Capítulo 23

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— Helene? — meu pai ficou surpreso quando sentei ao seu lado e o abracei.

Meu pai, o rei Malkiur, tinha o costume de sempre ler naquele horário. Eu não demorei a encontrá-lo no salão de estar e por isso me aproximei. Sentei ao seu lado no sofá que tinha tom escuro de verde e o abracei, como fazia quando era uma criança.

Ele fechou o livro que lia e o deixou de lado, mas não descruzou suas pernas. Seu braço abriu espaço para que eu me aproximasse, passando por cima de meu ombro. O abraço de papai era sempre acolhedor.

A verdade era que eu estava triste. A coroação ocorreria no dia seguinte e logo depois todos os convidados iriam embora, incluindo meus pais. Eu sentia que tínhamos passado pouco tempo juntos, já que sempre havia algum assunto que os reis precisavam resolver.

— Nós poderíamos ir à praia hoje — deixei meu convite subentendido.

Senka era um reino costeiro, com uma grande praia que ocupava todo o seu leste. Eu nunca havia visitado aquele local, mas também não tinha muito interesse. Como não conhecia nenhuma praia, não encarava aquele como um passeio divertido.

— Essa parece ser uma boa ideia — meu pai concordou, retirando seus óculos de leitura e olhando para mim com um sorriso.

— Vou chamar minha mãe. — Levantei animada e ele balançou a cabeça para concordar.

Também convidei Kardama, mas ele estava ocupado com os preparativos para a coroação e com a resolução das leis que já queria mudar. O rei sombrio também precisava dar atenção aos seus convidados.

Meus pais, Dahle, Leiala, o imperador uro, sua comitiva e eu éramos os únicos naquele passeio ao litoral.

O céu estava nublado e apesar da fina camada de neve que cobria a vegetação rasteira, a areia permanecia intacta. A barra do meu vestido já estava suja enquanto caminhávamos à beira d'água e minhas mãos estavam ocupadas com meus sapatos.

— Vocês deveriam fazer uma visita ao meu império em algum momento. Garanto que nenhuma vista é tão bonita quanto a dos penhascos de corais — Myrddin fez o convite quando parou de andar para encarar o mar. Meu pai riu.

— Seria a última bela vista que veríamos, porque não respiramos dentro da água — Malkiur comentou rindo e minha mãe tocou seu braço discretamente para dirigir um olhar de repreensão por sua fala indelicada.

Tentei conter uma risada e olhei em volta.

— Não desperte nossa curiosidade para as paisagens que nunca poderemos ver — reclamei e Myrddin sorriu.

— Vou mandar os melhores alquimistas ureas procurarem por alguma solução para esse problema — o imperador uro sugeriu. — Então você não terá nenhuma desculpa para não fazer visitas.

Arqueei as sobrancelhas e estreitei meus olhos quando percebi a diferença no tom de voz do imperador uro. Seus galanteios não eram uma novidade para todos os outros aliados, mas ainda eram desconfortáveis para mim.

— Nós vamos aguardar ansiosamente por esse dia — Nair respondeu antes que eu falasse algo do qual me arrependeria.

Segundos silenciosos deixaram claro o quanto a postura do imperador marinho tinha sido inconveniente. Myrddin continuou a me observar, mas logo balançou a cabeça para afastar os próprios pensamentos.

Meus pais se distanciaram pouco depois, porque distraíam-se com facilidade em suas próprias conversas. Parei de andar para observar os dois andando na beira d'água e sorri quando percebi os olhares que eles trocavam. Se o amor pudesse ser descrito por uma imagem, aquela seria a que surgiria em minha mente.

O Príncipe Sombrio [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora