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Lucifer estava a meio de uma crise existencial. Apenas não fugiu porque essa seria a única maneira de ter Chloe de volta.

Deus observou a envolvência e deu um olhar a cada um dos filhos. Por fim notou Maze que ainda agitava uma faca, a ela Ele deu um sorriso. Isso deixou-a desconfortável, mas não a demoveu.

Lucifer ainda estava de pé na mesma posição, Raphael ao seu lado. "Isso quer dizer o quê?" Pergunta Lucifer. "Depois de todo este tempo."

Deus olhou para o filho com um sorriso passivo de quem sabia mais do que queria partilhar. "Eu intervim muito antes." Diz Ele. "Algo não correu como Eu esperava."

"Então a Chloe é um milagre? Outro truque para me manipular?" Lucifer pergunta, a sua raiva subindo.

"Eu criei a Chloe para te entender, não para te manipular." Diz Deus calmo.

"Onde ela está agora?" Lucifer pergunta.

Deus caminha pela sala pensativo. "Ela está assustada e isolada. Lilith tomou conta do seu corpo." Deus suspira e olha para os filhos. "Temos uma situação complicada em mãos."

"Eu já reparei!" Lucifer é excessivamente rude.

"Onde está o corpo da Chloe?" Amenadiel pergunta.

"Não sei."

"Como não sabe Pai?" Raphael pergunta.

"A alma da Lilith é como um ponto invisível que mascara a alma e o corpo de Chloe. Eu apenas consigo ouvir os pensamentos da Chloe. E cada vez mais demónios na Terra." Deus aproxima-se da janela e olha. "Desculpa filho, mas não te sei dizer ao certo onde ela está."

~oOo~

Chloe aprendeu rapidamente que a sua alma não precisava de descanso. Enquanto o corpo que era dela dormia a sua alma trabalhava a 100%. Tudo era preto e ela sentia-se extremamente sozinha. Foi então que ela começou a pensar em Lucifer e em todo o tempo que eles viveram no inferno e na Terra. Na sua reflexão eles eram muito mais do que amigos, mas ainda assim não se consideravam um casal. Era algo no meio que parecia transcender qualquer ligação que ela experimentou.

Ela queria desesperadamente voltar para ele. Resolver casos com ele. Noites de jogos com Trixie e tacos. E quem sabe algo mais... algo de que ela apenas o ouviu se gabar. Tudo o que ela se arrependeu de dizer e não ter dito. Agora nenhuma dessas inseguranças faziam sentido. Ela devia ter dito mais cedo que o amava que o seu tempo no inferno foi suficiente para saber isso. De que o queria mais do que apenas para seu consultor. Que não se importava de ser sua Rainha. Mas o seu lado racional sempre prevaleceu. Como uma mera mortal poderia ter um relacionamento com o diabo, um anjo?

Por muito milagre que ela fosse, ela envelheceria, ela morreria e talvez ele não estivesse lá depois disso. Agora é tarde demais de qualquer forma.

~oOo~

"Filho!"

"Não quero ouvir!" Lucifer diz do quarto. Apavorado não apenas pelo seu Pai estar presente, mas também por causa de Chloe. Mesmo assim o Pai entra no espaço.

"Ela está em sofrimento e pensa em ti." Deus é franco pois não era seu objetivo mentir ou provocar ainda mais a ira do filho.

"Eu... quero saber onde ela está! Isso não me ajuda!" Lucifer diz desesperado à beira das lágrimas.

"Eu sou Deus, mas não sou Deus de tudo. O destino tem o seu próprio caminho não o controlo." Deus diz sentando-se na cama ao lado do filho. "Era suposto teres deixado o inferno há anos e conheceres a Chloe Decker... ela é um milagre, mas por uma boa razão. Nada foi manipulado depois disso. Eram as vossas escolhas. Eu sabia da tua frustração, ela ajudaria no teu desenvolvimento... era uma questão de tempo para deixares o inferno. Como não deixaste, Chloe sendo Chloe, foi longe demais e sem o teu apoio acabou por morrer."

Lucifer olhou para o pai atónico. Nunca na sua existência pensou ouvir essas palavras.

"Eu pedi aos teus irmãos para a trazerem de volta. Tu deverias ficar próximo então pedi a Amenadiel para te nomear seu guardião... foi aí que coloquei a minha mão pela segunda vez. Não fui eu que trouxe as memórias dela de volta, ela acolheu a tua energia e usou-a inconscientemente. As tuas asas respondem a ela depois da cura. Esse brilho é um efeito físico da vossa ligação que tu escolheste ter depois dela te pedir que não cortasses as asas." Ele fica mais próximo. "Elas podem te levar até ela."

"Podem mesmo? E depois? Como vou tirar Lilith? O Raphael é capaz? E o que vai acontecer com a Lilith quando sair?"

Deus suspira. "Só existe uma forma. Eu terei de matá-la filho é o preço a pagar pelo resto da humanidade."

Lucifer não a queria deixar ir e em consequência disso uma lágrima se perdeu no seu rosto. "E a vida da Chloe? A alma dela?"

Deus sorriu. "Haverá uma vida para além da morte para Chloe Decker. A vida é apenas uma passagem filho, sabes disso."

"Então é esse o plano? Profecias? Chloe como um brinquedo sem vida? Ela já morreu uma vez e acabou no inferno... agora voltou para a Terra para morrer novamente? Ela devia viver bem... uma longa vida e quando chegasse o dia... encontrar a sua casa na Cidade de Prata." Lucifer é categórico nas suas afirmações.

"Não fui eu que criei essa profecia... Amenadiel falou-me dela, acho que foi Lilith e as suas histórias. Ela tem os seus poderes."

"Então qual é o plano? Matar Chloe e salvar a Terra?" Lucifer olha para o Pai com desgosto, mas sabe que não tem forças para lutar contra a Sua vontade.

O Pai concorda com pesar. "Tudo tem uma razão!"

"Que razão? Ela tem de ficar e ajudar as pessoas, é o trabalho dela."

"Tal como o teu... diz-me que não há uma satisfação quando finalmente um caso é concluído."

"Tu tens me observado?"

"Claro, eu observo todos os meus filhos."

Lucifer não sabia o que dizer. A indiferença do Pai era praticamente um dado adquirido. Ele foi abandonado à Eras. "Este não é o meu trabalho? Eu fico feliz pela Chloe."

"Podes fazer o mesmo por eles no inferno." O Pai diz.

"Onde posso torturar? Viver em aborrecimento, como um ciclo."

O sorriso do Pai era novamente de alguém que sabia mais do que queria dizer. "Todos temos um propósito filho, acredito que encontrarás o teu."

Lucifer ficou confuso com as palavras do Pai. Os seus caminhos misteriosos eram muito confusos para ele. Ele queria respostas, mas tinha de encontrar Chloe primeiro.

"Mostra-me as tuas asas." O Pai pediu.

Lucifer quase que se sentiu violado pois as suas asas abriram imediatamente sem razão aparente. Desta vez as suas asas não brilhavam eram apenas de um branco puro. "Como..."

"Apenas brilham quando estão próximos..." Com isto Deus passou a mão pelas suas penas e soltou uma velha. "Está na hora de irmos."

A RainhaOnde histórias criam vida. Descubra agora