Finding Love Again

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Observei através da janela os jardins da Quinta. Era um dia de inverno e fazia sol. As flores estavam exuberantes por todos os cantos dos vastos jardins. A temperatura estava amena, e as princesas Isabel e Leopoldina escreviam suas lições de Francês. Apenas um dia comum. Tão completamente comum que me fazia questionar aquele sentimento de vazio que habitava meu peito.

Era normal me sentir assim ultimamente, como se nada tivesse muita cor. E eu me perguntava todos os dias o que ainda fazia entre a família imperial depois de tantos anos. Depois de tudo perder a graça, depois de conhecer o amor e vê-lo ser tirado de mim sem aviso prévio.

Sete anos antes, quando cheguei à Quinta, me apaixonei por Pedro. Demorou mais de dois anos para que algum de nós admitisse aquele sentimento. Mais de seis meses de encontros ocasionais para admitirmos que queríamos viver aquele amor. E então havíamos sido descuidados, e nesse descuido flagrados por Leopoldina, na época com quase doze anos.

Foram algumas semanas de palavras atravessadas, comentários sarcásticos, e então a admissão de que Leopoldina sabia sobre nós. Só havia uma escolha, sendo nós dois tão completamente devotados às princesas. E então foi o nosso fim. O fim do nosso amor, sem que nenhum de nós olhasse para trás.

Doía todos os dias desde então. Todos os encontros com Pedro, que agora era novamente Sua Majestade, o Imperador. E eu imaginei que doeria menos algum dia, mas a única coisa que havia acontecido era eu e Pedro mais capazes de evitar os encontros. Porque nos encontravam estava tudo ali. Os olhares, a tristeza, a sensação de que parte de nós havia ido embora.

Mas era a nossa promessa para Leopoldina. A única chance dela perdoar o pai, porque a mim nunca havia perdoado. E justamente por isso fiz a única coisa que poderia: me dediquei a transformá-la na melhor versão de si mesma. Leopoldina era agora uma princesa exemplar. Linda por fora, extremamente culta, capaz de frequentar qualquer salão.

Isabel, que nunca soube sobre meu relacionamento com Pedro, era impecável também. Seu temperamento era mais dócil do que o de Leopoldina, o que fazia que Isabel fosse mais diplomática. E não havia dúvidas de que conseguiria um excelente casamento, e que seria uma Imperatriz perfeita.

Por anos entrei diariamente naquela casa e dei às princesas a melhor educação que poderia. Elas sabiam falar diversos idiomas, tinham caligrafias impecáveis, conheciam música, arte, cultura. Eu havia feito um excelente trabalho, e me sentia reconfortada por isso. Mesmo com os olhares atravessados de Leopoldina e de sua mãe, Teresa Cristina, eu havia passado por todos aqueles anos.

Então, um ano atrás, Dominique foi para o colégio interno na França. E foi aí que tudo perdeu o sentido. Agora eu não tinha mais nada no Brasil. Meu filho estava em outro país. Pedro era um fantasma distante de um amor impossível. Isabel e Leopoldina estavam em idade de se casar. E eu, bem... eu só poderia pensar em ir embora.

Me sentia apática, triste. Embora eu soubesse que era um excelente trabalho com as princesas, me perguntava se valia a minha juventude. Foram anos dedicados aquela missão. Meu casamento, minha dignidade, minha energia. Parecia a hora de deixar tudo aquilo para trás.

- Condessa? – Isabel me chamou, me tirando dos pensamentos. – A senhora parece distante. Está tudo bem?

- É claro, minha querida. – fingi um sorriso.

Leopoldina levantou-se de onde estava, se aproximando da janela com olhar apreensivo. Olhou para todos os pontos visíveis do jardim, e eu sabia que ela procurava o pai. Há anos Leopoldina vivia em desconfiança, como se a qualquer momento fosse descobrir que eu e Pedro havíamos mentido sobre o fim do relacionamento.

Suspirei pesarosamente, arrancando um olhar de curiosidade da mais nova das princesas. Engoli qualquer resposta, porque era o que eu fazia há anos. Aceitava ataques, desconfianças, ironias, porque me sentia responsável pelo sofrimento da criança que um dia havia conhecido e amado.

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