Irreversível

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Ele não fazia ideia de quantas horas eram.

A única coisa que sabia era que estava há horas ali, jogado sob a porta de Sakura, esparramado no piso frio enquanto olhava o aparelho celular — que foi desligado em algum momento, já que a insuportável da Yamanaka não parava de ligar. Dormia, acordava, chorava e repetia o processo já há algum tempo.

Ele não sabia o que fazer, apenas deixava as lágrimas rolarem e esperava que a Haruno tivesse piedade dele em algum momento. Simplesmente não passava por sua cabeça a reação da rosada, ele não sabia o que haviam dito para ela, mas aquilo havia colocado-a contra ele, fazia Sasuke parecer seu inimigo. Doía em seu ego aquela rejeição, doía que o maldito Hyuuga — que por sinal estava lá dentro, fazendo sabe-se lá o que com a garota — o subestimasse, agisse como se estivesse por cima, como se Sakura o amasse.

E doía admitir que era o que parecia.

Sakura Haruno não pensou duas vezes antes de enxotá-lo de sua casa, antes de pisar sobre tudo o que eles eram. E ainda assim, Sasuke estava ali.

Doía estar ali, mas o coração do Uchiha não pedia nenhum outro lugar.

Queria arrombar aquela porta e lembrar a sua namorada, detalhe por detalhe, como ela o amava. Queria expulsar Neji para sempre, queria gritar para o mundo que ela era sua e queria que fossem felizes juntos. Até o final.

"Lembro também do quanto você me odiava no final. Se não fosse ela, nem sei o que teria acontecido... você se lembra?" A voz da Haruno ecoou em sua mente, as palavras embaralhando-se em um looping sem fim.

Sasuke não sabia o porque, o ódio simplesmente viera naquele dia. Estava tão cansado, eram cobranças o tempo todo, da faculdade, de Sakura, de sua família, de Naruto, de Ino... ele se sentia tão puto por não poder viver sua vida que ficou cego. Era um inferno, cada dia em que voltava para o apartamento dos dois era como três anos no purgatório; Sakura estava tão diferente do começo, paranóica a um nível que o assustava, doente — eram raras as semanas em que ela não pegava uma gripe sequer — e estranha, desleixada. Às vezes parecia mesmo louca, e tudo era responsabilidade dele, especialmente depois que a rosada parara de conversar com os pais. Não suportava mais sua presença, Sasuke não queria uma filha para si, ele queria viver, queria ser prioridade na própria vida e não aguentava mais ouvir a família dizer o quanto ele a destruiria se rompesse, o quanto a Haruno não merecia isso.

E então tudo saiu do controle.

Lembrava daquela sexta feira como se houvesse acontecido no dia anterior, ele se sentiu tão aliviado com o fim da semana, ter em mente que poderia descansar um pouco o deixava relaxado. Aproveitou que Sakura ficaria até tarde da noite no estágio, — agradecia tanto a Deus por alguém finalmente ter notado a Haruno no hospital e resolvido se aproveitar de sua boa vontade que não sabia explicar, já que graças a isso a rosada estava finalmente deixando-o respirar um pouco — comprou algumas frutas e chocolate para fazer fondue, e levou Ino Yamanaka para o apartamento que ela já conhecia bem.

O início da tarde correu tão bem, eles haviam almoçado uma lasanha que a Haruno fizera no dia anterior, beberam vinho e tomaram banho juntos, para depois irem para o quarto do casal, onde o Uchiha usara parte do chocolate para brincar com a Yamanaka. Transaram tantas vezes que já não sabiam que horas eram, quem eles eram, onde estavam, o que estava acontecendo.

Foi quando o pior aconteceu.

Era noite quando as chaves de Sakura fizeram barulho para destravar a tranca e a rosada abriu a porta de sua casa, ouvindo os sons que o Uchiha se arrependera amargamente de emitir. Ele gostava de dizer a si mesmo que teria parado se tivesse a escutado chegar, mas Sasuke sabia que não pararia. E isso o machucava tanto.

Qᴜᴀɴᴅᴏ (Nãᴏ) Cᴏɴᴛʀᴀᴛᴀʀ Uᴍ Nᴀᴍᴏʀᴀᴅᴏ ᴅᴇ Aʟᴜɢᴜᴇʟ, NᴇᴊɪSᴀᴋᴜOnde histórias criam vida. Descubra agora