Capítulo 09

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— Aí, mas que coisa mais chata isso. Vira o disco, troca a fita. Agora só vai viver disso? Dessa mesma pergunta o tempo inteiro?— Marta bufou e cruzou os braços. 

— Eu estou falando sério, Marta. Não teste minha paciência porque ela já não é muita. Eu já pesquisei tudo sobre esse tal de Maurílio, sei até que vocês jantaram ontem...

— Parabéns! Mas, e daí? Ainda não compreendi oque você tem haver com isso!

— Tudo haver. Eu sou seu marido e dono da império. 

— Marido apenas no papel, você mesmo dizia isso. Segundo que na hora de transar com aquela garota, você não se lembra que é casado. E terceiro, eu tenho direito de sair com quem eu quero e para onde eu quero sem te dar nenhuma satisfação. 

— Concordo! Sua vida pessoal não me diz respeito, e sinceramente eu não tenho estômago para saber oque você faz ou deixa de fazer com ele. Oque tá em jogo aqui é a nossa família, a império principalmente. Esse Maurílio é do ramo de joias e querendo ou não a empresa e a marca dele tem um impacto no mercado, e não tem absolutamente nada haver você ficar se espojando com ele, porque daqui a pouco não vai demorar para imprensa saber e dizer que você nos deixou para se bandear pro lado inimigo — ele explicou completamente vermelho de raiva.

— Problema da imprensa. Qualquer coisa que a gente fizer, até mesmo aquelas mais sem importância vai ser motivo de falatório, então isso só será mais um — Ela respirou fundo já aparentemente exausta daquela conversa — já perguntou oque queria, agora sai do meu quarto.

— Eu ainda tenho muita coisa para te perguntar.

— Que infelizmente eu não tenho mais paciência para te responder — Ela caminhou até a porta e a abriu — agora, tenha a bondade...— Ela apontou para fora.

Às controvérsias, ele saiu, parando e se virando para ela.

— Eu vou descobrir cada detalhe desse tal.

— Uhum. Eu só tenho uma resposta pra te dar, aquela que você sempre me dá incansavelmente: vá a merda, Zé — E bateu a porta a trancando.

— Shit! — ele exclamou com aquela típica cara de raiva de sempre, enrolou as pontas do bigode e saiu pisando duro.

Meia hora depois, já arrumada para sair, Marta cruzava o corredor dos quartos, quando escutou algo vindo de um deles. Era o de Lucas, a porta estava entreaberta, com passos silenciosos ela entrou no ambiente. A cena que obteve foi a de Zé segurando um dos gêmeos de Du e Lucas. Pelas tentativas enroladas de falar, era Martinha que estava em seu colo.

— É...eu sei...mais olha lá, seu irmão já dormiu, só você que ainda está aqui lutando bravamente contra o sono...— Ele conversava com a bebê, que por sua vez prestava atenção em cada palavra que ele dizia, com os olhos arregalados —...você faz jus ao nome...sua avó também tinha uma dessas as vezes, de não dormir quando era para dormir. Então eu fazia carinho nos cabelos dela assim...— Ele passou de leve os dedos nos finos cabelos da criança —...bem devagar, e aí...o sono aos poucos chegava — Ele sorriu ao ver que a criança realmente estava pegando no sono.

Com a facilidade que possuía de chorar, não foi difícil para Marta se emocionar com aquela cena. Era a primeira vez em anos que ela sentia carinho nas palavras de Zé em relação a ela. Tinha certeza que aquilo era porque não estava na frente dela, pois se estivesse, as palavras eram duras como sempre. Mais por um breve e raro minuto, sei coração se aqueceu ao recordar uma lembrança tão boa dos tempos em que ambos eram carinhosos um com o outro.

— Um dia vou te levar para conhecer Isis, ela vai adorar — O nome daquela garota cortou totalmente o clima. 

Marta limpou o rosto e saiu do quarto do jeito que entrou, em silêncio!

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Duas horas mais tarde...

Marta, Zé e os filhos estavam em mais uma reunião onde ninguém se ouvia, pois todos falavam ao mesmo tempo sem chegar em consenso nenhum.

— Eeeei!!!— Zé exclamou fazendo todos se calarem.

— Bom, eu acho a minha ideia a melhor — Marta se manifestou.

— Eu também acho, pai. A ideia da minha mãe é a melhor até agora — Clara concordou recebendo uma piscadinha de Marta.

— Aaah, que grande surpresa você ficar do lado da nossa mãe, puxa saco!— Zé Pedro implicou.

— Ah, cala a boca, garoto. Você teve alguma ideia melhor até agora? Que eu tenha visto, não. Só fica aí dando palpite como se fosse o dono de tudo — Ela devolveu.

— Mais que inferno vocês! Chega! Eu já me decidi. A ideia de Marta é realmente muito boa — Admitiu ele surpreendendo a todos.

— Nossa, vai chover!— Ela foi irônica.

Eles se olharam.

— É, mas não comemora não. Eu ainda vou dar mais uma avaliada, sozinho, na minha sala. Reunião encerrada — Ele colocou os óculos e saiu da sala.

Logo em seguida, Lucas e Pedro também saíram. Ficando apenas Clara e Marta.

— Tá tudo bem, mãe?

— Sim. Por que a pergunta?

— Por nada. É que você está um pouco estranha.

— Impressão sua.

Clara deu de ombros.

— Sobre o tal plano. A gente vai mesmo seguir adiante com isso?

— É claro que eu vou Maria Clara. E sem olhar para trás ou pensar duas vezes — Ela arrumou alguns papéis.

— Tá certo. Já entendi que nada do que disser vai te fazer voltar atrás. 

— Ainda bem que você sabe! 

— Tô sabendo que você foi jantar com esse tal de Maurílio ontem, mãe...— Ela se mostrou brava.

— Oque que é Maria Clara? Qual o problema? Seu pai me trai e todo mundo acha muito legal, agora quando é comigo é uma coisa hedionda? Cadê os direitos iguais?

Clara tinha inteligência suficiente para saber que a mãe ainda não tinha se envolvido intimamente com Maurílio, até mesmo pelo pouco tempo que se conheciam, mas sabia também que aquilo era uma questão de tempo, não pararia apenas no dia da festa. Sabia que Marta iria se envolver com ele apenas para dar o troco em Zé. 

— Não faz isso que você está pensando?

— O desfile da jóia? Não eu...

— Eu não estou falando disso, mãe. Estou falando de você e dele com mais intimidade. Não faça isso pelo simples prazer de dar o troco no meu pai, porque não vai ser diferente dele, e sim igual.

Marta desviou seu olhar do da filha.

— Você está muito machucada pra isso. Você ainda ama o meu pai, e isso tá nítido em tudo em você, mãe. No seu jeito quando ele tá perto, na fala, nas brigas, no olhar...tudo! 

— Eu amo o seu pai sim. Ele nunca vai deixar de ser o homem da minha vida. Mais sangue de barata eu não tenho. Ele quis ter outra? Eu também tenho direito de ter — Ela se levantou e saiu  da sala.

Meu Diamante - MALFREDOnde histórias criam vida. Descubra agora