Falta

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Depois de ter conseguido contar pros garotos como eu tinha vivido até conhecê-los as coisas ficaram mais leves, esconder algo desse tamanho era desconfortável e eu sabia que eles também se sentiam assim, principalmente James, o James de onze anos foi a pessoa mais irritante que eu conheci até hoje e quando ele estava irritado era capaz de estressar até as estátuas de Hogwarts.
Ao longo dos anos nós ficamos mais próximos, situações fizeram com que colocássemos nossa confiança uns nos outros à prova e ao contrário do que o eu de 14 anos que ainda não havia se acostumado com a idéia de ser amado pensou, nós conseguimos, quando Pedro caiu no lago negro pra ajudar um gato morcego do Hagrid, Peter foi o primeiro a pular pra tira-lo de lá, quando Remus nos contou da mordida Pettigrew fez questão de colar um pergaminho atrás da porta do nosso quarto com todos os passos pra se tornar um animago e nos fez inclusive ler e decorar tudo até estarmos prontos pra fazer, quando eu quebrei o pé num jogo contra a sonserina todos eles me ajudaram com as poções e as lições nas aulas que não pude ir, mesmo sabendo que não tinha sido um acidente e o jogador que me machucou fez isso porquê eu mereci, não me julgue eu não sabia que justo aquela era a namorada dele.

A questão é, eu finalmente tinha amigos e mais que isso, eu tinha uma família, uma família estranha e barulhenta e sem nenhuma ligação de sangue, mas ainda assim uma família.

James era e ainda é meu melhor amigo (hoje em dia é segundo melhor por causa do Remo, e ele finge que não se importa), a família dele me acolhia em todos as festas e feriados e sempre deixavam um colchão à mais no quarto dele pra mim, idéia dele. Ele foi o primeiro a quem eu contei que também gostava de garotos, a cara dele de quem já sabia me pegou de surpresa. Todas as festas em que fui escondido na sonserina ele quem acobertou, me fazia acordar cedo no outro dia mesmo eu estando de ressaca, mas sempre com uma xícara de chá nas mãos pra minha dor de cabeça. James nasceu só um mês antes de mim e ainda assim quem nos via mesmo de longe sabia que ele era como um irmão mais velho.

Já Peter era o mais novo dos quatro e consequentemente o mais medroso, ele tinha medo de absolutamente tudo mas nunca me deixava na mão por isso, mesmo com medo ele ia a todos os lugares comigo, jogar snape explosivo com as crianças baixinhas da rua do tranco, colocar cola nos bancos dos ladrões no Cabeça de Javali, correr Hogwarts inteira fugindo dos batedores furiosos da corvinal após uma briga, tudo e para qualquer coisa ele estava comigo, sempre me animando nos momentos de tensão ou me confortando, do jeito dele, com balas e sorrisos nos momentos tristes.

E tinha Remus... eu passei muito tempo pra entender o que ele era pra mim, eu lembro de aceitar o convite dele pra dormirmos juntos depois de um pesadelo que me fez ficar horas acordado, foi a noite de sono mais tranquila que eu tive. E depois disso sempre que eu podia estava enfiado nos lençóis dele, até ele me expulsar de lá no quinto ano porque segundo ele eu cheirava a sonserino e whisky de fogo. Eu sabia que gostava dele, mas depois daquele dia eu fiquei confuso e triste e não sabia o que fazer porque eu adorava aquele cheiro e gostava mais ainda de dormir sentindo ele.

— E eu não sei porque porra eu não consigo dormir, eu só, eu.. eu sinto tanta falta disso, sinto falta do seu abraço quando a gente vai dormir e do seu carinho no meu cabelo - a essa altura minhas bochechas estavam tão vermelhas quanto as dele mas eu não conseguia parar de falar, eu sentia que se parasse ia chorar e eu não queria chorar — e do barulho que você faz quando ron-

— Ei eu não ronco Black. - exclamou pondo as mãos na cintura.

 — Ronca sim Remus, você ronca baixinho tipo uma vassoura com problemas. - sorri ainda com os olhos molhados e ele sorriu também  — Eu sinto sua falta lupin.

— Eu também Sirius. - suspirou deixando as mãos caírem ao lado do corpo, ele se mantinha do outro lado da cama no início da conversa mas foi se aproximando até estar sentado ao meu lado, nossos joelhos se esbarrando.

— Então, você não ta mais com raiva de mim? - perguntei baixo.

— Não Sirius, não estou com raiva de você, nunca estive na verdade. Eu estava com ciúmes de você e tinha acabado de lavar meu lençol, não ia te deixar sujar ele. - suspirou  usando as pontas dos dedos para secar uma lágrima teimosa que caira.

— Porque?

— Porque estava limpo horas e e-

— Remus - o repreendi — porque não me disse que estava com ciúmes?

— Sirius amigos não deveriam sentir ciúmes.

— Amigos não deveriam sentir ciúmes, amigos não deveriam dormir juntos, amigos também não deveriam querer se beijar, m-mas - respirei fundo ao sentir a mão dele em meu rosto o-trazendo pra cima, me encarando — mas eu quero.

— Não precisamos deixar de ser amigo pra fazer essas coisas Sirius, mas não dá pra ser só amigos, você entende não é? - acenei e ele sorriu, o sorriso dele me fazia sorrir e até hoje eu não sei porque demorei tanto pra entender aquilo. Eu me apaixonei por Remus antes de saber o que isso significava.
Os olhos dele ficavam tão brilhantes conforme ele se aproximava, a mão que antes acariciava meu rosto estava na minha nuca, o carinho que eu sentia falta, quando nossos narizes se tocaram foi como se todo os barulhos fossem abafados e eu só sentia meu coração bater mais forte, a respiração quente no meu rosto, quando os nossos lábios se encostaram mil borboletas dançaram felizes no meu estômago e toda vez que o beijo ganhava mais movimento elas davam cambalhotas na minha barriga.
— Quer namorar comigo Lupin? — meus lábios mantinham o maior sorriso que eu tinha dado até aquele dia, nossos peitos subiam e desciam rápido procurando por ar.
— Quero Black.
— Já posso te agarrar? - falei e Remus gargalhou, as bochechas ganhando um tom de vermelho, ele deixou um tapa fraco na minha perna e me beijou de novo.

Quando as coisas acalmaram eu pude ver como estávamos, ele tinha uma das mãos no meu braço enquanto falava algo empolgado e ele não parecia ter notado mas a perna dele estava em cima da minha, não era uma posição desconfortável pra nós já que eu estava o tempo todo com ele desde sempre, em algum momento ele ia abraçar um braço meu enquanto íamos pra sala de aula ou eu iria deitar nas pernas dele no salão da grifinória e ficar lá até ele fazer carinho no meu cabelo, naquele momento a forma que estavamos não era desconfortável mas era diferente, quanto mais perto ele estava mais perto eu precisava senti-lo.
Quanto mais ele ria mais eu beijava seu pescoço, e em algum momento perdido entre os beijos e as carícias eu simplesmente deitei em seu ombro e enterrei meu nariz ali sentindo seu cheiro enquanto ele abraçava minhas costas e fazia carinho em meu cabelo.

Depois de um banho, do jantar e das muitas perguntas de James do porque eu estava sorrindo tanto e se aquilo significava que ele e Pedro precisavam enterrar algum corpo, eu fui todo contente pra cama alheia, Remus ria e me olhava balançando a cabeça como se eu fosse uma criança ganhando um doce, mas ele estava tão satisfeito quanto eu e ele podia esconder se quisesse mas eu sabia.

Não lembro o que mais me fez rir naquele dia, os sons de vômito que os meninos faziam nas camas ao lado quando olhavam pra nós ou Remus tão envergonhado que fechou a cortina da cama, mas não sem antes ameaçar azarar Pedro.
Depois desse dia nunca mais dormimos separados.

depois dos sessenta - wolfstarOnde histórias criam vida. Descubra agora