Jimin, o Fantasma Acorrentado

que não parava de afundar

Jimin se sentia um fantasma.

Passou a vida como um, afinal, não vivo o suficiente para se considerar como tal, mas vivo demais para estar morto.

Havia um buraco em seu coração, que ia crescendo cada vez mais.

Um buraco insaciável, cada vez mais profundo, cada vez mais largo.

E ele continuava caindo dentro de si.

Caindo e caindo.

E nunca caindo de fato.

Era uma caída sem fim, ele não conseguia ver nada direito enquanto caía, apenas fleches daquilo que devia ser a realidade qual estava.

Quando andava pelos corredores do colégio, que pareciam tão longos quanto seu buraco, sentia-se fantasmagórico, como uma assombração.

Como se correntes grossas o puxasse para baixo quando caminhava, fazendo um som grotesco que assustava a todos a sua volta.

Até que um dia ele chegou.

Jimin nunca teve a oportunidade de ver outro fantasma, até que Min Yoongi entrou em sua sala.

Ele também tinha correntes, mas elas amarravam suas mãos, como se ele não conseguisse nem tentasse sair delas. E lábios costurados com uma fina linha de náilon, tão transparente que mal era perceptível.

Mas Park Jimin percebeu.

Num momento que havia sentado em frente a seu armário para descansar do peso das maldosas correntes, Min Yoongi sentou-se ao seu lado.

O corredor estava vazio, todos já haviam ido embora, afinal.

Talvez as correntes de Min Yoongi também estivessem o deixando cansado.

— Eu sei que está pesado, mas temos que nos levantar.

Foi a primeira vez que o viu sem aquela costura nos lábios, eles pareciam mais cheios quando ele falou, mais cheios de vida; enquanto sua voz parecia vir como um eco.

Desde então, passaram a ser fantasmas juntos.

Jimin e Yoongi observavam um ao outro cair no infinito enquanto descansavam a cabeça no ombro um do outro sem trocar uma palavra.

Jimin pode ser um fantasma. Um dos mais aterrorizantes que existem.

Uma criatura que não parece viva o suficiente para morrer.

Que trás o medo junto do barulho assustador de pesadas correntes de chumbo.

Pelo menos, agora tem alguém para esperar no final desta queda-livre.