Capítulo 3

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A menina franzina de olhos verdes como musgo está na sala. A mulher está na cama. Fria, amarela e úmida. Madraya tem que ficar bem, pensou a garotinha. Nenhum vizinho arriscou a se aproximar do humilde casebre em Dva Stolba nos últimos dias. Mas, não hoje. Hoje, uma moça apareceu. Seu rosto familiar deu um sorriso a pequena, estendendo uma maçã para ela.

— Leve-a para Keramzim, a entregue ao Duque — a voz rouca e murcha da mulher deitada soou.

— E o pai dela? O homem que vem aqui algumas vezes é o pai dela, não é? Não seria melhor a deixar com ele?— sussurou a moça, tão baixo que as orelhas da menina tiveram que se esticar para ouvir.

— Não — a mulher foi rápida em dizer. — Leve-a para Keramzim.

— Madraya, eu quero ficar com você — a jovenzinha relutou, seus grandes olhos se enchendo de lágrimas.

— Vai ficar tudo bem Alina — disse a moça, alisando os fios da menina.

O chiado denso da tosse encheu o pequeno quarto. A moça entregou um lenço a mãe o mais rápido que pode. Os olhos da menina se arregalaram ao ver o sangue manchando outra vez um pano branco, e uma pontada de dor atingiu seu coração.

— Madraya! — ela chorou e não teve mais resposta.

Com soluços e chutes a menina foi levada. Madraya, a palavra ainda vinha a sua mente durante os anos. O cheiro denso e metálico do quarto escuro ainda alcançava seu nariz — cheiro de morte. Isso acontecia geralmente nas noites frias e solitárias, ou quando o medo a arrebatava com força.

 Isso acontecia geralmente nas noites frias e solitárias, ou quando o medo a arrebatava com força

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Madraya. É como um grande quadro pintado na minha cabeça, estampando meus pensamentos. Então eu tinha sonhado outra vez. Ótimo. Mas por que toda essa luz?

Luz. Muita luz. Meus olhos fechados se apertaram com a claridade e desconfio que um leve resmungo saiu da minha boca.

— Levante-se — uma voz falou.

Que diabos está acontecendo?

Quando não respondi, algo cutucou entre minhas costelas. Abri meus olhos e dei de cara com soldados me cercando, um deles com o cano de seu rifle encostando em mim.

— O que? Ai — murmurei, meu cenho se franzindo com a pontada de dor escoando pelo ombro quando me mexi.

A onda dos últimos fatos passou por mim. A Dobra. A carnificina no esquife. Maly. Santos! Tínhamos conseguido chegar a Novokribirsk? Por que tinham tantos soldados ao meu redor?

— De pé! — o soldado bradou outra vez, aumentando a pressão de seu rifle nas minhas costelas.

— Qual o seu problema?

Com muita dificuldade, querendo não arranjar problemas com o homem à minha frente, lentamente, me levantei. Tudo em mim doía. Em especial, meu ombro ferido. Olhei ao redor, observando as tendas familiares ao fundo e as areias secas que permeavam o esquife. Não havíamos chegado ao outro lado, nunca terminarmos a travessia. Estávamos de novo no Acampamento de Kribirsk.

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