Meu pai morreu quando eu tinha 13 anos, em uma explosão que aconteceu no setor 2 e matou outras pessoas da nossa zona de contenção. O presidente colocou a culpa em um grupo de rebeldes que uma vez ou outra, explodia algumas coisas por aí, matava alguns soldados e roubava nossos suprimentos. Dizem que eles vivem além da cerca de contenção, nas ruínas das cidades. Mas não sei nada sobre isso, porque somos proibidos de citar qualquer coisa lá de fora, inclusive os rebeldes, ou o que quer que eles sejam.
Meu pai era o sol da nossa família, sempre nos dizendo para nunca desistir que as coisas iriam melhorar no futuro. No final das contas, nunca melhorou e ele partiu e nos deixou sozinhos nesse mundo esquisito, destruído pelas guerras que nós mesmo causamos. Nunca vou me cansar de pensar que minha espécie desejava a extinção, porque fizemos de tudo para acabar com nosso planeta, décadas atrás.
Soltei um suspiro pesado, observando as manchas de terra que cobriam minhas roupas, principalmente meus joelhos, e os nacos de terra que haviam grudado embaixo das minhas unhas, depois que passei horas seguidas de joelhos na terra, colhendo tomates e carregando caixas. Meus braços estavam doloridos, mas já estava acostumada com isso, já que era o que eu fazia em absolutamente todos os dias.
Ergui o braço, puxando a jaqueta e apontando a pulseira eletrônica no meu pulso para a trava da porta, observando-a emitir aquele barulho irritante de click, antes da luz ficar verde e a porta destravar. Escondi minha pulseira e entrei no ambiente de três cômodos, que todo mundo chamava de casa, mas que eu considerava minha prisão. A sala tinha um conjunto de sofás creme comuns, com uma pequena mesa de centro. De frente pra eles, uma televisão presa na parede, que sempre se ligava sozinha quando o presidente resolvia mandar uma mensagem para todos no complexo.
Nas laterais, havia uma pequena e humilde cozinha, que nem mesmo usávamos, já que todos eram obrigados a comer no refeitório com todo mundo, pra que todos tivessem o mesmo tanto de comida. Nem a mais, nem a menos. No canto da sala havia um pequeno corredor, que dava para dois quartos e um banheiro pequeno e apertado. Era o nosso lar. Ou deveria ser, porque eu passei a odiar cada canto daqui depois da morte do meu pai.
—Que bom que chegou. Estávamos esperando você pra irmos jantar. —Olhei para a entrada do corredor onde meu irmão mais velho apareceu, enquanto a porta se fechava atrás de mim com um baque esquisito, que fez Ethan comprimir os lábios para não resmungar sobre eu ter mais cuidado.
—Deveriam ter ido sem mim. Ainda preciso tomar um banho. —Afirmei, atravessando a sala até ele, que estava impossibilitando minha passagem para o corredor. —O que foi?
—Você está esquisita esses últimos dias. Parece perdida em qualquer lugar, menos aqui, na realidade. —Ethan murmurou, cruzando os braços na frente do peito. Os olhos verdes pareciam profundos e cansados no seu rosto magro e fino, o deixando com uma aparência muito mais velha, quando ele só tinha 21 anos, na verdade. Além dos cabelos castanhos estarem curtos demais, desde o dia que ele me entregou uma tesoura e me fez cortá-los em frente ao espelho no nosso quarto.
—Amanhã é o último dia do ano. Estou ansiosa pra poder ir até a superfície e um pouco nervosa por ter que me misturar com os outros setores. —Dei de ombros, porque era a mais pura verdade. Estar entre os da Zona Civil e Industrial não era um problema pra mim, porque eles eram tão quietos e desconfiados quanto nós.
Mas os soldados e todos da Zona Hospitalar estarão lá também. Eles trabalhavam diretamente para a Zona Presidencial, o que os fazia o topo da elite entre os setores. A minha era considerada uma das últimas na hierarquia, na frente apenas do setor 4. Mas A Zona Industrial estava na nossa frente, seguida pelo setor 1 e em primeiro, sendo os mais valorizados por aqueles no governo, a Zona Militar. Era engraçado pra mim como eles estavam no topo, quando nenhum de nós quer fazer parte deles.
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Em Destruição
Ficción GeneralO mundo sucumbiu as guerras e os países se tornaram ruínas. Agora, décadas depois, as pessoas precisam viver em zonas de contenção no subsolo, impedidas de ir além dos muros que cercam o complexo em que vivem. Cada um tem um papel crucial nessa nova...