com cada parte do meu corpo queimando onde elas haviam me acertado. Levei um susto quando mãos se fecharam no meu braço, antes de reconhecer Mia e ver que ela estava tentando me puxar pra cima.
Vi o reflexo prateado da espada na outra mão dela, enquanto nadávamos pra cima. Algo passou nadando rapidamente ao meu lado, quase jogando meu corpo contra as pedras, se Mia não tivesse me segurado. Quando olhei, vi as sersis nadando para longe, enquanto algumas sereias iam atrás dela. Sereias de verdade.
Eu estava quase perdendo as forças quando meu rosto saiu da água e eu cuspi tudo que havia engolido, antes de puxar o ar com força para dentro de mim, sentindo minha cabeça zonza. Mia me puxou até as pedras, me ajudando a sair de dentro da água, antes de cairmos exaustas no chão.
Olhei para Mia para ver como ela estava, observando que suas roupas também estavam rasgadas, assim como seus braços e pernas. Abri a boca para perguntar algo, antes dela se levantar rapidamente, parecendo assustada, me puxando de forma brusca para ficar de joelhos.
Meu sangue gelou dos pés a cabeça quando vi que o rastejador ainda estava ali, nos esperando, junto com outros quatro rastejadores, que pareciam ser tão maiores quanto ele. O medo abriu um buraco no meu peito, enquanto eu sentia Mia tremendo atrás de mim.
—A esfera no seu bolso. —Mia sussurrou, com a voz saindo trêmula e assustada, enquanto eu engolia em seco, sentindo meus músculos paralisados.
Ergui minha mão muito lentamente, parando quando a cabeça deles seguiu o movimento, o que fez a respiração se prender na minha garganta. Pisquei meus olhos rapidamente, tremendo quando eles rosnaram e grunhiram, se aproximando mais de nós duas, como se estivessem nos cercando.
Precisei tomar uma decisão muito rápida, porque sabia que não tínhamos outra chance. Mia me empurrou para o lado quando eles saltaram na nossa direção. A esfera caiu do meu bolso quando tentei segura-la, soltando um grito que ecoou por todo vale quando os dentes do rastejador se cravaram no meu ombro e suas garras me seguraram contra o chão.
Mia gritou atrás de mim, sendo arrastada para o inicio da floresta. Tentei me debater, sentindo meus olhos se encherem de lágrimas pela dor intensa que eu estava sentindo, que fez minha visão escurecer subitamente. Mas ainda consegui reconhecer o enorme dragão branco que descia sobre nós, assustando os rastejadores.
Misty devorou um dos rastejadores com uma mordida só, enquanto o que estava sobre mim me soltava e tentava correr de volta para a floresta. Agarrei a esfera, me arrastando até onde o corpo de Mia estava caído. Só consegui alcançar a mão dela, antes de relaxar quando surgimos do lado de fora daquela caverna, onde Raven havia nos deixado.
—Nossa... —Escutei a voz de Raven, enquanto fazia uma careta pela sensação agonizante que eu estava sentindo naquele momento. —Vocês duas estão...
Raven parou de falar quando soltei um grunhido de frustração, lançando a espada nos pés dele. Aquela maldita espada que quase havia matado Mia e eu. Ele se sobressaltou com o meu movimento repentino, antes de eu tossir contra a gama, cuspindo o sangue que se acumulava na minha boca.
—O que é isso? —Raven se abaixou e pegou a espada dos seus pés, franzindo a testa em confusão. —Essa não é a espada dos deuses. É só uma das espadas celestiais.
Cai de lado na grama, erguendo o rosto para encarar Raven, enquanto lágrimas escorriam pelas minhas bochechas, pela dor que eu estava sentindo por todo meu corpo. Cada mordida e rasgo na pele latejando como se tivessem me partido ao meio. Mia nem mesmo se movia no chão, parecendo estar com dificuldade para respirar.
—O mapa nós levou até ela. —Falei, sentindo vontade de vomitar quando olhei para o meu ombro, me deixando cair no chão, porque só queria fechar os olhos e parar de sentir dor. —Não sei quem te disse que a espada dos deuses estava aqui, mas mentiu pra você ou se enganou.
— O que faremos agora? —Max indagou, chegando ao lado de Raven, que encarava a espada como se alguma coisa estivesse errada.
—Vamos para o acampamento. —Raven afirmou, jogando a espada para Max, antes de caminhar na minha direção. —Precisamos de uma bruxa. As duas vão precisar de cuidados.
—Por que não deixamos elas aqui pra morrerem? Não vão fazer falta mesmo. —John exclamou, enquanto Raven se abaixava ao meu lado e me pegava no colo com cuidado. Gritei por conta das fisgadas de dor por todo meu corpo, ficando sem ar e quase desmaiando.
—Pegue-a. —Raven mandou, indicando Mia com a cabeça, o que fez John resmungar um palavrão. —Com cuidado. Não quero que ela se machuque mais.
—Tarde demais pra pensar nisso, não acha? —Max soltou uma risadinha ao dizer aquilo, enquanto Raven lançava a ele um olhar que poderia reduzi-lo a cinzas.
Antes que os três conseguissem nos tirar dali, uma voz chamou pelo nome de Raven, fazendo-o girar para encarar a floresta atrás de nós. A respiração se prendeu na minha garganta quando eu encontrei Aurora ali, junto com um grupo de falesianos que eu não conhecia. Mas o que mais fez meu coração disparar, for encontrar Percy, Margo e Sky ali.
Continua...
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As Crônicas de Scott: A Profecia / Vol. 1
FantasíaLIVRO 1 (AS CRÔNICAS DE SCOTT) Dois mundos divididos por uma barreira mágica. Arcádia, uma terra cinzenta e sem vida, onde os humanos lutam para sobreviver todos os dias, já que a fome e a miséria andam lado a lado com eles. Falésia, um mundo repl...