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Pude ver o lado de fora finalmente. Era como se fosse um prédio antigo, mas bonito.

— É chato saber que vamos nos mudar daqui também. — Hueningkai comentou ao meu lado. Queria indagar, mas deixei pra lá. Tudo que eu queria era deixar o ar fresco entrar pelo meu nariz, sentir o cheiro da grama do jardim dalí e sair pelos enormes portões de ferro.

Hueningkai me disse que o táxi estava esperando lá fora, iria para a escola. Me pergunto se naquela altura alguém sentiu minha falta, de fato, não.
Era como mais um dia normal de aulas corridas, a escola continuava a mesma. Sentei no meu lugar de sempre e fiquei quieto o resto do dia até o último horário, decidi não sair para o intervalo. Se eu encontrasse com algum dos vampiros minha liberdade se resumiria de volta aquele lugar.
Assim que acabou a aula, me levantei devagar andando para fora.

Meus pensamentos estavam sobrecarregados sobre como olhar para minha mãe. Que saudade... nem parece que sumi por alguns dias. Foi quando esbarrei em alguém.

— Ah... desculpe. — Murmurei sem olhar para quem era.

— Beom? — A voz feminina que me era familiar soou. Logo, voltei meu olhar para a garota de cabelos lisos e pretos. Ela me olhava com surpresa.  — Caramba, pensei que tinha desistido da escola. — Ela continuou a falar.

Eu não sabia o que dizer, então dei um meio sorriso.

— É talvez... — Falei tentando ser irônico. Ver Yeji não estava nos meus planos de jeito nenhum.

— Sabe, eu fiquei muito mal por aquele dia... sinto muito. Não sabia que Félix estava te provocando. — Ela soava pesarosa.

— Esqueça.. não importa mais, era só?.. já vou. — Forcei sorrir já dando alguns passos em direção a saída, mas Yeji segurou meu braço. Não queria ter que bater cabeça com ela, não quando meus sentimentos estavam tão confusos e embaralhados. Me sentia acuado e não gostava disso. Não queria que ela notasse.

— Espera. — Ela me soltou, puxando a mochila dela e tirando de dentro da mesma um caderno médio. Franzi as sobrancelhas sem entender. — Queria te devolver, peguei um dia antes de você brigar com Félix, pensei que estivesse agindo por impulso para tomar detenção, acabei usando isso contra você... e achei que.. ah deixa, toma. — Ela me empurrou o caderno.

— Não deixe mais ele te irritar, tá bom?! — Ela deu um sorriso pequeno, depois se virou já saindo.
O cheiro de seus cabelos esvoaçantes me deixou distraído por breves segundos, suspirei. Já não era mais a mesma coisa.
Então, olhei meio intrigado para o caderno na minha mão.

O abri.

Entendi o que ela quis dizer. Alí tinha vários desenhos dela, caricaturas, um pouco sombrias e até mesmo mórbidas. Eram desenhos bem detalhados, como se tivessem sido feitos olhando para a própria Yeji. Soavam como se a pessoa quisesse que ela fosse um cadáver, mas ao mesmo tempo... transmitia sensualidade.
O estranho era que.. aquele caderno não era meu, mas ela achava que sim...
O bilhete naquele dia... ela parecia não só irritada... As partes riscadas de caneta...

Soobin!

Agora o que Yeonjun havia dito me veio a mente, mas... o que de tão pior Soobin poderia ter feito...
Olhar aqueles desenhos só me deixava assustado. Se tinha um lado de Soobin que ele não havia me mostrado... como ele seria de verdade?

[...]

Quando sai da escola havia um carro me esperando, um cara alto que devia ser o motorista segurava uma placa com meu nome. Aquilo parecia teatral e chamou atenção, o que me deixou desconfortável. Atravessei rapidamente o gramado e entrei no veículo sem olhar pra fora. Continuei folheando o caderno até que o carro parou em frente a minha casa, rapidamente abri a porta e pulei, correndo até a entrada.

— Omma! — Chamei alegremente, abrindo o portão que era sempre encostado.

Logo vi a mulher mais velha aparecer e foi como se eu jamais precisasse sentir saudade na vida. Deixei minha mochila cair no chão junto ao caderno, indo de encontro com a minha progenitora e abracei a mesma fortemente. Não notei que apertei os olhos, abrindo devagar depois de um tempinho. A olhei e minha atenção se voltou para alguém logo atrás de braços cruzados e um meio sorriso nos lábios. Soobin...?

— O que... — Quase falei, mas Omma me interrompeu.

— Seu amigo chegou agorinha também disse que precisavam ser rápidos porque precisam de você na faculdade, filho, estou tão orgulhosa. Entre, tem bolo que você gosta. — Ela falou com a voz carregada de alegria e orgulho.

Suspirei voltando pra buscar as coisas que deixei cair.

— Deixa que te ajudo. — A voz falou próximo ao meu ouvido.

— Não preci-

As mãos dele foram rápidas. Eu finalmente olhei para ele e sua expressão mudou ao ver o caderno. Ele fixou os olhos rapidamente nos meus e só na troca de olhares percebi que algo mudou. Minha espinha esfriou.

— Venham garotos, coloquei o bolo na mesa. — A voz de minha Omma soou.

Respirei fundo, me dirigindo até a cozinha. Lá estava a mulher que me criou com tanto carinho e cuidado, eu desejava poder proteger ela do que poderia acontecer...
Sentei e logo vi Soobin se aproximar.

— Obrigada Senhora Choi, mas estou de dieta. — Soobin soou baixo.

— É tão jovem para isso, vamos, coma um pouquinho só! — Ela insistiu.

Bem feito para ele, tomara que sufoque com aquele bolo. Maldito vampiro. O olhei disfarçadamente, eu não podia acreditar que Soobin havia mentido para mim. Ele colocou um pouco do bolo e levou a boca mastigando normalmente. Franzi as sobrancelhas, ótimo ator eu diria. Comi o meu pedaço devagar, escutando Omma falar sobre os dias que fiquei na "Faculdade". Não demorou poucos minutos, vi Soobin levantar.

— Desculpe senhora Choi, mas realmente... precisamos ir, estamos ficando atrasados.

— Ah, tudo bem! Tenham uma ótima volta e Beomgyu não esqueça de me ligar! — Omma veio ao meu encontro e me puxou da cadeira para um abraço caloroso. Suspirei, queria ficar ali por mais tempo.

— Prometo que irei ligar.. — Eu não tinha certeza de nada.

— Até logo meu filho. — Sorri leve dando adeus a minha Omma, pois não sabia o que seria dali pra frente depois de ir embora.

Assim que estávamos saindo Soobin segurou meu braço de uma maneira que jamais havia me encostado. Aquele deveria ser o sinal de que eu estava completamente ferrado. Vi o carro de antes encostar próximo a rua e caminhamos com Soobin me arrastando em seu encalço.

— Está me machucando.. — Murmurei.

— Ótimo. — Suas palavras foram firmes.

— O que deu em você? — Puxei meu braço de sua mão e ele me encarou.

— Entre no carro. — O encarei também e  apenas entrei sem dizer mais nenhuma palavra. Ainda não sabia a hora certa de perguntar sobre o caderno, mas já que ele estava com minhas coisas era só questão de tempo para saber.


oh, Strange? | SooGyuOnde histórias criam vida. Descubra agora