Second Chapter

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Take a piece of my heart
And make it all your own
So when we are apart
You'll never be alone
You'll never be alone

EMILIANO RIGONI

A probabilidade da minha — que tecnicamente não era minha — morena ser a minha vizinha, era mínima. Mas por algum motivo, o momento em que ela tocou em minha mão, não saia da minha cabeça.

E isso estava me fazendo ficar ainda mais pensativo, causando uma total desatenção em mim. Carla tentava dialogar comigo mas só assentia e murmurava palavras de afirmação. Quando ela viu que não conseguiria minha atenção, disse que me mandaria tudo por e-mail e foi embora. A casa estava vazia novamente e eu daria o que fosse necessário para ter minha morena no mundo físico também.

Os sonhos começaram a alguns meses, quando recebi a proposta de vir jogar no São Paulo, e ela simplesmente apareceu, com seu sorriso e olhos marcantes. Ganhou meu coração no mesmo instante e agora, me via ansioso todos os dias antes de dormir.

Porém agora, me encontrava em uma total confusão de como e porque me senti assim, quando Lírio me tocou ontem.

— Seria impossível. — Luciano disse, após eu ter explicado absolutamente tudo.

Ele e Daniel, eram — até agora — os meus únicos amigos, já que o restante do time não foi muito bem com a minha cara. Os mesmo disseram que brasileiros não se dão tão bem com argentinos, mas, que culpa eu teria?

— Não é não. — Dani discordou. — As vezes essas coisas acontecem. — Deu de ombros. — Destino.

— É. — Concordo com ele.

— Então chega nela, manda o papo e bum. — Gesticulou e sorriu ao terminar sua fala, achando te transado bem.

— Goiano e suas pressas. — Daniel ironizou e Luciano lhe respondeu com o dedo do meio, me fazendo ficar um pouco confuso.

Suspiro frustrado. Minha vontade era de tentar conhecê-la e ver se algumas coisas dela, batiam com a da morena dos meus sonhos — literalmente —, que eu ainda não conseguia lembrar do rosto, apenas dos olhos, e claro, do beijo.

— Não é ela. — Luciano disse, me assegurando.

— Mas mudando de assunto, sobraram desses biscoitos? — Daniel pergunta.

— Sim, lá na cozinha. — Respondo.

❍ ❍ ❍

LÍRIO VILHENA

O som de uma das músicas do Sam Smith, tocava ambiente e fazia a livraria ficar ainda mais confortável aos leitores, que liam nas mesas livres, que ficavam na frente da livraria e no interior dela. Era admirável observar cada um, com sua distintas reações a cada página. Amava aquilo.

As crianças da roda de leitura, ouviam atentamente, Leila contar a histórinha da Bela e a Fera, que sem dúvida alguma, era a minha favorita. O tintilar do sinhinho, me fez levantar o olhar das plantas até a entrada, vendo uma moça entrar, a mesma mulher que vi no dia que meu vizinho se mudou.

— Oi, bom dia. — Cumprimentou, ao se aproximar do balcão, com um sorriso largo no rosto.

— Bom dia, como posso ajudar? — Pergunto, lhe retribuindo o sorriso.

— Estou a procura de um livro especifico, e gostaria de saber se aqui tem. — Ela disse, olhando ao redor e voltando o olhar a mim.

— Pode me dizer o nome?

— Rápido e Devagar, do...

— Daniel Kahneman. — Completo. — Eu já li esse, fala sobre os segredos da mente humana.

Digito o nome da barra de pesquisa da livraria, para verificar se ainda tinha no estoque e acho o mesmo, voltando a olhá-la que me esperava ansiosa.

— Você sabe que ele é sobre a mente humana, né? — Indago, e ela morde o lábio fazendo uma careta.

— Não, eu nunca havia entrado em uma livraria antes. — Respondeu e riu. — O livro não é para mim.

— Entendi. — Digo. — Leila, — chamo minha funcionária — pega esse livro aqui na sessão doze pra mim?

— Claro, chefe. — Sorriu.

Pedi que ela acompanhasse Leila, e as vi indo na direção onde estava o livro. Suspirei fundo e decidi ir ver como Cris estava, pedi para um dos funcionários ficar no caixa bem rapidinho, e me direcionei ao escritório. Dei duas batidas na porta, em um ritmo que somente nós duas conhecíamos e ouvi a autorização.

— Como vai minha escritora? — Pergunto, ao entrar pela porta.

— Sem saber como prosseguir a partir daqui. — Murmurou e fez beicinho.

— Deixa eu ler? — Ela assentiu de imediato.

"Ele estava eufórico, havia acabado de conhecer a mulher na qual, esteve presente em seus sonhos por meses. O beijo dela lhe fez lembrar."

— Ai que lindinho, eu amei. — Digo, animada e bato palmas.

— Não, está não. — Resmungou. — Preciso refazer e quem sabe se vou incluir isso no livro.

Suspirou frustrada e acariciei seus cachos. Desde que a conheço, ela sempre foi uma devoradora de livros assim como eu, não foi atoa que a livraria do meu pai nos uniu. Quando ela começou a escrever, fui uma das primeiras a apoiar.

O lançamento do primeiro livro foi exatamente aqui, quando minha mãe ainda estava viva.

— Quer sorvete? — Pergunto.

— Quero sim.

*

— Diego, odeio você. — Digo ao meu ex-namorado, que sorria abertamente do outro lado da tela.

Bombom, você precisava ver. — Disse. — Fui um fracasso.

Ele contava alegremente, como havia sido um desastre no trabalho, falhando abruptamente no primeiro dia cuidando dos animais da fazenda que foi contratado. Diego e eu namoramos por bastante tempo, mas terminamos quando uma lunatica disse que ele havia me traído, eu não acreditei mas Cris e Flor acreditaram, então me falaram que o certo era terminar.

Como sempre dei ouvidos ao que elas diziam, o fiz para preservar o mínimo de respeito que tinha pela opinião delas. Mas ainda sentia falta de conversar por horas com ele, que foi o meu primeiro — e julgo ser único — amor. 

— Escorreguei várias vezes, meus alunos riram bastante. — Contou. — Mas foi bem proveitoso.

— Que bom, aposto que eles já sabem o que não fazer. — Falo e ele concorda. — Estou morrendo de saudades.

Nem me fale, parece que as horas longe de você, são anos. — Choramingou. — E como está tudo por aí?

— Está tudo bem. — Respondo.

Cris e Flor? Ainda me odeiam?

— Bem também. — Digo. — E não, elas não odeiam você. —Minto n

Ficamos mas alguns minutos conversando, até ele se despedir alegando que estava com sono, então tive que dizer tchau a ele. Bufei ao ver a tela se apagar e senti meu coração apertar. Ainda não conseguia acreditar que ele havia feito algo contra mim, sempre foi um homem romântico — até mais que eu —, e me conquistou com isso.

Namoramos e quase noivamos. Depois da morte da minha mãe, ele foi meu sustento em meio a destruição.

**
ai ai esse Lírio

𝐒𝐨𝐧𝐡𝐨𝐬 & 𝐑𝐨𝐬𝐚𝐬 ━━ Emiliano Rigoni Onde histórias criam vida. Descubra agora