Natalie Mendelssohn

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Hoje é dia nove de junho de 1940, meu aniversário de 22 anos. Queria poder está comemorando com minhas amigas e meus familiares, entretanto, não posso. Tive que fugir de Varsóvia, a capital da Polônia, pois, há um ano, exatamente no dia 1° de setembro, a Alemanha invadiu a cidade. Eu e minha família nos separamos e fugimos deles, sabe por quê? Por simplesmente sermos Judeus. Já que aqueles estúpidos nazistas nos perseguem, como vários outros povos, e eu juro que se ver um nazista eu sou capaz de matá-lo. Mas enfim, estou indo para Zabrze para casa de minha irmã.

Estava indo acompanhada de um grupo de refugiados para Zabrze, nos escondendo como ratos sujos, para que os "superiores" não nos encontrássemos. Ao caminho uma coisa era vista com certeza e isso era o medo. Medo nos olhos de todas as pessoas, de crianças a idosos, o medo reinava. Passamos por um pequeno vilarejo, que bom, era para ser um... se não fosse toda destruição no local.

A visão era extremamente horrível, com casas destruídas, resto de corpos no chão, que por falar do chão, estava vermelho, coberto por sangue de pessoas que vivam suas vidas normalmente até os nazistas chegarem... Eu estava segurando as lágrimas, pois quem não ficaria triste ao ver uma imagem dessa? Um vilarejo que antes era fruto de prosperidade, alegria, com casas decoradas, pessoas festejando pelo ano todo por simplesmente terem o que comer e que agora estão mortas e o local mais parece um vilarejo assombrado.

Mais na frente ouvimos um choro fraco e soluçando, então decidimos ir até lá. Chegando ao local do som, estava uma criança, pequena, com cabelos curtos, sozinha, com muitos ferimentos expostos e sangrando, ela estava em suas últimas forças chorando em pé. Cheguei para perguntar o que aconteceu e onde estavam seus pais, ela então apontou para frente e eu pude ver uma coisa que deixou em choque... Estava um corpo de uma mulher, grudada em uma pilastra por uma estaca enfiada em sua cabeça.O corpo estava sem roupas e com vários cortes pelo corpo, principalmente em seus seios e perto de sua intimidade, imagine o que de monstruoso aconteceu com ela.

Ao ver aquela visão, eu simplesmente não tive outra reação a não ser chorar... Abracei a criança e em um último suspiro ela veio a falecer. Voltei para com o grupo totalmente calada e assim fiquei eu apenas chorei ao pensar que Deus tinha nos abandonado e que a humanidade estava em tamanha crueldade.

Estava com um pouco de receio para falar com minha irmã, fazia mais de anos que não nos víamos desde que ela saiu com seu marido e nunca respondeu minhas cartas. A cidade não era tão grande e não foi difícil achar a sua casa. Chegando nela, após uns segundos encarando a porta, pensando no que eu falaria, respirei fundo e bati na porta. Pude ouvi uma voz feminina gritar "quem é"? Envergonhadamente eu respondi:

-Sou eu, sua irmã Natalie Mendelssohn.

Minha irmã abre a porta em pranto e sem hesitar me abraça fortemente. Era a primeira vez que aquilo tinha acontecido, e logo ela, a Anne Mendelssohon, a famosa judia de olhos azuis, mais bela da família, demonstrar sentimentos assim.

-Eu pensei que você tinha sido levada ou estava morta. - disse ela me olhando dos pés a cabeça. - Por que você não me escreveu? -

- Eu escrevi sim, todo mês eu lhe mandava cartas. -

- Então os malditos nazistas devem ter tomado o controle de tudo. - ela termina sua frase com um suspiro profundo. - Estou extremamente feliz em vê-la Nat. Vamos entre, sente-se que eu irei fazer um chá e você vai me contar o que aconteceu com nossa família em Varsóvia. - falou enquanto entrava em sua casa.

Entramos e eu coloquei minha mochila encima do sofá sentando ali mesmo. Ela pega uma cadeira e senta na minha frente e começamos a conversar. Desde asneiras a coisas mais serias. Contei que nossos pais tinham ido para Lublin e mandaram eu vim para cá. Ela também me contou, mesmo que com aflição, que seu marido foi morto por soldados alemães por descobrirem sua origem judaica, mas que minha irmã conseguiu esconder isso deles. Após uma longa conversa eu falei que estava cansada da viagem e queria descansar um pouco. Anne com sua gentileza, mostrou-me um quarto de hospedes e o banheiro para que eu pudesse tomar um banho e deitar-me, o que assim fiz.

Os dois dias se passaram rapidamente, estamos apenas em casa para não sermos encontradas pelos soldados. No terceiro dia a comida tinha acabado e eu me ofereci para ir comprar, já que, minha irmã era bem mais bela e poderia chamar mais atenção. Fui até uma pequena feira para comprar carnes e legumes. Estava andando um tanto quanto distraída, quando esbarro em alguém, que ao olhar o seu corpo, percebi ser de homem. O medo naquele momento me consumiu e eu abaixei a cabeça pedindo desculpas.

- Eu que peço desculpas, não se preocupe. Você está bem? - era uma voz masculina suave, calma, parecendo de um anjo. Ao levantar a cabeça e ver o rapaz, eu acabo me perdendo em seu rosto angelical. Era um homem alto, loiro, com olhos azuis e com cabelo enrolado.

- E-eu estou bem, obrigada. - e mais uma vez eu me perdia ao ver seu lindo sorriso.

- Você é daqui? Sou novo na cidade, vim em uma missão por causa dessa guerra e não sei se muita coisa. - a cada palavra dita, meu coração palpitava mais forte e acelerava cada vez mais.

- Eu estou aqui faz três dias, vim visitar minha irmã. - para disfarçar meu encanto por ele, volto minha atenção para as verduras na feira.

- Qual seu nome? - pergunto descaradamente.

- Otto. E o seu? - ele fala sorrindo e eu respondo sua pergunta falando apenas "Natalie" e sorrindo de volta. Perdidamente no tempo eu escuto o senhor falando o valor da compra.

- Desculpe-me senhor, aqui está. - entrego o dinheiro. - Estou indo senhor Otto, foi um prazer. -

- Hoje a noite estarei na praça central, que tal aparecer lá? - ele indaga e eu apenas vou indo embora e balanço a cabeça positivamente para ele.

Kind der LiebeOnde histórias criam vida. Descubra agora