Capítulo 38 - Vulnerável

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Will não chorou tanto, como era de se esperar. Pouco depois de Lian sair, ele foi aos fundos da casa, lavar o rosto. Esteve muito triste em um período de tempo muito curto, e não havia ninguém para consola-lo. Cogitou se não estaria fadado a viver assim para sempre: sozinho, triste e traído.

Lian, a quem considerava um verdadeiro amigo, o magoou profundamente com o episódio do dia, praticamente lançando uma serpente dentro do galinheiro, se sabia que faria estrago, por que diabos fez isso ?

"Foi para seu bem" havia dito. Bobagem! Essa relação não tem mais salvação há anos. Revirar a vida dos outros é fácil, já que não lhe diz respeito... deve ser por isso que muitas pessoas têm esse habito como passa tempo.

Assim pensou Will enquanto levanta-se da bica, a qual era muito baixa, para buscar um rumo em sua existência.

Culpou-se por ter contado suas intimidades a alguém que acabara de conhecer, mas pelos Deuses, ele se mostrou tão confiável... além de se encontrar numa posição muito semelhante

"Não devia ter contado!" pensou entrando na cozinha e saindo logo em seguida "não devia, não devia, não devia..."

O rapaz estava desnorteado. Pensou em subir as escadas, mas não tinha o que fazer lá em cima. Olhou para baixo, viu o chão ainda úmido da limpeza, lembrou a tarefa do dia e foi procurar o esfregão.

Onde estaria seu esfregão ?

Em baixo das mesas ? Não, atrás do balcão ? Também não. Tentou recordar onde o teria deixado, então, num devaneio duvidoso, abriu a porta da frente. Lá estava ele, jogado no chão. Agachou-se para pega-lo. Quando sua mão tocou o cabo de madeira, o sentimento de força que a pseudo-arma tinha dado voltou subitamente. "Devia ter quebrado esse esfregão nas costas daquele crápula" pensou enquanto o sangue fervia. Apertou a madeira e bateu a porta, fazendo um estrondo. Buscou o balde com água, jogou todo o conteúdo no chão e começou a esfregar, esfregar, e esfregar.

Faxina era a maneira que Will tinha de extravasar a raiva, desde pequeno, se algo o aborrecia, a taberna ficava como uma joia de tão brilhante.

Quando quase terminou de arrancar a madeira do piso, foi para as janelas, depois o andar superior, onde organizou todos os quartos, trocou os lençóis, tirou o pó, enfim, a casa estava um brinco.

Morto de cansado, jogou-se na cadeira mais próxima da escada para respirar. A raiva evaporou, o que era bom, mas a tristeza continuava lá, consumindo-o fortemente.

Resolveu sair para ver se tinha algo do lado de fora para ser feito. Mas o breu da noite já estava ali, não enxergava nada. O tempo passara muito rápido. Voltando ao salão notou que havia acendido todas as tochas, deve tê-lo feito inconscientemente pelo costume. Pensou se já não seria hora de abrir a taberna, mas nenhuma das moças ainda tinha chegado.

- Quer saber - falou para si mesmo - hoje não vou atender ninguém.

Pegou a placa de "fechado por hoje" e colocou na porta. Se alguma das mulheres chegassem, teriam de voltar, Will não estava disposto a dar satisfações.

Apagou as tochas uma por uma, deixando apenas a da cozinha acessa. Estava morrendo de fome e só percebeu na hora que viu as maçãs na mesa.

Pôs-se a cozinhar, pegou algumas fatias de pão e as colocou em um prato, depois, em uma panelinha, colocou tomate amassado, alcachofras, repolho picado, um limão espremido, cenouras, batatas e um rabanete pequenino que veio junto das beterrabas. Pensou em colocar alguma carne seca, quando ia pegar alguns pedaços da que estava guardada, lembrou-se de quando era criança, Samantha tinha feito bastante carne seca, devido uma boa peça bovina que recebeu de um amigo, a mulher sugeriu que Will convidasse Bart para comer a iguaria, e assim que o rapaz apareceu ele o fez. Deviam ter uns 12 ou 13 anos na época, não tinha certeza, mas lembrava muito claramente de quanto Bart amou a receita e sempre que podia comia.

O Dragão e a RosaOnde histórias criam vida. Descubra agora