□□□

51 4 4
                                    

Talvez exatamente por não ser muito vivido era fácil de entreter, afinal, simplesmente ficar se perguntando de onde havia vindo a bonita e esquisita maçã que havia achado de manhã era suficiente para o manter distraído por um tempo razoável. Mas mesmo Langer ficava entediado - ainda não havia sido ensinado a ler, afinal - e escutar sons vindo da entrada de casa atiçaria a curiosidade de qualquer um.

Deixou o objeto vermelho na mesinha ao lado da cama e saiu do quarto em completo silêncio (era um pouco mais difícil durante o dia, mas conseguia se tentasse) e foi na direção das vozes. A de sua mãe parecia dizer algo a respeito de crime, mas havia uma segunda, uma que não conhecia, mas se tornou óbvio a quem pertencia quando se aproximou.
Era uma mulher grande que com certeza não conhecia. Uma peixe de cabelo vermelho e aparência medonha, que segurava sua mãe pelos braços. Sem notar puxou o seu capuz mais sobre o rosto, querendo se acalmar.

-- Mãe?

Pareceu ter pego a atenção de ambos, mas logo depois acabou se questionando se foi uma boa ideia. Sua mãe o olhou com o que só poderia ler como raiva. Ou medo, mas o segundo não fazia sentido de ter apenas quando o viu lá - não entendia como muito bem, mas era mais forte do que ele, se fosse algo perigoso faria mais sentido o querer perto - só poderia ter interrompido algo que não devia.

-- Vá para o seu quarto, Langer. -- ele falou em um tom calmo mas que soava forçado -- Os adultos estão conversando, vá para o seu quarto.

Não foi necessário mandar uma terceira vez, foi, apesar da sensação ruim onde seria o seu estômago. O mandou ir para o quarto, mas deveria mesmo? Sua mãe sabia mais, a maior parte do tempo, mas só uma vez, só para se acalmar, não seria ruim, seria?

Se virou e voltou, não muito perto, só para poder escutar as vozes mas não determinar o que falavam - se não entende não é espiar, certo?

Pareciam calmas agora. Muito mais. Sim, fez algo ruim se intrometendo. Deveria ter ficado em seu lugar. Voltou para o quarto, em silêncio.

Quem era aquela mulher? Porque falou sobre um crime? O que falava sobre para o querer fora quando não tinha problemas com estar perto antes? Era sobre ele? Sobre a mulher que dias antes havia...

Devia ter ficado bastante tempo em devaneio, porque a linha de pensamento foi perdida com o som da porta pesada abrindo.

-- O que eu separei ainda está onde eu deixei? -- Encre perguntou antes de sequer o cumprimentar, os olhos dele sem cor alguma; acentiu -- Bom. Vamos sair hoje à noite.

-- Você disse que seria de manhã.

-- Eu sei o que eu disse, mas houve mudança de planos.

-- Por quê? -- perguntou e imediatamente se arrependeu; não está vendo que sua mãe está como naqueles dias? A diferença é tão pequena que sequer conta, deveria evitar o perturbar, não ter que falar sobre algo que podia estar perturbando.

-- É mais seguro. -- foi sua resposta, e apenas acentiu, sem querer pressionar.

Alguma coisa havia acontecido, com certeza, mas, por enquanto, não havia nada que pudesse fazer a não ser confiar.

Então ele esperou.

Quando a hora chegou, além do que a mãe havia separado para si, também pegou a maçã estranha, simplesmente porque parecia certo. Sequer foi um caminho feito com a mula - além de estar velha, no escuro ela podia tropeçar. Uma mula devia ter visão ruim, porque o luar lhe parecia suficiente para ver muita coisa. Bom, podia ser simplesmente costume.

Talvez também por não ser a primeira vez, mas também sentiu como se tivesse sido mais curto, mesmo que pelo tempo em que chegaram perto pudesse sentir os saculejos de ofegante da mãe e a manhã começasse a sair.

[...]

Já era quase dia claro quando Encre bateu o portão do castelo com o jovem filho em seu outro braço.

Selene atendeu após algum tempo, e embora tivesse havido surpresa, não durou muito - provavelmente era mais relacionada à sua expressão, de qualquer forma.

-- Não o esperava em alta manhã -- a mulher gato lhe disse quando entrou -- mas imagino que seja normal e meus hábitos que atrapalham.

-- Pelo contrário, eu vim à noite para não ser seguido. -- soltou como retruque; céus, a sua alma doía, mas necessidades são necessidades -- Há caçadores na região.

Selene, benção à sua alma, pareceu ter levado um chute mas conseguiu manter a compostura. A única coisa entregando o estresse era a ponta da causa batendo no ar.

-- O senhor tem certeza? A última vez que caçadores vieram foi a anos.

-- Eu tenho. E por favor, não me censure, você sabe que eu não teria razão para mentir sobre algo assim.

Não, mas tem para esconder coisas, não é mesmo? Céus, céus, a única coisa que o mantinha com a mente no mundo concreto era o peso leve da criança em seu braço.

Selene pareceu convencida, embora os sinais de estresse ainda estivessem lá.

-- Precisamos, então, esperar anoitecer.

Vampire Verse - Sun and MoonOnde histórias criam vida. Descubra agora