Fora da Narrativa II

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A primeira história era muito boa.

Depois que os muros foram erguidos, as paredes pintadas de uma bela cor, as pessoas começaram a entender que ali seria uma escola. Uma escola ampla, para crianças até o quinto ano. Crianças, apenas isso.

Era muito bom, algumas pessoas pensaram, é muito bom que uma escola seja feita aqui. É um lugar livre de estradas movimentadas, não correriam o risco de uma criança ser atropelada ao querer atravessar a rua. E também era um local bonito, perto das árvores, as crianças adoravam o ar puro. E o melhor de tudo: Havia espaço. Muito espaço para as crianças correrem e se esconderem, isso não era perfeito?

O primeiro dia de aula foi no dia 12 de janeiro e todos estavam encantados com o lugar, que ainda cheirava a tinta e as paredes estavam prontas para serem lotadas por desenhos feitos pelas crianças.

Levi Ancore, que estudava em uma escola distante daquela. Ele, na verdade, ia lá todos os dias para deixar o irmãozinho. E desde que se tornou o irmão mais velho começou a detestar certas coisas. A escola, a cor, o ar e o ambiente dela foram uma dessas coisas. Ele não sabia exatamente o que provocava essa sensação de nojo que ele sentia, mas sabia que era algo um pouco mais profundo que isso. Era raiva. Uma raiva que parecia mais antiga que ele, que só tinha quinze anos e acabara de entender a puberdade, ou um terço dela, do que ela seria. Havia ganhado músculos por ajudar seu pai, havia ganhado cicatrizes pelo mesmo motivo também. E de novo, as cicatrizes pareciam mais antigas que ele em si.

Até que um dia isso mudaria.

Ele deixou o irmão na escolinha — mas decidiu entrar com ele.

E naquele dia, que as pessoas esqueceriam, algum dia, porque histórias somem, Levi Ancore usou a espingarda do pai para matar seu irmãozinho e mais algumas crianças que corriam, e sorriam, e riam e brincavam. Mas que foram interrompidas de repente pelo barulho, crianças que se tornaram alvos naquele instante. Mas isso não foi o suficiente para Levi, que se sentia insatisfeito. Ele também trouxe um facão que seu pai usava para cortar carne. E apesar de não ter machucado ninguém com ele, usou para marcar uma das paredes que estava cheia de desenhos coloridos.

Ninguém entendia o que aquela palavra significava. Ninguém entendeu o porquê Levi fez o que fez. Só se sabe que ele correu por entre as árvores, deixando tudo para trás. O ar foi bom, mas não mais livre, o espaço não mais confortável. As árvores agora pareciam ameaçadores ao longe. Levi deixou na parede de desenhos seu próprio nome. Sua marca. Sua assinatura.

A escola foi fechada.

O local logo se transforaria de novo; ganharia uma nova história sobre novas cores de tinta e argamassa.

Entrelinhas (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora