Meus olhos se abriram lentamente e eu, ainda na mesma posição, passeei com eles por todo o ambiente em que eu estava. Meu cérebro sonolento tentava reconhecer aquele lugar estranho e quase totalmente escuro, a única fonte de luz eram os pequenos raios de sol que a cortina deixava escapar. Agora olhando com mais atenção, com os olhos quase fechados, ri de forma boba quando avistei minha roupa jogada no chão e como num passe de mágica as memórias da noite anterior ficaram claras na minha cabeça. As garrafas de cerveja no canto do cômodo, as minhas roupas e as dele misturadas no chão, seu isqueiro jogado logo ali perto da porta depois de provavelmente ter caído de cima da sua mesa de cabeceira.
Nunca fui uma pessoa muito detalhista, as coisas que importavam de verdade acabavam por tomar toda a minha mente e o resto se tornava apenas plano de fundo para a atração principal, mas naquele momento era como se eu inconscientemente quisesse guardar tudo e cada segundo daquela cena só para não esquecer nunca e ficar revisitando ela infinitas vezes. A sensação de calmaria que aquele silêncio me trazia era algo que eu com certeza gostaria de lembrar mais vezes.
A minha bexiga apertou, eu precisava ir ao banheiro. Lentamente forcei meu corpo para cima me apoiando nos meus cotovelos, mas não consegui terminar o que estava fazendo. Confesso que no primeiro segundo me assustei ao ver o seu braço sobre a minha barriga, rapidamente voltei a posição que estava antes de tentar levantar o que deu espaço para que aquele toque virasse algo como um meio abraço, seu corpo ainda dormindo se aproximou do meu e a sua cabeça repousou sobre meu peito. Não sei descrever o que eu exatamente senti, mas algo dentro de mim agiu como um choque que percorreu toda a minha espinha e minha barriga estava estranho como se borboletas estivessem batendo as suas asas ali dentro. Nesse momento eu já não sabia se eu estava apaixonado ou se eu só tinha segurado o xixi por muito tempo, mas foda-se, eu não posso simplesmente levantar e deixar que ele acorde.
Não sei dizer quanto tempo se passou eu realmente não estava contando e, para falar a verdade, eu daria tudo para que ele não passasse mais, por um segundo fechei os olhos e só me deixei sentir. O calor do corpo dele em contato com o meu, a textura macia do seu cabelo entre meus dedos durante o carinho, o som de quando ele inspirava e logo depois a sensação do ar quente que saia do seu nariz tocando meu peito. Eu daria tudo para nunca mais ter que sair dali. Mas meu corpo foi traiçoeiro.
Minha mão começou a dar sinais de que logo ficaria dormente, a sensação de formigamento aumentava cada vez mais, mas como eu poderia tirar ela dali? A sua cabeça repousava tão tranquila. Lentamente comecei a me mexer, talvez se ele, ainda dormindo, mudasse de posição eu conseguiria sair, e foi isso que aconteceu, ou quase. Assim que consegui tirar meu braço dali ouvi sua respiração profunda e sabia que ele havia acordado.
Lentamente virei a minha cabeça em sua direção, seu olhar também parecia confuso. Provavelmente efeito da bebedeira da noite passada, mas foi aí que eu gelei. Sem hesitar ele passou a sua perna direita sobre as minhas ficando de lado na cama. Eu prontamente me ajustei a ele, queria que estivesse o mais confortável possível para os dois.
Agora com ele de frente para mim e os nossos rostos quase colados não consegui segurar o riso bobo ao encará-lo, seu rosto era ainda mais lindo logo após a acordar. Sem dizer nada ele apenas me deu um beijo rápido e fechou os olhos novamente, como resposta do carinho deixei um beijo em sua testa e virei meu rosto para o teto. Senti-lo ainda mais próximo a mim me fez pensar infinitas coisas, mas ao mesmo tempo entrei num estado de letargia pois apesar dos inúmeros pensamentos, todos acabavam nele. Em nós. Ali. Juntos.
Mais uma vez fechei os olhos, sua respiração agora saindo direto de encontro a minha bochecha sempre me causava arrepios por todo o meu rosto. Foi uma sensação única, mas muito boa.
Me permiti olhar ainda mais pra ele naquela posição, Parecia tudo tão milimetricamente encaixado que eu cheguei a duvidar da minha visão, confesso que cheguei a pensar que talvez eu estivesse apaixonado demais e romantizado um pouco a cena, mas pouco importa, ele continuava sendo ele e só isso já era mais do que suficiente pra eu achar o que estava vendo a mais linda das obras de arte.
Minha bexiga apertou novamente, dessa vez a dor foi bem mais intensa que nas outras. Não dava mais pra ignorar, infelizmente tive que me desvencilhar dele e eu não sei explicar o quanto foi difícil ter que levantar daqui, tanto pelo lado físico, já que tive que fazer um malabarismo para não acordá-lo, mas foi estranho não sentir seu corpo no meu. Era um vazio... estranho.