Prólogo

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— Olá, mestre.

A voz doce me alcança antes que eu a reconheça em meio a outros pacientes, espalhados na sala espaçosa.

É um lugar bonito. Paredes claras, com quadros de natureza morta e grandes janelas que dão para um jardim florido. Pacífico, é a palavra que me vem à mente, enquanto meu olhar vaga através dos homens e mulheres de diferentes expressões. Alguns parecem perdidos em suas próprias mentes, os olhares ausentes. Outros conversam entre si. Em algum outro ambiente, poderiam ser descritos como pessoas normais entretidos em conversas corriqueiras. Com mentes normais. Comportamentos normais.

Talvez tenham andado pelas ruas e cruzado seu caminho sem que você sequer desconfiasse do que eram capazes.

Do estrago que causariam em sua vida.

Eles sorririam e passariam incólumes. Poderia ser um amigo. Um funcionário. Um parente.

Uma aluna.

Como a garota que agora localizo sentada em uma mesa afastada.

Por um momento eu hesito, quando ela abre um sorriso quase feliz. Os cabelos castanhos no indefectível corte Chanel estão opacos contra o rosto mais pálido com olheiras que rodeiam os olhos claros.

Mais uma vez eu me pergunto se deveria estar ali, um sentimento ruim me devorando por dentro

E enquanto avanço em sua direção, consigo nomear o sentimento. Culpa.

Misturado a um pouco de pesar.

Gia Scodelario nem tem 20 anos e, um dia, acreditei que ela seria apenas mais uma aluna dentre tantas. Mas não poderia estar mais enganado.

Refreio as lembranças dos motivos pelos quais Gia está aqui hoje e tomo a cadeira a sua frente. Ela continua sorrindo, embora eu não retribua.

Se há algo em que sou mestre é em esconder meus sentimentos em uma máscara de seriedade quase austera.

Seriedade é uma das minhas características mais marcantes, é o que dizem. É o que me faz ser um professor universitário brilhante.

E um dominador preciso.

Um homem que não hesita perante um obstáculo.

E essa garota, sem dúvida, foi o mais difícil deles.

— Como você está, Gia? — Indago impassível.

Seu sorriso se desfaz um pouco e noto uma sombra de vulnerabilidade toldando sua expressão.

— Como você acha que estou? — Há certo desafio em sua voz.

Isso me irrita.

Mas me refreio, não estou ali para Gia me tirar do sério como ela fez com maestria nos últimos tempos.

Deixo meu olhar vagar em volta.

— Aqui parece um lugar tranquilo. — Volto a encará-la. — Vai te fazer bem.

Tento imprimir um tom conciliador.

— Isso te faz sentir melhor?

— O que quer dizer?

— Eu estar bem. — Ela se inclina ligeiramente para frente. — Por que está aqui, mestre?

— Pare de me chamar de mestre — sibilo, deixando minha irritação transparecer e ela ofega ligeiramente.

— Me desculpe. Não quero deixar o senhor irritado.

Eu me inclino, o fúria transparecendo em minha voz.

Red  - Mestre dos desejosOnde histórias criam vida. Descubra agora