Os olhos do Oceano

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O mar podia ser belo, carregar sua vida aquática, suas cores, seus corais e anêmonas, esconder um Náufrago antigo e até mesmo uma inteira civilização, mas ele também era perigoso e assustador. Muitas pessoas sofreram traumas com o mar, com o oceano e suas pareceiras, desde lagos, rios e cachoeiras, até uma mera poça num dia de chuva, acidentes aconteciam e não era apenas com um amigo do vizinho, as vezes podia ser contigo.

Christopher Bang Chan, um homem formado em biologia marinha, com seus inteiros 29 anos e um enorme trauma do mar desde os seus 20.
Quem afinal imaginaria, que o namorado apaixonado do loiro Australiano iria ser pego em uma tempestade no meio do Oceano? Por pouco que o loiro não teve sua vida em jogo no mesmo dia, ele só teve a sorte... A "sorte" de ter conseguido se segurar naquele navio, era para ser só uma viagem, um passeio divertido, mas com aquele chão molhado demais e a água inquieta, os ventos fortes e as ondas levando o que via pela frente, Minho não conseguiu se segurar e seu corpo foi de encontro ao mar.

Foram dias de procura e até agora, nos 29 anos do Bang, nunca encontraram seu namorado, ele já foi dado como morto pela polícia e detetives contratados pelo loiro Australiano.
Os amigos do homem já cansaram de lhe dizer para superar, que estavam ali para o apoiar, mas era difícil, era complicado, ele já tinha o trauma do mar e o medo de amar.

Sempre que o loiro lembrava no que havia se formado, sua cabeça o faz se lembrar daquela fatalidade horrível, do grito de seu namorado e do som da chuva forte, com o vento uivante e as ondas do oceano se quebrando na madeira do navio, que mais parecia um barco de pesca do que algo próprio a uma saudável e segura viagem, mas foi tudo o que puderam pagar.

Porém Chan precisou voltar, depois de tantos anos, ele precisou voltar ao mar, trêmulo, precisou enfrentar o oceano e engolir suas lágrimas ao ver a ilha bonita que viram no meio daquela tempestade, no mesmo ângulo daquele dia, eles estavam no mesmo lugar aonde Christopher perdeu seu amor.

O loiro tremeu quando sentiu alguém tocar seus ombros, olhando assustado para o rosto desconhecido que o fitava preocupado, afinal, Chan parecia prestes a desmaiar a qualquer segundo. O rapaz possuía um sorriso bonito, bochechas salientes e os olhinhos tão redondinhos e esbugalhados, tudo naquele rosto conspirava para Christopher o comparar com um lindo esquilinho bochechudo.

Chan nem percebeu, mas seus medos, inseguranças e suas lembranças se apagaram por longos segundos, apenas a imagem daquele garoto fofo lhe condizia com a realidade do momento, ele não queria mais pensar em nada, ou não conseguia apenas, Chan apenas conseguia sorrir fraco, aquele olhar preocupado, a quantos anos não via alguém lhe olhando assim com toda a sinceridade do mundo?

— Senhor, está tudo bem? — o garoto bochechudo perguntou tocando a testa do Australiano, notando a pele fria do mesmo, ele não havia tido insolação, mas estava a suar frio — Quer algo para lhe esquentar?

— N-n... Não, obrigado. — Chan sorriu, olhando outra vez para o mar, as ondas se partiam em torno da ilha, de longe o Bang via isso e agradecia por não precisar ver de perto tal cena — Sabe me dizer se... Se estamos chegando?

— Oh, claro! Estamos perto, não precisa se preocupar. Sabemos do seu medo do mar, então estamos fazendo a viagem mais segura e rápida na medida do possível. — o de fios castanhos clarinhos sorriu, aquele sorriso foi o suficiente para transformar seus olhos em dois disquinhos e as bochechas gordinhas se tornassem ainda mais cheinhas, Chan queria alimenta-las... — Em doze horas chegamos.

O que estava ruim sempre podia piorar, era parte da Lei de Murphy e não acreditar nisso era nascer em berço de ouro, só assim para nada dar errado.

O dia bonito e ensolarado se tornou uma tarde escura e repleta de nuvens, os trovões tocavam a água fria e a corrente elétrica iluminava por segundos aquele mar, o profundo breu os cercava junto ao mar furioso e o vento ranzinza.
Christopher gritava encolhido no canto do navio da marinha que carregava os melhores biólogos marinhos de toda Austrália, tremendo a cada som do trovão e clarão do raio, em uma dessas horas chegou a tremer junto ao navio quando um raio atingiu o mastro do navio e trouxe pânico aos presentes conforme o fogo  engolia o lugar.

— Amor, o navio irá afundar. Venha! — Chan sentiu seu mundo se quebrar quando ouviu aquela voz e sentiu aquela mão pequena lhe segurar e lhe guiar a beira do navio, Minho estava ali, o levando a um dos diversos botes de emergência junto ao garoto bochechudo desmaiado, colocando ambos no objeto e o soltando no mar em seguida — Amor... Você precisa remar.

Chan não questionou, mesmo com os olhos encharcados e com as ondas lutando contra sua força, o Australiano deu tudo de sí até finalmente os tirar do perigo, aonde a tempestade não havia atingido ainda, aonde podiam continuar remando em segurança que não iria os atingir tão cedo se não parasse de remar.

Os olhos do Bang não queriam se desgrudar do rosto preocupado de Minho, não fazia sentido ele estar ali, ele havia morrido! A mente do Bang chegou a se questionar se Poseidon havia o trago para seus braços em segurança ou se alguma Sereia o beijou na água e o deu sua respiração, mas tudo isso parecia fazer mais sentido do que seu namorado na sua frente, seco e bem.

Ele remou até aquela ilha, que antes jurou ser perigosa e notou ser mais segura do que aquele ponto assustador que teve dois acidentes em sua vida, apenas quando o barco tocou na área, que o loiro saiu do barco, para puxa-lo até o extremo que podia e retirar Jisung dali, o levando para de baixo de uma árvore.

Chan olhou em volta, Minho estava andando pela beira da ilha, não podia deixa-los sumir! Mesmo assustado com o som das ondas na orla daquela ilha, disparou até o amado, perguntando como e o porquê, mas Minho apenas o encarou e sorriu, segurando sua mão para continuar andando, andando e andando, até uma pilha de pedras no pé de uma montanha que ficava na beira da água, se sentando sobre uma das enormes pedras e limpando a do topo lentamente.

Siga em frente
Eu te amo, Chris...
Ass: LM

Chan soluçou com suas lágrimas grossas e seu choro silencioso, vendo o corpo de Minho lentamente sumir, restando o último sorriso do coreano nas memórias do Bang.
Ele se foi naquele triste oceano e ele voltou para o salvar uma última vez.

— Eu.... Eu também... Te amo... — o Bang se curvou sobre a letra do amado, deixando uma última vez suas emoções se esvairem, ele realmente precisava seguir em frente, já foram nove anos. — Te amo muito...

— ... Ele era bonito. — aquele bochechudo realmente parecia querer infartar Chan um dia, tocou em seu ombro o assustando novamente, mas desta vez, o abraçou e deitou seu rostinho no ombro do mais velho e mais alto — Nem tive tempo de agradecer.

— ... Nem eu... Nem de me despedir. — sussurrou Chan, tentando segurar suas lágrimas, mas era complicado, elas não queriam parar de cair.

Chan se sentia aquele oceano, furioso por dentro, confuso, triste e solitário, mas olhando o Han chorando consigo em silêncio, parecia um solitário... Diferente, eles estavam sozinhos, então por quê não ficarem sozinhos juntos?


Adeus, amor...

Ondas do Oceano ( Banginho )Onde histórias criam vida. Descubra agora