O Irmão Ogro VI

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Chorava muito.

- Você nunca vai estar sozinho.

Ele me abraçou. Um abraço terno, que me transmitiu uma paz enorme. Não era um abraço comum, nada comparado a todos os abraços que já tive na minha vida. Aquele abraço estava diferente, os sentimentos estavam diferentes. Me desvencilhei do abraço e continuei a me consolar sozinho, enquanto Bruno desceu para a sala.

Ia sentir muita falta do Marcos, mas eu sabia que faltava muita coisa pra nos completar como casal. Faltava um fogo, um prazer que eu não tinha com ele.

Reparei na minha aliança de compromisso e comecei a imaginar como seria um namoro a distância, sendo que junto com ele já não tinha amor. Fiquei sem graça de dizer que não queria continuar, logo decidi continuar.

Só parei meus pensamentos com Bruno chegando no quarto fazendo o maior barulho:

- Cara, já sei uma forma de te deixar felizão. Bora sair?

- Sério Bruno? Eu acho que prefiro ficar em casa, tô muito desanimado.

- Comigo tu não fica desanimado. Anda vestir uma roupinha melhor e vamos sair vai.

Nem retruquei mais, troquei de roupa e fui sair com ele. Fomos a pé mesmo. Caminhamos durante muito tempo até encontrarmos a menina que Bruno tinha ficado no clube. O passei ficou uma merda né. Ela colou com ele e, apesar de ele não dar muita atenção, ela não se tocava e continuava nos seguindo. As vezes até esquecíamos que ela estava do lado e ele contando sobre seus namoros no Rio de Janeiro, de como ele gostava do mar e em BH ele nem tinha como. Contei também das vezes que eu fui acampar com meus amigos e que foi uma alternativa pra falta de praia em Minas Gerais. Depois de um tempão a idiota se tocou e se despediu dele com um selinho.

Fiquei sem graça e ele percebeu, disse rindo:

- Tá com ciúmes do maninho aqui né?

- Mas está tão na cara assim?

- Que você tá bravinho? Tá sim. Mas liga não que eu não espalho. Sei que irmão mais novo não curte admitir que gosta do mais velho.

Aquela frase mudou meu foco do assunto. Na verdade, eu nem sabia que sentido que eu estava dando para aquele papo. De fato, era muito difícil explicar meus ciúmes, coisa de irmão né.

Andamos mais um pouco e ele contando que era difícil fazer amizades, porque as pessoas acham que por ele ser alto e forte ele tem um jeito grosseiro. Tive que rir da cara de sofredor dele:

- Ah tá. E quem disse que você não é assim Bruno?

- Eu tô dizendo porra. Não sou esse cara grosso que eu pareço não. Posso ser bem educado com quem merece.

- Então quando eu merecer você me avisa tá?

Rimos juntos e ele disse que precisava conversar com alguém:

- Cara, tô precisando falar mais sobre aquela parada lá, saca?

Fingi de bobo porque queria saber até onde ele iria:

- Sobre o que Bruno?

- Sobre aquela história lá de eu achar que tô virando viado.

- Podemos até falar, mas vamos esclarecer algumas coisas. Viado não é a melhor palavra. Fala gay que fica mais bonitinho.

- Já é então, acho que tô virando gay.

- Melhorou Bruno, mas por que você tá achando isso?

- Tô reparando num carinha sabe. Ele é legal pra caramba e tô curtindo ele demais, só que fico com receio dessa merda, nunca pensei num cara. Tá foda isso!

- Eu acho que entendo Bruno. Só acho que você tem que ter calma com você mesmo. Eu me aceitei super rápido, mas pra maioria é muito difícil. E se você tá realmente afim desse cara e acha que ele tá afim de você, vai atrás. Não deixa isso escapar por puro medo né.

- Vou pensar nisso maninho. Bora pra casa?

- Ah não. Vamos pra outro lugar, me arrumei tanto pra voltar em uma hora pra casa.

Ele me olhou de cima a baixo, começou a rir baixo e deu um sorriso de canto, completando:

- Realmente, tá bem gatinho pra ir embora agora. Vamos jantar então?

Ele me abraçou. Ele me elogiou e me abraçou. Ele me elogiou, me abraçou e eu corei. O que estava acontecendo comigo? Será que eu estava vendo meu irmão de forma diferente? Que palhaçada era essa? Fiquei estático com aquele abraço e Bruno ficou me olhando:

- Vai ficar paradão aí? Desistiu e quer ir pra casa man?

- Não, não Bruno. Só estava pensando umas coisas, mas era bobagem. Deixa pra lá. Vamos?

Fomos pra um restaurante e estávamos parecendo um casal. Credo. Eu estava pensando tanta coisa entranha ultimamente. Comemos e conversamos bastante. Ele estava mais atencioso, mais calmo. Acho que por entender minha situação de "perder" o Marcos. No meio jantar, nosso pai ligou pro Bruno e ele o tranquilizou dizendo que estávamos perto e juntos.

Continuamos lá naquele clima de irmãos em paz, até decidimos voltar pra casa. Bruno estava feliz e, por incrível que pareça, eu também. Era cruel pensar em estar feliz com Marcos na estrada, possivelmente sofrendo pela nossa futura distância, mas era assim que eu me sentia. Parece que estar bem com Bruno me fazia bem em todos os pontos da minha vida.

Chegamos em casa e subimos pro quarto. Fui tomar um banho e me assustei ao sair do banheiro e ver Bruno só de cueca sentado na cama. Que corpão tinha meu irmão! Ah, é: meu irmão. Não podia esquecer disso.

Ele percebeu que estava desconcentrado e veio em minha direção. Imaginei que aquele clima calmo ia acabar. Claro, ele estava certo. Imagina um irmão admirando o corpo do outro com um olhar de sensualidade? Muito sem noção.

Ele caminhou até minha cama e se sentou ao meu lado:

- Sabe que eu fico puto quando você faz essa cara de lesado?

- Sabe que eu detesto quando você fala grosso assim comigo?

- Foi mal maninho... esse é meu jeito de dizer que gosto de você velho.

Ai ai. Que engraçado. Quer dizer que ele se divertia ao me destratar. Mas confesso que eu adorava seu jeito malandro e carioca de falar comigo. Ele prosseguiu:

- Então, queria conversar mais contigo sobre aquela parada de eu tá virando via... quer dizer, gay.

- Manda Bruno.

- Tá. Tô afim desse carinha, mas também nem sei se ele tá afim de mim. Acho que sou muito escroto pra ele.

- Ah Bruno, vai bancar o inseguro agora? Para com isso né. Você é legal pra caramba. E se esse carinha não gosta de você é hora de você mostrar tudo que você tem de bom e conquistar ele então.

Ele ficou pensativo e eu sentia uma coisa estranha. De fato, ele estava apaixonado. Não havia visto Bruno assim por nenhuma das piriguetes que ele já havia pegado na minha frente, e não foram poucas. Ele se deitou novamente e eu continuei olhando pra ele de sunga.

Eu estava vendo ele de uma maneira diferente!

Ele estava deixando de ser o Bruno pentelho e se tornava um irmão incrível. Irmão! O peso desta palavra era o que me deixava mal.

Meu celular toca: Marcos.

Atendi rapidamente e minha alegria pelo papo com o Bruno se foi ao ouvir do meu namorado que ele já havia chegado e sua voz de choro já deixava claro o quanto estava difícil pra ele. Ele desligou minutos depois pois precisava dormir e disse um 'eu te amo' carregado de sentimento, que eu não pude retribuir.

Voltei pro quarto e lá estava ele do mesmo jeito. Daquele jeito que eu tinha gostado tanto de ver. Tinha que admitir. Ele era tudo que eu queria. Na verdade, tudo que eu sonhava ser. Achei que ele estava dormindo e parei ao seu lado. Ainda de pé, cheguei bem perto para ver aquele corpo maravilhoso.

Queria muito esquecer que ele era meu irmão!

O Irmão Ogro 1ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora