Yellow Lenses | Seongjoong

Capítulo único

Cuidar dos interesses dos nossos vizinhos é essencialmente cuidar do nosso próprio futuro. — Dalai Lama.

Como fazia quase todas as noites após passar o dia inteiro fora de casa, Park Seonghwa estava na pequena sacada de seu apartamento com um pedaço de pizza na mão e seu fiel escudeiro, o telescópio amarelo que recebera dos pais como presente por passar no vestibular.

O estudante de astronomia — na verdade, de ciências, mas ele só se esforçava mesmo na parte que lhe era de grande interesse — era de Jinju, mas já estava vivendo em Seul por quase três anos desde que começou sua graduação na universidade.

Desde criança o garoto era completamente obcecado com qualquer coisa relacionada ciência, espaço, corpos celestes e o que mais chegasse aos seus ouvidos sobre aquela área tão fascinante para ele que era a astronomia — que muitas pessoas ainda confundiam com astrologia —, e nada mais justo que seguir na área quando as oportunidades vieram.

Ele até mesmo teve a oportunidade de fazer uma viagem aos Estados Unidos e estudar por um tempo no programa para jovens da NASA. Seonghwa nunca foi rico e nem nada próximo disso — aquele telescópio amarelo que ganhou com tanto esforço dos pais e levava para todos os lados sempre o lembrava disso —, por isso todas as oportunidades que surgiram em sua vida foram de grande ajuda.

Quando Seonghwa chegou à Seul, ele o conheceu.

O viu passar ao seu lado quando estava em um dos eventos da faculdade para os calouros. Mais tarde ele soube quem era Kim Hongjoong. O garoto baixinho com mãos estranhamente pequenas e fofas, dono de um olhar matador — para Seonghwa tanto no sentido ameaçador da coisa quanto no sexual — e um sorriso cativante, que tinha belos cabelos loiros, usava óculos e, a maioria das vezes que o viu depois, constatou que ele adorava boinas.

Naquela época Hongjoong já estava no segundo período de administração e embora seus departamentos fossem bem diferentes, era comum para Seonghwa vê-lo em qualquer lugar do campus, sempre rodeado por outras pessoas, ele nunca estava sozinho.

Pelos comentários que ouvia nos corredores da universidade, inúmeras pessoas de diferentes departamentos já ficaram com Hongjoong ou eram apaixonadas por ele. Seonghwa se considerou um entre esses últimos nos meses seguintes.

Era inevitável não se sentir atraído e tentado a se jogar no Kim. Ele tinha algo que fazia as pessoas não conseguirem ignorar sua presença mesmo que ele passasse bem longe de você. Seu sorriso delicado e malicioso ao mesmo tempo, derretia tantas pessoas pelo campus quanto um sorvete em dias muito quentes.

Quase um ano convivendo com uma paixão platônica pelo cara que nem sabia de sua existência, Seonghwa foi finalmente agraciado com algum tipo de dádiva da vida.

Em uma noite qualquer — depois de quase um ano vivendo em Seul — após ter chegado em casa, tomado um banho quente e jantado comida congelada, o Park estava na varanda varrendo a poeira fina da rua que nunca tirava. Foi nesse momento que, sem querer, ele esbarrou no telescópio amarelo que mudou de direção. Seonghwa largou o que fazia para ajustá-lo ao que estava inicialmente, mas seus olhos ficaram fixos em um ponto que não era o céu. Pelo menos não o céu estrelado que fazia.