Corujas e sapatos

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Nenhuma das coisas que se passaram nos filmes e livros de Harry Potter aconteceram nessa história.

Se olhasse bem através das fendas entre as grandes cortinas, da multidão de adolescentes agitados e de toda aquela variedade de corujas de todos os tamanhos e cores voando, conseguiria enxergar na parede mais ao fundo do grande salão encostados a um dos pilares, os garotos dançando ao som da música animada, por bem apenas um bailava, o outro resmungava ter sono e dor nas pernas.

Sirius estava de costas pro pilar, tinha os braços circulando a cintura alheia e tinha também a cabeça deitada no ombro do outro com os olhos fechados, já Remus mantinha um carinho contínuo nos cabelos do menino enquanto cantava a letra da música decorada.
Os corpos estavam grudados fazia uma hora inteira, a festa ainda duraria mais meia hora e só assim os quartos seriam abertos.
Os dois estavam cansados e queriam dormir, mas enquanto o relógio brincava de correr pra trás os colegas dançavam, gritavam e giravam pelo salão, em um momento ou outro alguns deles viam os dois garotos se amando e cochichavam ou sorriam pra eles.

O problema não era serem meninos, ou da mesma casa, ou até um monitor e um dos melhores jogadores da escola, e eu sei o que você deve estar pensando agora, como ser um excelente aluno e um ótimo jogador eram problemas? bem, pros fãs apaixonados era. Mas o real problema era um deles ser um Black, a reputação que era um fardo pra Sirius não fazia parte da personalidade dele mas as bocas e olhos curiosos não sabiam, ou melhor dizendo, não se importavam.
As aparências eram o que todos viam, eles viam um menino arteiro desde o primeiro ano, piadista mesmo nas aulas, cheio de rabiscos proibidos e um sorriso cínico característico de um Black.
Já Lupin, vinha de uma família conhecida por ter um bruxo corajoso (sua pai) e uma mulher trouxa (sua mãe), era sempre silencioso, esforçado, nunca quebrando regras, sempre simpático. O típico filho de um professor.

Apesar de todas as suposições só eles se conheciam e enxergavam no outro o melhor e o pior. Sirius era desde sempre muito fechado, fruto do descaso e as agressões da família, meses foram necessários para que os marotos soubessem da causa dos seus pesadelos todas as noites e mais tempo ainda foi necessário pra que ele aceitasse quem era e permitisse criar dentro de si amor - daquele que não teve contato - e entregar seu coração transbordando dele pra Remus.

Já Remus era inseguro em muitos aspectos, à noite seus olhos focados ardiam com o peso das lágrimas quando seu pai olhava desgostoso suas notas todo fim de semana, as maiores da classe nunca eram suficientes, ele não se sentia suficiente. Mas precisou acreditar em si quando Dumbledore lhe tornou monitor confiando assim a segurança dos alunos e quando viu que o menino e os amigos que o amavam nunca dariam isso a ele, pois era algo que precisava vir de dentro.

— Juro que vou jogar um feitiço naquele fantasma idiota. - Sirius reclamava a cada dez minutos sobre Pirraça, o mesmo havia soltado sacos com ervas pelos corredores dos quartos, os professores estavam enfrentando paredes e mais paredes de trepadeiras espinhentas da última vez que checou.

— Feitiços não funcionam com fantasmas Black. - repetiu pela terceira vez, o garoto o imitou e ganhou um soco no ombro pelo atrevimento.

— Ai, eu estava brincando - fez uma careta acariciando o local — ainda estou dolorido do treino.

Remus desviou um risinho contido.

— O que foi?

— James só te empurrou da vassoura, você mal encostou no chão e está aí cheio de dores, se se sente assim aos dezesseis anos imagine quando chegar aos sessenta. - o olhou com as sobrancelhas arqueadas escondendo uma risada, não conseguiu mais prendê-la ao ver a carranca brava no rosto do outro.

— Seu.. como ousa Lupin.. você, eu vou- vou acabar com você seu.. - Remus estava pra se afastar do menino com medo de levar um soco quando suas costas foram parar no pilar e sua barriga e costelas foram atacadas por mãos firmes, cosquinhas eram seu ponto fraco.

depois dos sessenta - wolfstarOnde histórias criam vida. Descubra agora