Prólogo

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Inesperadamente a campainha tocou e o som estridente se espalhou pela casa. O horário tão inapropriado não era o mais intrigante. Quem estaria a me procurar? Eu acabei de me mudar! 

Meio receosa, abandonei meu café da manhã sobre a bancada da cozinha e caminhei apressada até a porta da entrada. Pelo olho mágico, encarei uma senhora baixinha. Em suas mãos uma não tão pequena caixa de papelão e ao seu lado, um enorme cachorro aparentemente inquieto. 

Antes de abrir a porta, suspirei ruidosamente e tratei de pôr um sorriso nos lábios. 

— Bom dia, em que posso ajudá-la? — Tentei o meu melhor, mas a senhora foi bem mais simpática e sorridente que eu. 

— Muito bom dia, minha jovem! — Ela tem um largo e brilhante sorriso nos lábios. Uh! — Vi que acabou de se mudar. Trouxe um presente de boas vindas. Eu mesma que fiz. — A senhora me ofereceu a caixa. Pensei um pouco antes de aceitá-la, mas o fiz. 

— Obrigada... — Agradeci meio confusa. Será comum por aqui? — Eu te convidaria para entrar, mas está tudo uma bagunça lá dentro. — Uma grade desculpa, mas também a pura verdade. Não é como se fôssemos andar sobre caixas, mas... É um defeito meu, sou péssima com pessoas. 

— Não, não querida. — Ela sorriu amigável. — Deixaremos para um próxima vez. — Apontou ela. — Espero que seja muito feliz aqui. — E antes que a conversa pudesse se estender, ela me deu as costas e começou a caminhar lento e pausadamente. Seu cachorro não hesitou em acompanhá-la, um belo Golden Retriever dourado. 

— Certo... — Comentei sozinha e entrei ao fechar a porta. Curiosa, caminhei apressada até a sala de estar e coloquei a caixa sobre o sofá. Em seguida, a abri. — Mas... — Surpreendente! Um belíssimo vaso de cerâmica com detalhes em azul num fundo branco. Sem dúvidas fará parte da decoração. 

Depois de colocar o objeto sobre a mesinha ao lado do sofá onde apenas o telefone estava, voltei até a cozinha para terminar o meu café, que por sinal estava frio. 

Seguindo a minha rotina, vesti roupas esportivas e saí para uma corrida matinal enquanto uma playlist com músicas melancólicas alcançam os meus ouvidos pelo fone. Desconheço sensação melhor que a de sentir a brisa suave sobre o meu rosto enquanto me desligo do mundo e foco na batida da melodia de cada canção. Pena que descobrir essa maravilha há pouco tempo. 

Sou Lisa, tenho vinte e quarto anos e acabei de ver os meus últimos planos descerem pelo ralo enquanto a marcha nupcial se espalhava pela igreja lotada... Era para ser o dia mais feliz da minha vida, mas acabou se transformando num terrível pesadelo. Ele não estava lá, eu havia sido abandonada no dia do meu casamento e não houve nada capaz de me acalentar naquela noite. Eu me senti no fundo do poço.

Não há sensação pior do que ver os seus sonhos se desfazerem diante dos seus olhos. Custa acreditar e aceitar, claro, eu não era uma exceção. Eu só conseguia pensar nas promessas que ele me fez, nas palavras bonitas com que me despertava todos os dias, todas as trocas de carícias... Tudo havia sido em vão... Passou a ser uma grande mentira. Lá estava eu, inconsolável. 

Levei dias até processar um pouco de tudo, foi então que percebi que ali já não era o meu lugar. Eu não queria viver com o pensamento de que talvez nos esbarrássemos no supermercado, me deixava inquieta a possibilidade de encontrar com meus amigos ou qualquer outro convidado que assistiu aquela cena... Eu já não me sentia em casa. Foi então que decidi deixar tudo para trás, amigos, família e meus antigos sonhos... E Chicago parecia de longe a minha melhor opção, foi aí que saí da minha cidade natal no Arizona. 

A minha corrida matinal foi interrompida alguns minutos depois assim que recebi uma ligação. Sem nem encarar a tela do celular, atendi. 

— Minha menina, como você está? — Um largo sorriso surgiu em meus lábios assim que ouvi a voz da pessoa que mais amo no mundo, minha vozinha, Lilian. 

— Bem, vó. — Continuei correndo enquanto desvio de algumas pessoas que caminham pelas calçadas. — E como a senhora está? 

— Com saudades de você, querida. — Senti um aperto no coração. Vó Lilian passou a me criar quando eu tinha nove anos. Meus pais tinham acabado de assinar os papéis do divórcio e eu não me sentia bem com nenhum dos dois. Eles também não insistiram pela minha guarda já que estavam preocupados demais em construírem novas famílias... Da última vez que nos encontramos eu estava me formando no ensino médio e eles me encontraram no final de cerimônia, ambos ocupados demais com os novos filhos... 

— Também sinto sua falta, vó! — Afirmei. 

— Quando você vem me ver? Não me deixe morrer de saudade. — Ela pediu. 

— Irei te ver o quanto antes, vó. Eu prometo. — Apontei. — Por que está me ligando agora quando deveria estar no encontro semanal com suas amigas? 

— Eu não queria sair antes de falar com você. — Ela lamentou. — Me liga depois do jantar? 

— Ligo sim, vó. — Garanti. — Eu te amo! 

— Amo você também, querida. Se cuida. — Então encerrei a ligação e logo a melodia da canção alcançou as batidas irregulares do meu coração. 

Corri por mais alguns metros e decidi voltar para casa. Ainda na entrada, pude escutar um cachorro latir ao fundo. Me apressei ao entrar e caminhei até a porta da cozinha. No fundo do quintal, o cachorro que estava acompanhando a senhora mais cedo, está a latir para algo atrás da árvore. Receosa, caminhei até próximo do cachorro, mas ele correu para fora antes que eu pudesse alcançá-lo. Para a minha surpresa, vi o animal passar entre madeiras soltas na cerca. Preciso resolver isso o quarto antes. 

Ainda sem entender para o quê ele estava latindo, caminhei mais até me aproximar da enorme árvore e me assustei ao ver um corpo paralisado no canto. 

— Quem é você?! — Perguntei em bom som, mas não obtive resposta. Minha voz trêmula não deixava passar despercebido o meu nervosismo. — Eu vou chamar a polícia! — Continuei ao me aproximar, mas não obtive resposta. O corpo imóvel no chão, me fez sentir um calafrio.

Finalmente eu havia alcançado o corpo e então me dei conta de que se tratava de um rapaz alto e aparentemente bastante maltratado. Uma enorme barba, cabelo emaranhado, roupas sujas...

— Eu não posso ter um cadáver no meu quintal... — Sussurrei ao me abaixar diante do corpo. — Que ele não esteja morto... — Enquanto eu cruzava os dedos numa mão, usava a outra para buscar algum sinal de vida no homem. Com a mão próxima demais ao seu rosto, pude sentir levemente a sua respiração. 

— Me ajuda! — Um sussurro rouco e desesperado me alcançou assim que mãos gélidas e ásperas pousaram em volta do meu pulso. Não pude evitar o grito desesperado. — Me ajuda... — Naquele instante eu me dei conta de que estava numa fria e que não sofria do coração... Em qualquer outra circunstância eu estaria à beira de um infarto... 

Continua...   

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⏰ Última atualização: May 12, 2022 ⏰

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Desconhecido - Sam WinchesterOnde histórias criam vida. Descubra agora