Capítulo III: Gritos ensurdecedores...

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_Bem vindo de volta. - A psicóloga recebeu calorosamente o jovem rapaz, que apenas sorriu socialmente e se sentou de cabeça baixa. - Como se sente?

_Como sempre.

_Mal?

_Sim e, sinceramente, acho que os remédios não estão adiantando. - Sua cabeça se levantou para olhar nos olhos da profissional. - Todos os dias, o dia inteiro, desde a morte de Jason, não paro e nem consigo ignorar a maldita música ecoando na minha cabeça!

_Está tomando eles corretamente?

_Nos exatos horários! Nunca esqueço de tomar a porra desses medicamentos e mesmo assim... - A alteração de sua voz era frequente. Bastavam poucos segundos para suas cordas vocais falharem ao mesmo tempo que se começava um choro baixo, com o rosto parcialmente escondido entre as mãos. - ...mesmo assim ela não me deixa em paz.

_Talvez seja porque ela quer que você se junte a todos.

A expressão amargurada de Nicholas tomou uma nova forma assim que parou para raciocinar o que a mulher havia dito, e tornou a levantar o olhar, tomado pela surpresa e medo, ainda lacrimejando.

_O que você disse?

_Isso mesmo, seu fracassado: se mate e se junte ao amontoado de crioulos macacos que morreram naquela floresta. - Respondeu, quase interrompendo a pergunta de seu paciente, como se soubesse o que Nick iria dizer. - Eles querem você. Não vão desistir até tomarem sua alma!

_Quem é você? - Seu corpo, trêmulo, gelado e suado, quase automaticamente levantou da cadeira, pondo-a como escudo diante de si; sua coluna se curvava para frente de forma a proteger o estômago do revertério que sentia e a qualquer momento poderia vomitar ali. - O que você sabe?

_Nick, acalme-se! O que você está ouvindo agora?

_Você está brincando com minha cara, sua puta loira racista de merda? - Enquanto alterava novamente seu tom, sua respiração tornava-se ofegante, as narinas se dilatavam harmoniosamente de forma violenta e o centro do rosto, antes amarelado, se avermelhava. Estava tomado de um ódio repentino e inexplicável.

_Não! Nicholas, eu juro que não disse nada! Seja lá o que ouviu, ou viu, não é real. Posso te assegurar disso.

_Eu não estou louco, doutora. Sei muito bem o que presenciei, sei muito bem o que vivi, e sei que qualquer coisa que você possa ter falado, ou eu ouvido, tem a possibilidade de ser real!

_Sim, você está louco... - Tão repentino quanto as reações do homem, foi o sorriso zombeteiro da moça, seguido de uma gargalhada excitada enquanto se levantava pacientemente de sua cadeira executiva para sussurrar no ouvido de Nick. - ...e vai ficar ainda mais se depender de mim, meu ratinho de laboratório. - A voz serena e mecânica, tanto quanto a de um robô, permanecia na mente do aspirante a policial, sendo difícil escolher entre ouvir a canção, que lhe atormentava, e as provocações de sabe-se lá quem, porque sabia que não era sua psicóloga falando; no entanto, seus instintos gritavam de tal forma que foi impossível parar seu corpo quando a atacou com a cadeira de madeira envernizada.

_Eu vou te matar, sua vagabunda! - Um sorriso começou a se formar em seu rosto assim que jogou o móvel de lado e começou a socar o rosto da mulher. Cada estalo que ouvia era uma ponta de prazer que sentia e, se dependesse dele, a mataria com esperança de que tudo parasse.

_O que você está fazendo, seu retardado?! - Um homem de jaqueta invadiu a sala, em desespero, após ouvir os baques e os curtos gritos femininos agonizantes de Hannah. Seus braços agarraram fortemente o corpo do mais alto, que se debatia e gritava em tom grave, parando em poucos intervalos apenas para inspirar e berrar mais a plenos pulmões. - Por favor, não quero que você seja internado, seu idiota! - Um soco no rosto de Nicholas, empurrado brutalmente no chão, foi o suficiente para sua histeria se interromper e olhar em volta.

_O que estou fazendo aqui? Mike? O que você está fazendo aqui?

_Como assim? Você estava batendo na sua psicóloga, seu doente! - Houve uma pausa, com ambos se entreolhando: um, preocupado e ofegante; o outro, com medo e desorientado. - Vai embora antes que dê merda para você.

Enquanto o paciente se levantava, apressado, a fim de correr e torcer para não ser pego pelos seguranças folgados e desatentos, Michael permaneceu abaixado por um tempo, com o braço apoiado numa das pernas, antes de sua percepção voltar ao normal e recobrar a consciência de onde estava e do que aconteceu. Sua primeira reação foi socorrer a mulher de rosto rubro, tanto pelo sangue, quanto pela dor que sentia, além de gritar pelos vermes que sequer atenderam aos estrondos audíveis a alguns metros de distância, os mesmos que apareceram depois de todo o evento apontando suas armas para a cabeça do agente à paisana, cuja identificação fora mostrada momentos depois em sinal de paz, embora a revolta ainda o consumisse.

_O agressor fugiu. Não adianta reagir depois de tudo ter sido ignorado, senhores. - Seus olhos castanhos foram cruéis ao julgar os fardados, ao mesmo tempo que suas mãos foram delicadas para levantar a moça. - O mínimo que podem fazer para os manterem fora da cadeia como cúmplices é acompanhá-la ao hospital. Topam, ou desejam tirar umas férias na cela junto com um criminoso esquizofrênico?

Os rapazes se entreolharam antes de rapidamente ajudar Michael a levantar o corpo praticamente desfalecido e o levarem de carro ao hospital mais próximo, onde deixaram sob cuidados médicos.

-

Ela quer que você se junte a todos, ela quer que vocela quer que você se juntela quer que você se junte a todela quer que você se junte atodosematelaquersemajunteatodoselaquerquematela quer que você mate todos.

As vozes atropeladas inundavam a cabeça de Nicholas e, ainda assim, não queria aceitar que seu destino fosse o mesmo de Jason, mesmo que precisasse se arrastar pela calçada com as mãos nos ouvidos, como fazia, gritando por ajuda e pedindo às pessoas, nada comovidas, para cessar aquele inferno. Algumas, chegavam a olhar com espanto, entretanto, nada de prestarem socorro ao rapaz largado na sarjeta e completamente aterrorizado.

SematetodoselaquerquevocêsematelaquerquevoCÊMATETODOSELAQUERQUEVOCÊMATETODOS__Aquele não é um dos policiais ELAQUERQUE do mistério do massacre? MATETODOSELESMATETODOSEMATETODOSELAQUERUEVOCÊMATETODOS

__Sim, é o estagiário! Que estado deplorável ele ficou...

__É verdade. Coitado... será que houve uma histeria coletiva neste caso?

__Se houve, vou passar a acompanhar o blog The Misterious Killers para sempre, todos os dias, somente por acertarem esta teoria.

_FAÇA O INFERNO PARAR! FAÇA O INFERNO PARAR! FAÇA O INFERNO PARAR! FAÇA O INFERNO PARAR! IMPEÇA QUE O INFERNO CONTINUE! IMPEÇA QUE O INFERNO CONTINUE! O RITUAL DOS OSSOS PRECISA PARAAAAAAAAR! - Os gritos estridentes do enfermo em posição fetal e olhar arregalado para o nada provocaram susto nos pedestres à sua volta, inclusive em Mike, que lhe deixou perceptível o grande período de tempo que estava naquele local ouvindo sussurros mais altos que gritos, agora não mais da doutora que supostamente desprezara sua situação e sequer acreditava em seus devaneios, mas de pessoas comentando a situação ou rindo dela, pensando ser mais uma das alucinações de um jovem adulto fracassado e louco, porém, seu ex-colega, de alguma forma, sentia que algo estava por vir, e isso lhe deu um arrepio na espinha.

The Ritual Of Bones - Volume IIOnde histórias criam vida. Descubra agora