Rendi-me a escrever uma carta.
Para isso tive que ir à recepção e falar com um cara chamado de Fenício, mas que preferia ser chamado de Fênix. Fênix me deu um papel creme lisinho e uma caneta Bic preta. Eu queria escrever em privacidade, mas sei que, de qualquer forma, Fênix vai dar uma olhada no que escrevi. Eu poderia escrever uma carta para o meu pai, mas eu sabia que ele devia estar ocupado. Então resolvi escrever para outra pessoa.
Meus dedos tentavam acompanhar meus pensamentos frenéticos. Eu não tinha muito tempo.
Quando terminei entreguei o pedaço de papel e a caneta.
— O local está certo, garoto? — Fênix não parecia ter muito mais que a minha idade.
Mas eu sabia que ele era mais velho. Cabelos pintados de vermelho mas que na verdade são castanhos escuro, olhos grandes e espinhas no queixo junto a uma barba rala. Um cara que acabou de sair da puberdade, eu acho.
— Sim.
— Absoluta?
— Sim.
Ele pegou o pedaço de papel e colocou de lado. Parecia incomodado com minha presença e mesmo assim indiferente com o fato de que eu pedi que entregasse a carta naquele endereço. Quando termina de digitar no computador, Fênix da outro daquele olhar, achando que sou louco.
— Isso é uma brincadeira?
— Não — reviro os olhos —, estou falando sério. Só... Entregue lá entre às nove da manhã de hoje ou amanhã às onze.
— E quem vai receber?
— Você saberá. Ele vai estar sozinho. Obrigado.
Fui para a minha aula de biologia.
Quando saí do quarto eu tinha acordado Vinci. Ou melhor, tentado. Ele resmungou que precisava de mais cinco minutos então deixei ele lá. Fui ao banheiro e levei minha farda e uma cueca limpa comigo. Me vesti na cabine de novo. Acho que nunca vou parar de fazer isso. Quando saí, não fui chamado, fui direito para o refeitório. Não encontrar Denis lá me deixou com os pelos do braço arrepiados, mas vi Nicholas e os outros, então tentei relaxar.
Percebi que Nicholas e Heitor sempre iam para os fundos. Eles iam à direção onde ficam as piscinas e a quadra, mas não vão para lá realmente. Não sei para aonde vão, mas fazem isso todos os dias. Dediquei um pouco daquele momento para saber um pouco mais sobre eles. Com isso quero dizer que peguei minha bandeja e fui para o meu quarto, onde eu tinha um celular, o que é o dobro de nada que os outros alunos têm. Deixei meu café de lado e fucei o Instagram de Nicholas.
Nicholas postava muitas fotos na praia, com a moto, sem camisa e com os amigos. Ele era tão... comum. Não tinha nada que o diferenciasse dos outros garotos. Exceto que agora eu sei quem ele é e sei que é horrível.
Uma das fotos que ele postou era com a família. Um homem alto, de cabelos pretos curtos, Denis à esquerda dele, Nicholas e uma mulher baixinha de olhos castanhos claros. Não havia legenda. Algumas fotos mais para baixo eu notava que ele só postava foto de paisagens.
Desisti do perfil dele e fui no perfil de Heitor, que era ainda mais genérico. Os dois tinham amigos em comum, dentre eles, Vinci.
Meu coração acelerou.
Mas não entrei no perfil de Vinci. Desliguei o celular e tratei de comer. O sinal tocaria logo e eu corria o risco de ele aparecer aqui de surpresa já que tem o cartão de volta.
Nesse momento, anotando o que está no quadro na aula de biologia, me arrependo de não ter olhado. Quando o vi na sala primeiro que eu fiquei constrangido, com receio de ele lembrar do que contei quando foi parar na minha cama... pensar assim também me deixa constrangido. Tudo da madrugada me deixa constrangido. Eu tinha que começar a repensar minha prioridade aqui na Katharine, que era nada mais nada menos do que estudar e me manter na linha; nada de amizades, nada de Vinci e a porra das encrencas que ele me metia. E com isso quero dizer Nicholas. Repensei no que Vinci disse, aquela coisa de "deixe ele quieto". É a melhor coisa a se fazer.
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Entrelinhas (Romance Gay)
RomanceAtlas tem esse nome por causa do seu pai. Aliás, seu pai está comandando tudo em sua vida, até mesmo em seus estudos. Atlas foi parar, de um dia para o outro, na Katharine, uma escola de elite que se mostra tão perigosa quanto mesquinha. Há segredos...