Capitulo 07

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Falar com as pessoas de forma áspera, grosseira e direta, era a especialidade de Zé. Mas quando acontecia com ele, sempre o deixava com raiva. E vindo especialmente da "audácia" e ímpeto de Maria Marta, só aumentava ainda mais sua ira. 

Ser contrariado, não o agradava.

— Marta, eu ainda não terminei — Ele apertou o passo para alcançá-la no corredor.

A mulher parou com uma cara de poucos amigos, revirou os olhos e bufou elegantemente. 

— Mais você hoje tirou o dia para me perseguir feito um cachorro abandonado que caiu da mudança. Que coisa mais irritante. Vai lá para sua ninfeta de doze anos e me deixa em paz — Ela tentou passar, mas foi impedida novamente. 

— Não fale de Ísis assim, não começa que o assunto aqui não é ela.

— Você perturba o meu juízo e ainda não quer ouvir? Muita audácia, não acha ?

O homem de preto bufou tentando conter a raiva que estava daquele joguinho de ironias de Marta.

— Já posso ir, ou vossa excelência ainda quer mais um interrogatório?

— Eu escutei sua conversa...

— Que bom, sinal que não é surdo. Agora me dê licença.

— Quem é ele?— Ele fez a pergunta que fez ela parar.

Ainda de costas, Marta se virou e se aproximou dele com a cara mais irônica e sarcástica possível. Ajeitou a postura, ergueu as sobrancelhas e o encarou.

— Não é da sua conta. Mais uma coisa eu posso te dizer, ele com certeza é melhor que você. Em todos os sentidos da palavra.

Aquela cena já estava virando figurinha carimbada no álbum de Zé: Marta lhe dando o xeque-mate e o deixando sem chances de revidar.

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— Boa noite Dona Marta. Para casa?— Briguel perguntou abrindo a porta traseira do carro.

— Sim! — Ela respondeu e entrou.

Briguel entrou no carro e deu partida, saindo pelos portões da Império. 
No caminho, a cabeça de Marta trabalhava em pensamentos o tempo todo.

Ela sabia que não havia nada entre ela e Maurílio ou com qualquer outro homem, mas ter o gostinho de irritar o comendador, valia toda a saliva gasta. No fundo, aquela situação a machucava, mesmo sendo para todo mundo a "indestrutível" Maria Marta,  a que nunca se abala com nada ou quem nada derruba, no seu íntimo era tudo muito diferente. 
Qualquer pessoa com o mínimo de conhecimento sobre eles, inteligência e senso de percepção, saberia que ela ainda o amava. Marta sempre esteve ao lado de Zé, foi sua mulher, cúmplice, amante, noiva, namorada, mãe de seus três herdeiros. A imperatriz! A mulher que estava lá quando ele precisava.
Como tudo se perdeu assim? Onde foi? Em que ponto? Ela sabia que tinha vacilado com ele quando tentou dar o golpe usando seu filho mais velho para dar tomar empresa e assim, comandar tudo sozinha, mais para isso, havia uma justificativa, ela só o fez quando descobriu que ele já não a amava mais. Aquilo sim foi um duro golpe, golpe esse que Zé nem sonha o quanto a machucou.

Concluindo seu pensamento, ela definiu que se ele foi "embora" para os braços de outra, é porque seu amor incondicional por ele não foi motivo  suficiente para fazê-lo ficar. Então, não tinha o porque ela lutar por algo que aparentemente já estava perdido.

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Um vestido preto elegante, envolvia o corpo de Marta. Estava "perfeito", ela pensou ao se olhar no espelho. O colar de ouro branco, continha uma pedra delicada de diamante, que por sua vez combinava com os brincos. A maquiagem leve, apenas o básico, mais que realçava ainda mais sua beleza natural. Os olhos azuis, tão atraentes, chamam mais atenção do que as próprias joias que usava.
Marta era uma mulher lindíssima, de uma beleza que era uma verdadeira jóia.

Ao descer as escadas, os filhos estavam na sala. Como sempre, falando alto, entre conversas animadas e risadas. Mas quando a viram descer as escadas, o silêncio pairou.

— Uau! Que gata! Onde vai assim toda bonitona?— Lucas perguntou à sua maneira moleque de ser.

— Não conto!—  Marta respondeu ajeitando os cabelos.

— Tá linda, hein dona Marta —  Du elogiou. 

— Obrigada, minha querida.

— Sério mesmo que você não vai nos dizer para onde vai tão gata e poderosa assim?— Clara perguntou. 

—  É, mãe. — Pedro também incluiu.

— Mas que coisa. Será que eu tenho que viver de casa para a Império e da império para casa? Não posso sair?

— É claro que pode. Pode não, deve! Vai lá. A gente não vai mais te encher de perguntas. — Clara finalizou o assunto.

— Ah, finalmente! Tchau para todos.

Ela se direcionou até a porta, e quando Silviano prontamente a abriu, infelizmente ela deu de cara com Zé chegando.

O mesmo a olhou de cima a baixo, quase fazendo um relatório completo de sua aparência. Mas sua cara de insatisfeito e mal humorado, dizia tudo. Aquilo não abalou a mulher, ela certamente já estava mais do que acostumada com aquela "carranca" que ele chamava de cara,  todo dia.

Por fim, ela passou por ele e saiu.

— Boa noite, my lord. —  Silviano o cumprimentou com toda a etiqueta de sempre.

Zé murmurou algo inaudível como resposta. 

— Você que praticamente lambe o chão que Marta pisa, deve saber. Onde ela foi e com quem foi? E não minta para mim.

— Não faço a mais vaga idéia, My Lord.

Zé semicerrou os olhos, cerrou os punhos e passou por ele subindo as escadas sem nem sequer dar boa noite aos demais.

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Marta optou por isso dirigindo sozinha até o restaurante marcado.

Ao chegar, logo ela avistou Maurílio na porta a esperando. Logo ele estudou a figura da  mulher linda que vinha ao seu encontro. 

— Se me permite dizer, você está simplesmente linda.

— Você também está muito elegante.

Maurilio estendeu o braço para ela e juntos entraram no lugar.

Passados algum tempo do jantar e a afinidade que eles desenvolveram em tão pouco tempo, Maurílio resolveu que era a hora de dar a ela oque havia trazido consigo.

— Trouxe algo para você —  Ele pôs sobre a mesa uma caixa média de um delicado veludo azul. 

Marta sorriu e devagar, ela trouxe até si o objeto. Ao abrir, se deparou com uma jóia lindíssima a sua frente.

— Meu Deus. Essa é a...

— Uhum. Exatamente. Ela mesma. A jóia que você vai desfilar. Gostou?

— E tem como não gostar dessa preciosidade?—  Ela segurou a jóia nas mãos, admirando cada rico detalhe —  É magnífica, de muito bom gosto. Tipo de jóia que a Maria Clara desenharia.

— Eu quero que desfile como se ela fosse sua, porque ela é...

Marta imediatamente o olhou atônita. 

— Como assim, minha, Maurilio?

— É sua. Essa peça é exclusivamente sua. É um presente meu. Combina muito com seus olhos. Vai ficar mais linda em você do que em qualquer outra pessoa que possa usar.

Pela primeira vez, alguém tinha conseguido deixar a imperatriz sem palavras.

Meu Diamante - MALFREDOnde histórias criam vida. Descubra agora