O Irmão Ogros XV

147 12 1
                                    


Passei pela sala e minha mãe viu:

- Onde você vai assim Carlos?

- Mãe, vou atrás da minha felicidade. Mas eu volto, feliz!

Isso mesmo, eu ia atrás de Bruno!

Precisava tomar uma atitude, por mais que ele não quisesse. Eu poderia quebrar a cara e voltar a sofrer como antes, mas eu precisava tentar. Ia pagar pra ver.

Peguei tudo que eu precisava, comprei a passagem e algumas horas depois pousava no Rio de Janeiro. Achei tudo lindo, mas meu foco era Bruno e eu não iria me desviar disso. Tinha em mãos seu endereço, telefone, mapa, tudo que precisava para encontra-lo.

Estava disposto a tentar até as últimas consequências. Não ia desistir fácil, por mais que ele resistisse, eu sabia que ele me amava. Estava preparado até para encontra-lo com alguém, isso não me faria desistir.

O táxi demorava a chegar em Botafogo e eu estava cada vez mais ansioso, tanto pelo que eu ia encontrar, como pela conversa que eu imaginava que ia ocorrer!

Enfim, cheguei ao endereço. Paguei o táxi e desci com a certeza de que estava fazendo o que precisava fazer. Bati na porta e uma bela mulher, porém mais velha, atendeu:

- Olá. É... meu nome é Carlos. O Bruno mora aqui?

- Mora sim, eu sou Angélica, mão dele. Você é amigo dele?

- Na verdade eu sou irmão.

- Carlinhos? Nossa. Eu te vi tem uns 15 anos. Nunca te reconheceria.

- Pois é, nem lembro de você não, mas eu vim ver o Bruno, ele está?

Ela perdeu toda sua alegria ao me ouvir falar do Bruno. Me convidou para entrar e eu me sentei no sofá. Me ofereceu um chá e eu aceitei. Quando ela voltou, começou a contar:

- Então Carlinhos. Eu não sei o que tá acontecendo com o Bruno. Ele era de balada, estudava, mas saia sempre. Agora ele só fica em casa, trancado no quarto. Está comendo pouco. Estou preocupada.

- Eu quero falar com ele, quem sabe não posso ajudar.

Coloquei minhas coisas no cantinho da sala e segui com ela para o quarto de Bruno. Estava fechado. Ela bateu na porta, mas ele não disse nada. Decidi entrar. Ele estava vendo tevê, virado para ela e não viu que eu entrei:

- Mãe, eu quero ficar sozinho... Carlos?!

- Oi Bruno! Podemos conversar?

- Claro, entra aê!

Seu rosto de surpresa e felicidade me deram mais gás ainda pra continuar com tudo que eu estava pensando. Sua mãe avisou que iria ao mercado e nos deixaria conversar. Estávamos sozinhos:

- Não acredito que tu veio até aqui cara. Nossa.

- Gostou da surpresa?

- Muito. Nunca imaginei que você viria ficar comigo aqui.

Ele veio pra me beijar, mas não era a hora.

- Calma Bruno. A gente tem que conversar, lembra?

Ele acenou que sim com a cabeça sem tirar seu sorriso do rosto.

- Então, tenho que confessar que aquele bilhete e sua fuga me deixou bem chateado.

- Carlinhos, eu posso explicar. Eu demorei muito pra entender o quanto eu curto você, mas nós somos irmãos cara. Se nosso pai já estava grilado por você ser viado, imagina se ele soubesse de mim. Fora que você merece alguém que faça o que você merece e aquele playboy é bem melhor que eu. Então a melhor saída foi voltar pra cá e deixar você bem.

- Então você ainda acha que a melhor solução foi ter fugido de tudo, principalmente de mim?

- Não, de jeito nenhum. Eu não faço nada da minha vida desde que cheguei aqui. Pior que agora tô sem grana, sem emprego, sem você. Todo ferrado.

- Pelo menos eu estou aqui. Pode tirar da lista.

Demos um beijo e que beijo. Ficamos juntos por mais um tempo, nos beijando, trocando carinhos, sem dizer mais nada.

- Quer saber? Tá na hora de tomar uma atitude né. Eu tô te devendo isso Carlinhos. Vem cá.

Sua mãe estava na sala e nós nos aproximamos.

- Nossa, que bom que vocês fizeram as pazes.

- Pois é mãe. Na sua frente eu quero pedir pela terceira vez: Carlos, quer namorar comigo?

Como assim? A mãe dele não sabia o que dizer. O Bruno tinha tomado coragem e contado tudo a ela? Muitas perguntas na minha cabeça. Até que Angélica, chorando:

- O que você tá dizendo meu filho?

- É isso mesmo mãe. Eu tinha dito que estava triste porque briguei com o Carlinhos, mas foi mais que isso. Eu curto demais ele mãe. Eu amo esse muleque.

- Como irmão né?!

- Não mãe. Curto ele pelo carinha que ele é. Eu sei que é foda entender isso, mas...

- Mas nada Bruno. Você quer que eu faça o que? Abrace vocês dois e dê parabéns? Eu vou sair pra não perder a cabeça.

Ela bateu a porta e nem eu nem Bruno fizemos menção de ir atrás dela. Mas duas coisas ficaram claras: Bruno estava certo, nós íamos sofrer muito, mas o que ele havia feito mexeu comigo. De fato, ele tinha dado preferência ao que ele sentia por mim, em troca de ter estragado sua relação com a própria mãe. Por outro lado, eu me sentia um monstro. Tinha estragado sua relação com a mãe e provavelmente meus dias naquela casa estavam com os dias contados. Não ia demorar ela contar pros meus pais e aí sim começaria o inferno.

- Num fica pensando demais não Carlos.

- Como não pensar, Bruno? Eu não sei se fico feliz com o que você fez ou fico triste. Fico pensando no que estar por vir.

Ele segurou meu rosto e me pressionou:

- Como assim? Agora não é hora de dar pra trás não cara. Eu fiz isso porque eu percebi que não posso te perder. Agora quem precisa decidir é você: bora continuar com isso ou não?

- Bruno, eu saí do conforto da minha casa pra vir atrás de você, correndo o risco de você estar com alguma piriguete ou simplesmente me expulsar daqui. Preciso responder?

- Te amo cara.

Ele me beijou. Nós nos beijamos. Eu sabia que o tormento estava apenas começando, mas não podia reclamar. O que eu tanto cobrei foi atitude e isso ele teve. Fomos pra sala e ficamos juntos, calmos. Finalmente. Liguei para minha mãe e disse que estava bem, apenas para não preocupa-la mais.

Mas preocupado estava eu. Onde Angélica foi e o que ela faria depois de ter ouvido do Bruno que ele amava o próprio irmão?

Fomos comer alguma coisa e Bruno sempre brincando. Ele estava realmente feliz. O que ele tinha de contente eu tinha de preocupado. Isso foi um tapa na minha cara, que antes não entendia todo seu medo. Agora sim. Estava tão medroso quanto ele. Enquanto comíamos, Angélica chegou e foi direto para a cozinha.

- Mãe, você tá bem?

- Não Bruno, não estou. Eu não consigo engolir essa história. Aliás, eu vou colocar um ponto final nisso.

- Mãe, não adiante. Eu quero o Carlos e a senhora não pode fazer nada.

- Para de falar isso Bruno. Você tá confundindo o que tá sentindo. Até ontem você era "o galinha" do Rio, agora você tá me falando que além de viado quer ficar com seu irmão? É demais pra mim.

- Olha só. Eu respeito demais a senhora que me criou praticamente sozinha. Mas se continuar com esse assunto a coisa pode mudar de rumo.

O Irmão Ogro 1ª TemporadaOnde histórias criam vida. Descubra agora