Já dizia o ditado

Único como essa fofoca

Alice Zuberg suspirou pesadamente enquanto olhava seu TCC. Ainda tinha alguns anos antes de entregá-lo para seu professor e ela gostava de ser adiantada, mas isso estava deixando-a cansada. Tinha tudo pronto: histórias de amor à primeira vista em contos literários, os prós e os contras, tudo, mas não tinha uma e era: uma história real.

Isso a deixava frustrada, afinal, onde ela iria tirar uma história verdadeira disso?

Sua cabeça doía só de tentar pensar num relato verídico. No fim, seus pais estavam certos, ela devia ter escolhido a faculdade de psicologia ao invés da de letras.

Seu celular tocou, a notificando que havia uma nova mensagem. Era de seu amigo de infância, Eugeo. Zuberg pensou em várias possibilidades antes de vê-la. Ela conhecia o rapaz, sabia que provavelmente seria alguma história sobre ele ter tropeçado em alguém ou ter passado vergonha em público, entretanto, o que recebera era diferente do que imaginava:

“Alice, tenho uma… Como era que diziam na escola? Ah, é! Uma fofoca! Tenho uma fofoca para te contar”, dizia a mensagem.

Sua sobrancelha esquerda levantou e um questionamento surgiu em sua mente: desde quando Eugeo fofocava? Desde quando ele se intromete na vida dos outros e as conta para outras pessoas? O loiro era uma pessoa consideravelmente reservada, quieta e respeitosa, ele nunca faria isso.

Todavia, a curiosidade da universitária era mais forte que ela mesma. Pegou seu celular e digitou:

“Me conte”, mandou de maneira fria. Não demorou muito para Eugeo responder.

“Prefiro ligar pra você… Estou sozinho em casa mesmo, e a história é longa”, disse ele.

“Está tudo bem”, tranquilizou.

Após um tempo, recebeu a chamada. A foto de Eugeo quando criança sorrindo apareceu na tela do celular. Atendeu tranquilamente e pôs o celular no ouvido.

— Alô?

— Oi, Alice! — A voz tranquila e calma apareceu na outra linha. — Como está? Está tudo bem? E o TCC?

— Estou bem, obrigada por perguntar. Meu curso anda me cansando um pouco, mas não é nada que você precise se preocupar. — Deu um suspiro longo. — E você? Como está?

— Muito feliz! — respondeu, animado.

— É mesmo, é? Por quê?

— A fofoca tem a ver com isso.

— Ah, é. Essa fofoca. — disse de maneira cansada.

— Por que você está desanimada?

— Eugeo, eu não era uma das “fifis” da escola.

— Fifis?

— Fofoqueiras… Na verdade, eu nem gostava das fofocas, eram sempre estúpidas. — Se levantou de onde estava e começou a olhar a paisagem através da janela. — Fora isso, acho chato quem se intromete na vida dos outros.

— M-mas… N-não é sobre outra pessoa…! — afirmou, nervoso.

— Então é sobre quem?

— É sobre mim…

A boca de Alice formou um perfeito “O”, suas sobrancelhas se levantaram e sua curiosidade aumentou. Eugeo era reservado demais para contar sobre sua vida, isso era algo inédito.

— O que aconteceu? — perguntou.

— Então, Lice, foi assim… Oh, ‘pera — Ouviu um barulho de panelas.

— Cozinhando?

— Sim!

— Pensava que você só cozinhava para você mesmo nos finais de semana.