Parte um

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Precisou de toda a coragem do mundo para que conseguisse tocar a campainha, sua mão tremeu durante todo o processo até que apertasse o botão. Cada fibra de si queria que ele virasse e corresse pra longe.

Mas não faria isso, não poderia, prometeu a San, e cumpriria essa promessa.

Alguns minutos se passaram, até que a mulher de meia idade abriu o portão. Assim que o viu, ela pareceu paralisar.

" Espera! " a impediu de fechá-lo do lado de fora, usando o pé e um pouco de força nos braços. " Por favor.. "

" Se não for embora eu chamarei a polícia! " ameaçou, "Solte!"

" Eu imploro! Por favor me deixe falar, me deixe terminar isso e eu irei embora " Implorou. " Eu juro.. juro que não teria vindo aqui se não fosse importante "

" Nada que venha de você importa pra mim, eu já disse! " vociferou. 

" Dez minutos! Eu só preciso de dez minutos! Por favor.. por favor.. "

Pela primeira vez ela pareceu hesitar, apesar de não gostar nem um pouco dele, nunca antes ele havia implorado algo para ela, sempre se dirigia a ela e a seu finado marido com todo o desprezo que conseguia. Fazia cinco anos que não o via, por que ele a procuraria agora? Não existia sentido nisso.

Se surpreendeu quando ele se abaixou, ficando sobre os joelhos e encostando a testa no chão.

" Por favor.. " a mulher olhou para as pessoas na rua, que passavam encarando aquela cena com estranheza. 

Ela suspirou pesado, vendo que ele não desistiria, e meio hesitante, abriu o portão. " Você tem dez minutos, então é melhor que valha a pena "

Wooyoung se levantou, limpando os joelhos e a testa, "Obrigada "

Ele a seguiu para dentro da casa, constrangido pelas lembrança da última vez que esteve ali, havia feito um escândalo, e ainda socou o rosto do pai de San.

" E então? O que você quer? " ela o tirou de seus devaneios, parando no meio da sala com os braços causados. " Aliais, onde está aquele garoto ingrato? Ele te mandou aqui para dar recadinho? "

" Não fale assim dele " ditou, com seriedade. " Não diga o que não sabe "

" Então diga o que quer, seu tempo está acabando "

Precisou se controlar, sempre odiou essa forma rude e indiferente com que ela sempre tratava o próprio filho.

Levantou a mão até a parte de dentro de seu sobretudo e retirou do bolso uma carta dobrada. " Pegue "

" O que é isso? " o pegou.

" Abra "

Mesmo em dúvida, ela ainda obedeceu.

_____

Olá.. mãe? 

Eu não sei se ainda posso chamá-la assim, faz tanto tempo, como a senhora vai? Espero que esteja tudo bem, tem comido direitinho? 

Aish, me desculpe, eu sei que a senhora não gosta dessa minha maneira informal, mas eu estou tão nervoso escrevendo isso que é quase como se fosse pessoalmente.

Faz cinco anos desde a última vez que estivemos juntos, depois de tudo que aconteceu, eu fui embora e não pude mais voltar. Mas não é pra isso que eu escrevi isso, eu não quero olhar para o passado, eu quero seguir em frente, eu preciso seguir.

Enfim, eu não vou prolongar muito, porque eu sei que a senhora odeia cartas longas e chatas, mesmo que eu tivesse tanto para dizer. Se está lendo isso, então significa que eu não consegui. Mas por mais que isso seja triste, e um pouco estranho de se escrever, eu sinto que talvez isso não seja tão ruim, tem sido tão difícil desde que eu descobri a leucemia, com todo o tratamento e todas as cirurgias, e me sinto tão cansado. É ainda pior saber que estou sozinho, que viver ou morrer, quando se trata de mim, pra vocês, não faz diferença. Eu percebi isso,  percebi finalmente quando a senhora escondeu a morte do papai de mim, como se eu nunca tivesse feito parte dessa família. 

Com amor, Choi San Onde histórias criam vida. Descubra agora