- Não e ponto final, Lucas.
Consigo ouvir o burburinho pelo telefone, o vidro tilintando contra vidro e os carros ronronando. Minha barriga se revira em antecipação, mas tento engolir isso com o o resto da cerveja quente dançando na minha mão.
"Não" é uma das únicas coisas que Lucas realmente não consegue entender nesse mundo.
- Qual, é, Mark – ele reclama arrastado, a bebida se misturando na voz - Tá todo mundo aqui, só falta você!
- Todo mundo quem?
- Todo mundo é todo mundo, bobão.
Todo mundo é Donghyuck. Sei que ele não vai mencioná-lo porque aí sim eu me recusaria a vê-los. Mas também sei que minha cabeça está mil vezes mais embaralhada do que o normal ultimamente.
Não queria sair de casa hoje. Quer dizer, ultimamente não queria sair de casa nunca, mas hoje estava ainda pior do que o normal.
Talvez eu só estivesse um pouco confuso com as memórias da última noite – quando estava bêbado demais para realmente entender o que aconteceu – mas tem alguma coisa naquela situação que começa a me dar muita vontade de não ficar bêbado sozinho.
- Onde vocês estão?
Escuto seus gritos do outro lado. Ten e Taeyong respondem com mais gritos, agora se aproximando o suficiente do celular para que os burburinhos de suas vozes se tornem frases desconexas
- A gente vai te buscar! - Ten responde mais alto do que o restante – Se arruma que hoje a gente tá motorizado.
Não sei o que aquilo significa, sempre estivemos motorizados. Eu tenho uma moto, cada um deles o próprio carro, mas também não quero me dar ao trabalho de perguntar, por isso encerro a chamada.
Donghyuck está lá.
Não é bem um pensamento, mais como um sussurro. Como se o próprio tivesse entrado de mansinho no meu quarto, espiado meu guarda-roupa sobre o ombro e torcido o nariz daquela forma insuportável que ele sempre fazia quando a cantina do colégio vendia só comida ultraprocessada.
Tento não pensar muito nisso – ou ouvir muitos sussurros – quando coloco a primeira calça limpa que encontro.
Não faz porra de diferença nenhuma quantos narizes Donghyuck torceria pra mim essa noite.
Entendo perfeitamente o que o motorizado deles significa.
Não é um carro popular que estaciona na esquina do meu bairro, é a merda de um Tesla.
Nunca tinha visto um de perto, muito menos entrado em um, definitivamente nunca nem sonhei em dirigir um daquele.
Antes mesmo de abrir a porta do passageiro, já sei quem vai estar ao volante. E o filho da puta sorri pra mim, só com uma das mãos no controle do carro enquanto o outro braço está apoiado na janela aberta.
O zumbido nos meus ouvidos deve ser porque a noite está muito quente e tem insetos por todo o lado, mas eu juro que poderia ser algum defeito de fábrica dentro de mim mesmo. Essa é mais uma das coisas que eu tento não me dar ao trabalho de entender hoje.
- Achei que o Lucas fosse vir me buscar junto.
Jogo a frase no ar, tanto para o motorista quanto para o casal na traseira que parecem animados como cachorros enfiando as cabeças pela janela. Nenhum dos dois se preocupa em me responder, por isso Donghyuck diz, mudando de marcha:
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garoto do subúrbio; markhyuck
Fanficporque, algumas vezes, garotos do subúrbio são destinados aos garotinhos de papai. o problema é que mark lee nunca soube ler muito bem seu destino com lee donghyuck antes de perceber que aquela não seria uma história de amor;