Capítulo 18

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Apesar de o novo rei ter explicado o motivo que o levou a vetar minha ida ao festival itzan para os salvadores de Senka, eu ainda não concordava com aquela decisão e estava curiosa para ver como era aquele povo quando não estava tão amedrontado.

Encontrei Kardama durante o jantar, que agora já não era tão silencioso quanto antes.

— Onde estão a mamãe e o papai? — Anika perguntou para o novo rei, que estava sentado na ponta da mesa, em uma das maiores cadeiras.

Tínhamos sorte por Athal e Taoma estarem evitando os jantares, porque elas certamente diriam algo terrível, que Anika jamais entenderia. Encarei Hadria, que agora me dirigia um olhar assustado, então voltei meu olhar para o rei e ele respirou fundo.

— Nas masmorras — Kardama respondeu sem aparentar qualquer culpa e eu engasguei com o ensopado que estava comendo.

— Kardama! — Hadria levantou para tentar me ajudar enquanto repreendia o irmão.

— O que são as masmorras? — Anika perguntou confusa por causa da minha reação.

Eu ainda estava tossindo.

— Um lugar escondido — falei com dificuldade antes que o novo rei falasse algo mais.

— E eles são presos lá — Kardama continuou a explicar e eu lhe dirigi um olhar irritado.

Delicadeza não era uma das características das falas do novo rei, mas ele parecia esquecer que estava falando com uma criança.

— Presos? Precisamos soltar os dois então — Anika concluiu determinada.

— Não, eles estão presos porque foram muito malvados com outras pessoas — O novo rei de Senka explicou com calma.

— Como quando a mamãe machucou minha dandi para que não brincássemos mais na lama? — a criança perguntou.

Kardama franziu o cenho confuso, porque nunca havia escutado sobre aquela história antes, mas balançou a cabeça para afastar seus próprios pensamentos e retomou sua postura.

— Exatamente. Eles machucaram muitas pessoas e por isso ficarão presos até que aprendam que não podem ferir outras pessoas — O irmão mais velho explicou e Anika balançou a cabeça determinada para mostrar que havia entendido.

— Então agora minha dandi pode brincar comigo na lama? — a pequena princesa perguntou animada.

A rainha de Senka não participava ativamente da criação dos filhos. Ela preferia ocupar-se consigo mesma e ensinar apenas a etiqueta relativa ao título de nobreza que elas tinham. Como deveriam tratar outras pessoas ou como se comportariam em bailes e outros eventos.

Quem criava as crianças eram suas dandis, cada um tinha uma. Aquele era outro nome para ama de leite, a mulher que não apenas amamentava, como também vigiava, servia e garantia que estavam frequentando as aulas com os professores particulares da corte. Apesar de serem empregadas mudas como todas as outras, o constante convívio criava laços sentimentais entre os filhos do rei e elas.

A dandi de Kardama foi Randee, sua mãe. Elas eram dispensadas quando os meninos completavam doze anos de idade e as meninas tinham sua menarca. Era uma despedida triste e cruel para ambas as partes, já que normalmente nunca voltavam a se encontrar.

As únicas filhas da rainha que não tiveram dandis foram Athal e Taoma, por isso eram as mais próximas e parecidas com a mãe.

— Eu prefiro que você se mantenha limpa, apenas tome banho depois — o novo rei deu de ombros ao responder e Anika abriu um sorriso largo. — Você também pode visitar o rei e a rainha nas masmorras com Hadria quando quiser.

O Príncipe Sombrio [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora