Antes de substituir Bianca no hospital a tia Yolanda vai à casa da minha sogra, sua irmã, para saber se ela tem notícias de Júlio. O meu marido continuava sumido.
— Tia Yô! Quanto tempo a senhora não visita a gente! Veio almoçar?
— Oi, querida. Não. Não vim almoçar. Vim falar com a sua mãe. Chama ela pra mim, Patrícia?
— O que houve, tia? A Dé piorou? A senhora está tão séria. Parece chateada.
— Só preocupada, meu anjo. Você sabe dizer se o seu irmão ligou para sua mãe, Patrícia?
— Se ligou eu não sei, tia. A mãe, a senhora sabe como é, vive no segredinho com a Raquel. E se o assunto é o mano, mais segredinho ainda.
— Patrícia! Sempre mexeriqueira, menina! Vai procurar o que fazer! Eu atendo a minha irmã. Vai!
— Não precisa gritar, mãe! Eu já estou indo. Tchau, tia. Apareça mais vezes. Eu sinto saudade da senhora.
— Também sinto saudade de você, minha linda. Vai lá na minha casa me ver quando quiser, meu amor.
— O que você quer agora, Yolanda? Se é para voltar com aquela conversinha de que eu tenho que ir ver aquela moça; que ela é mulher do meu filho, e blá blá blá. Perdeu seu precioso tempo.
— Não, Fernanda. Na verdade, é melhor mesmo que você não chegue nem próximo de onde Débora está. Essa sua energia ruim pode fazer mais mal para a menina. O que eu vim aqui saber é onde se meteu o seu filho? Sim, porque eu tenho quase certeza que você sabe onde o Júlio se enfiou, no momento que a mulher mais precisa dele.
— Não seja paranoica, minha irmã. Sabe melhor do que eu, que o meu filho está viajando a trabalho. Afinal é você quem vive dentro da casa dele.
— Essa é a questão, o seu filho não está sendo encontrado nem mesmo na empresa onde trabalha. E como eu conheço você, minha querida irmã, tenho absoluta certeza que essa sua calma fria significa que você sabe mais do que está dizendo.
— Sabe qual é o seu problema, Yolanda? Não ter nada para fazer. É. Viúva, sem filhos. Muita ociosidade e mente vazia para engendrar as piores teorias de conspiração. Minha irmã, vai lá fazer o que você mais gosta, que é paparicar aquela gente, que tanto ama. Eu realmente não sei de nada.
— Eu vou sim, Fernanda. Apenas um aviso: seja lá o que for que estiver acontecendo, uma hora tudo se esclarece. E eu espero do fundo do coração, que o meu sobrinho Júlio não esteja envolvido com nenhuma das suas sujeiras. Cedo ou tarde a conta vai chegar e você irá pagar caro.
— Chega, Yolanda! Adeus, irmãzinha. Vê se me esquece.
Tia Yolanda apenas se vira e vai embora. Ela conhecia bem a irmã e sabia que com dona Fernanda não encontraria qualquer informação.
Já no hospital: Bia estava saindo com a chegada da tia Yolanda, e lembrou que o doutor Luciano precisava falar com ela. Perguntou a uma enfermeira onde poderia encontrá-lo. Nem saiu do lugar ao perceber que o médico se aproximava, já sem o jaleco e vestido casualmente de calça jeans e camisa de tecido de mangas compridas dobradas até os cotovelos. Ela apenas ficou parada olhando e admirando o quanto aquele homem era bonito.
— Já está indo? Cheguei na hora certa. Vamos?
— C-como?... eu estava procurando o senhor...
— Estou encerrando o meu plantão hoje. Gostaria que almoçasse comigo e a gente conversa. Pode ser? — ele não esperou que ela saísse do congelamento momentâneo e foi a rebocando com a mão firmemente no seu cotovelo, até estarem fora do hospital.
— Doutor Luciano, me desculpe, mas, não posso almoçar com o senhor. Não tem como me falar agora, aqui?
— Não quer me fazer companhia no almoço? Imagino que vá almoçar, não é mesmo?
— Não, quer dizer, sim! É que...
— Sei que você tem que trabalhar. Por isso, vamos num restaurante pequeno de comida caseira aqui próximo. Depois te deixo onde quiser.
Realmente não dava para resistir aos argumentos daquele homem e a minha prima nem mais tentou. Seguiu de perto ele até um restaurante pequeno e bem aconchegante numa rua próxima ao hospital. Enquanto aguardavam a comida ser servida, Bianca se manteve quieta, calada. Apenas aguardava para saber o que o médico poderia querer conversar com ela.
— Olha só! Não é da minha natureza ficar enrolando uma situação que eu desejo resolver. Percebo que você não fica muito confortável na minha presença. Por quê?
— Na verdade, não nos conhecemos exatamente, não é? O senhor é o médico que está cuidando da minha prima. E, que por uma displicência minha, acabou encontrando o terrível bilhete que pode ter causado esse choque nela. Talvez não seja uma boa ideia o senhor se envolver numa situação desconhecida e que nem sabemos os riscos que isso possa trazer.
— Agradeço a sua preocupação comigo, mas como eu estava dizendo antes, gosto de ser claro nas minhas intenções. E nesse momento tenho duas: me envolver sim nessa trama, que veio parar em minhas mãos. E, tentar conquistar sua confiança, e por enquanto, sua amizade. Não sou de rodeios, Bianca. A verdade é que estou completamente encantado por você e sinto a necessidade de te ajudar. De proteger você seja lá de que diabos esteja acontecendo!
Diante de palavras diretas e cruas, Bianca não conseguiu evitar o suspiro de surpresa, o rubor das faces e o brilho intenso nos olhos.
— Doutor, eu... — Bia não conseguia falar nada.
— Para começo de assunto: Me chame apenas de Luciano. Espero que a nossa diferença de idade não seja um empecilho. Vejo que você é ainda muito jovem. Meu receio e respeito é quanto a esse anel... que vejo aí no seu dedo. Você é mesmo noiva?
— Sou...
— Mas...?
— Doutor Luciano, como o senhor sabe estou passando por um momento bem confuso. A minha prima num hospital, um bilhete estranho, ameaçador, terrível. Definitivamente não estou com cabeça para nada que não seja a recuperação da minha prima e a explicação para o que está acontecendo. Agradeço de coração tudo que está fazendo e o apoio que nos oferece. Mas não acho que deva se envolver em algo que não tem nada a ver com o senhor. Não nos conhece. Nada sabe sobre nós.
— Não acho que está numa condição de rejeitar ajuda. Não sou uma pessoa supersticiosa nem nada parecido. Só que não acho ter sido um acaso eu ter encontrado aquele bilhete. Como não é uma ilusão eu ter me interessado por você. Sou um homem de trinta e oito anos e não um moleque irresponsável. Quero te conhecer. Quero fazer parte do seu mundo, mesmo que seja apenas como um amigo.
— O que posso lhe dizer neste momento, é que não consigo pensar em mais nada que não seja a recuperação da minha querida prima. Somos apenas nós três como família e temos que cuidar um do outro. Agora mais que nunca. Bem, eu realmente preciso ir. Tenho uma aula para dar às 14h. — Bia começa a pegar a bolsa para deixar o seu valor do almoço.
— Por favor! Não me rejeite a esse ponto. Eu a convidei para almoçar.
— Desculpe, não tive a intenção.
— Vou te levar para casa. E não aceito recusa. Vamos!
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NOSSA VIDA
RomantizmDébora e Rafael, dois jovens de vidas muito diferentes se encontram num momento dificil para os dois, mas que une definitivamente suas vidas. Débora está frugindo de um momento de grande sofrimento, decepção e desilução e Rafael deixou para trás um...