Ao longo dos anos a Condessa e o Imperador aprenderam a lidar com as particularidades de uma relação como a deles. Aprenderam a identificar os sinais silenciosos quando um precisava do outro. Aprenderam a trocar bilhetes cada vez mais discretos. Adaptaram horários para que pudessem aproveitar o máximo de tempo possível juntos.
Eram um casal, mesmo que oficialmente Luísa fosse casado com Eugênio e Pedro fosse casado com Teresa. Um casal que não podia andar de braços dados pela rua, que não podia chamar atenção para si, que não podia ter qualquer demonstração óbvia de afeto. Mas, em definitivo, eram um casal.
Dividiam os problemas, as angústias, as conquistas e alegrias. Conversavam sobre todos os assuntos. Tinham noites quentes de amor, e noites de calmaria onde simplesmente jantavam juntos e liam até adormecer. Eram anos de um relacionamento estável e feliz.
Mas tal relacionamento não estava à salvo de discussões. As vezes pequenas e bobas brigas sobre alguma discordância. E outras vezes as pequenas desavenças viravam uma enorme discussão que fazia com que o lado intempestivo dos dois aflorasse. E aí estava o grande problema.
Pedro era um homem calmo na maior parte do tempo, mas sabia impor suas vontades e pensamentos. Luísa era mestra na arte de controlar seu temperamento, mas recusava-se a fugir de suas convicções. E então o orgulho falava mais alto nos dois casos, e nenhum dos dois pedia desculpas ou tentava resolver a situação.
Eram raros os tais momentos, mas aconteciam. Como naquele exato momento, onde já levavam dias sem trocar uma palavra, a menos que fosse estritamente necessária. O motivo da briga era a necessidade de um baile para apresentar as princesas para a sociedade, agora que estavam em idade de se casar.
Pedro era contra, pelos gastos desnecessários. Luísa era a favor, porque era dever de Pedro como pai e como Imperador. A discordância iniciou na quinta e invadiu a noite deles no Chalet. Em determinado momento virou um debate sobre os defeitos e manias que o outro tinha. E por fim, Luísa saiu porta afora no meio da noite, sem que Pedro protestasse.
O clima entre eles estava tão ruim no dia seguinte, que coube à Imperatriz fazer algo pouco provável e decidir por realizar o baile. Pedro bufou contrariado, mas não discutiu com Teresa. E isso fez Luísa revirar os olhos e ficar ainda mais irritada com ele, mesmo que no final das contas as coisas fossem acontecer como ela queria.
A atmosfera festiva tomou conta da Quinta, e só se falava em vestidos, decorações, cardápios e convidados. Luísa foi capaz de distrair-se de sua briga com Pedro na maior parte do tempo, porque não havia nada que ela gostasse mais do que bailes. E também porque o Imperador passava o dia enfurnado em seu gabinete, ainda contrariado por ter sido voto vencido.
Arrumando-se para o evento, porém, seu pensamento estava no Imperador. Por mais que estivesse furiosa e sem nenhuma disposição para se desculpar ou tentar restaurar a paz, sentia falta de Pedro. Ao longo dos anos acostumou-se a dormir nos braços dele mais noites do que não, e há quase duas semanas sequer conseguiam ficar no mesmo ambiente.
Sentia falta do olhar de desejo e daquela chama que nunca foi aplacada, por mais que tentassem suprir a necessidade que sentiam um do outro. Talvez fosse justamente a sensação de que passavam a maior parte do tempo sendo privados do que desejavam que os fizesse assim. O certo era que ardiam um pelo outro como da primeira vez. E nem mesmo a maior das irritações era capaz de aplacar tal desejo.
Quando deu os toques finais e se dirigiu à Quinta, Luísa sentia-se bela e desejável. E esperava que o Imperador pensasse exatamente o mesmo, ainda que não fosse dizer nada. Não poderia provoca-lo em público, mas esperava que ao menos a visão dela fizesse Pedro arrepender-se daquela briga e do voto de silêncio. E se ele se desculpasse, bem... sempre haveria o Chalet.