O Irmão Ogro X

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Meus pais me olharam com recriminação e eu não deixei de reparar a cara de espanto de Bruno. O jantar estava acabado. Ninguém mais disse nenhuma palavra. Todos na mesa estavam calados e eu pensava que talvez não tenha sido o melhor momento. Thaís tentou amenizar a situação:

- Então, Bruno, tá gostando da cidade?

- Claro Thaís, gostando muito. Principalmente de uma gatinha com um piercing no nariz do meu lado.

Nada é tão ruim que não posso piorar. Eles foram se aproximando e... se beijaram? Sim, e foi um beijão. Meu tiro saiu pela culatra. Eu que queria surpreendê-lo com a minha atitude e provar que eu era capaz, tive que ficar mal na situação. Além de imaginar o que aconteceria quando estivesse sozinho com meus pais, tinha que ver aquela cena. E não foi apenas um beijo. Eles seguiram para o sofá e continuaram trocando carícias. É, me ferrei!

Terminei de comer e ia subindo pro quarto quando escuto meu pai:

- Onde você pensa que vai Carlos?

- É... vou subir, escovar os dentes e dormir.

- Não, fica aqui. Daqui a pouco a gente vai ter uma conversa.

Tive que ficar calado aguardando o veredito dos meus pais na mesa de jantar. E o garanhão lá, se agarrando no sofá com minha melhor amiga, aliás, nem sabia mais se era.

Aquilo me torturava muito. Não sei se era impressão minhas, mas as vezes percebia seu olhar para mim, como forma de desafio. Que raiva.

Até que Thaís anunciou que estava tarde e Bruno saiu com ela, me deixando a sós com meus pais. Era a hora!

- Então Carlos – falava meu pai – você vai explicar que palhaçada foi aquela?

- Não tem palhaçada nenhuma pai. Eu decidi contar porque eu amo vocês e...

- Ama merda nenhuma. Se amasse não faria a gente passar essa vergonha. Daqui a pouco vai querer vestir as roupas da sua mãe e sair por aí.

Nossa, meu pai nunca tinha falado assim comigo. Aquilo estava me doendo demais.

- Pai, você não tá entendendo. Eu não disse que vou ser travesti, só disse que sou gay.

- Só? Você só é gay... Eu não sei o que é pior: se é você me contar isso ou esse seu ar de naturalidade. Palhaçada! Eu te criei pra ser homem, não pra ficar com homem. Por que você não é igual ao Bruno? Deve ser sua mãe que te mimou demais.

Minha mãe não disse nada. Continuou quieta, imparcial.

- Pai, eu posso ir pro quarto agora.

Ele nem me respondeu, apenas seguiu para a sala. Meu pai me odiando, minha mãe incrédula e o homem que eu amo (nem sabia mais) ficando com minha melhor amiga... porque desgraça pouca é bobagem. Subi, escovei meus dentes e me deitei. Queria era esquecer que aquele dia aconteceu.

Dormi em meio a algumas lágrimas que teimaram em cair.

Meu sono parecia tranquilo, até algo pingar em mim. E não parava. Uma mão acariciando meu rosto com firmeza. Uma mão grossa. Abri meus olhos devagar, tentando fingir estar dormindo ainda. Me mexi bem pouco e o ouvi dizer:

- Por que isso tá acontecendo? Por que eu curto tanto esse moleque? Cada dia eu amo mais. Que merda.

Abri o olho sem que ele percebesse. Bruno chorava. Mesmo assim eu não conseguia acreditar em suas palavras. No mesmo dia que ele tinha ficado com minha amiga com a clara intenção de me machucar ele dizia que me amava. No mínimo contraditório.

O Irmão Ogro 1ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora