Capítulo 44 - Lian

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Logo após Amenom retornar da caçada com Josh, ele, junto de Lian, foram para a Taberna ter com Bart e Will. A essa altura, Samantha já tinha voltado e ainda estava ressentida com toda a história, recusou-se a acreditar e não queria se separar de Will, que tinha como filho, mas depois de muito conversarem ela entendeu que ele seria mais feliz assim e deu a bênção ao casal.
Os dois arrumaram tudo que precisavam para mudar de continente, depois todos os cinco rumaram a cidade onde um barco já os esperava e lá se despediram com muita emoção. Em um momento, antes de zarpar, Will chamou Lian em um canto para entregar um papel, onde haviam varias dicas verdadeiramente picantes para os momentos mais íntimos. O garoto corou vendo que o amigo falava sério sobre os conselhos sexuais, sem ter muito o que falar, agradeceu e disse que tentaria usa-las quanto antes. Amenom também recebeu um papel de Bart, mas esse eram só instruções para Josh, que assumiria o cargo de comandante do pequeno exército.
O ruivo, já no convés, insistiu para que Samantha viesse com eles, mas ela negou, dizendo que o momento era dos dois e agora deveria viver sua própria vida, mas reforçou com muito severidade que deveriam tentar visita-la pelo menos uma vezes por ano.
Depois retornaram para suas casas, a taverneira disse que logo arranjaria outro alguém para ajuda-la, preferencialmente uma criança, mas iria esperar para ver isso. Os dois se preocuparam com a moça, que dizia estar bem. De fato, ela tinha entendido tudo e aceitou a situação, mas superar um filho leva um tempo. Antes de irem, Samantha disse brincando que deveriam aparecer mais vezes na Taberna, já que tudo era culpa deles.
Obviamente, durante todo esse tempo, Amenom pensou muito em Lian, o olhando diversas vezes ao dia, remoendo o fato do romance ser praticamente impossível. Porém, decidiu-se que em algum momento iria declarar o amor que sentia, mas antes precisava entende-lo, e, principalmente, criar coragem para tal.
Durante a noite, sozinho em seu quarto, enquanto Amenom pensava em como chegaria em Lian, acabou ficando animado com sua imaginação fértil e se aliviou várias vezes, com um desejo crescente pelo vizinho de quarto. Em um momento, Alguém bateu na porta assustando-o e obrigando-o a se vestir novamente. Era Lili que veio trocar a água, ela estranhou como ele estava tão suado e, percebendo isso, o príncipe disse que estava fazendo alguns exercícios. O susto fora tão grande que, depois que ela saiu, o rapaz não conseguiu entrar no clima novamente e resolveu ir comer alguma coisa.

~~~

Passaram-se algumas semanas e a justa estava cada vez mais próxima. Em um dia, enquanto tomavam café, Lian perguntou quando era o aniversário de Amenom, descobrindo que havia apenas dois dias de diferença entre o seu e o dele. Os dois riram por nunca terem tido essa curiosidade antes e prometeram surpresas um no aniversário do outro. Não aconteceu nada de realmente relevante depois disso e então, no dia seguinte algo interessante aconteceu.

- Amélia chegou ? - perguntei levantando com um pulo, fazendo toda a mesa do café da manhã balançar.
- Aham - disse Lili - estão abrindo os portões pra ela agora.
- Oh, meus Deuses, eu não preparei nada, nada mesmo - olhei em volta - minhas roupas, separe minhas roupas... Não, melhor, vá por a mesa... AAA INFERNO, separe minhas roupas e mande alguém por a mesa!
- Certo - a calma de Lili era tão contrastante com minha ansiedade que tinha vontade de chacoalha-la até uma reação sair.
- Vou acorda Amenom! - corri para o seu quarto e tentei abrir a porta, mas ela estava trancada por dentro - Pelos sete!
Bati nela repetidas vezes enquanto o chamava.
- AMENOM, ABRE LOGO, ANDAAAAA.
Ele então saiu, com um lençol cobrindo o importante e com sua espada na mão. Ainda estava lesado de sono e tentava acompanhar meu desespero.
- O que aconteceu ? Ta tudo bem ? - pericia realmente preocupado.
- Lógico que não, Amélia acabou de chegar e você está ai dormindo, vá se vestir de uma vez !
Ele me encarou então respirou aliviado.
- Nossa, pensei que algo havia acontecido com você...
Devo dizer que isso me fez corar. venho reparando-o nesses últimos tempos, ele tem me dado mais atenção e tem se preocupado mais. Normalmente acharia isso um saco, mas, surpreendentemente, não ligo... Não digo que gostava, mas... bem, não desgostava.
- Mas aconteceu algo comigo - disse recuperando-me.
- O que ?
- repúdio a sem vergonha pelado - empurrei-o para dentro - vista-se.
Fechei a porta e corri para meu quarto, havia uma peça de roupa cima da cama, era formal, mas nem tanto, encaixava perfeitamente na situação.
Já pronto, sai do meu quarto e fui novamente ao do príncipe, dei um murro na porta apenas para alerta-lo e fui para o salão.
Dei uma rápida olhada na mesa e tudo parecia correto, mandei apenas que tirassem o mamão, afinal, Amélia os detesta. Dei uma ultima arrumada na roupa e sai para o pátio.
Finalmente, podendo respirar um pouco, avistei Amélia já fora de sua carruagem, conversando com Lili.
Ela estava acompanhada de uma comitiva consideravelmente pequena, havia apenas três homens a cavalo, pouco mais de dez a pé e, logicamente, sua bela e, aparentemente, nova carruagem grená.
Conforme me aproximava, reparei bem em como estava. Parecia-me bem, estava com uma cara levemente corada, seu cabelo castanho estava amarrado em um interessante coque caido e as roupas eram lilases com detalhes amarelos. Não tinha certeza se era impressão minha, mas Amélia aparentava ter engordado um pouco desde a última vez que nos vimos.
Assim que avistou, abriu um grande sorriso, e veio andando em minha direção.
- Lian... - disse segurando minha mão, estranhei não ter abraçado, mas tudo bem, já estava feliz por vê-la - estou tão feliz de estar aqui.
- Ah, Amélia, senti tanto sua falta... - segurei fortemente suas mãos
- Como você está, querido ?
- Estou ótimo, tenho passado muito bem por aqui.
Ela olhou em volta, analisando bem todo o castelo. Estava evidentemente curiosa, afinal, só esteve aqui uma vez a muito tempo.
- Deve estar mesmo, esse lugar é tão bonito!
- Imagina, nem se compara a Árvore, ele está no máximo conservado.
- Deixe disso, é adorável de qualquer forma.
- Obrigado - sorri.
Ela olhou atrás de mim procurando algo, e então disse:
- Onde está Amenom ? Não o vejo por aqui...
- Bem, ele acabou atrasando um pouco... - fui interrompido pelo barulho da porta principal do castelo abrindo.
A figura de Amenom surgiu completamente vestida e bem arrumada.
- Estava só esperando para ver se alguém sentiria minha falta - disse se aproximando.
- Alteza - falou Amélia curvando-se levemente, enquanto toda sua comissão fazia uma reverência um pouco mais elaborada.
As vezes me esquecia como ele era tratado pelas pessoas de fora, estava tão acostumado que a ultima vez que me curvei foi quando... bem... acho que quando nos conhecemos.
- Como vai, Amélia ? - estendeu a mão para ela
- Estou bem, obrigada - deu-lhe sua mão e Amenom deu um rápido beijo nela - E o senhor ?
- Melhor impossível - respondeu - não gostaria de entrar ? Tem uma mesa de café te esperando aqui dentro.
- Proposta tentadora, acho que vou aceita-la.
Parece que eles estavam se dando muito bem, o que, imagino, é muito bom.
Amélia então entrelaçou nossos braços e me puxou pra dentro, pedindo para lhe mostrar todo castelo depois do café.
- Então, Lian... - começou Amélia já sentada - quem é essa moça que me recebeu ?
Fiz sinal para que Lili se apresentasse.
- Sou Liliana da casa Umber, é um prazer conhece-la, senhora - fez uma leve reverência
- O prazer é meu... - a analisou curiosa - o que você faz por aqui ?
- Sou serva pessoal e acompanhante do senhor seu irmão.
- Ah, então é uma dama de companhia ?
- Não, não é uma dama de companhia - intervi - é uma serva pessoal e acompanhante.
- Uma dama de companhia! - reafirmou.
Revirei os olhos perante a verdade, não gostava muito da ideia de ter uma dama, mas fazer o que. Pelo menos gostava de Lili.
No decorrer do café notei que Amélia não parava de comer, que ela comia, comia e comia sem parar. Certo, talvez eu tenha exagerado um pouquinho, mas para o tanto que costuma comer era bastante.
- Que foi ? - perguntou percebendo meu olhar.
- Nada, é só que você está comendo mais do que eu lembrava...
Ela deu um leve sorriso, limpou a pouco com um pano e levantou-se lentamente.
- Bom... eu estava esperando um momento mais romântico pra conta, mas acho que não tenho mais por que enrolar.
Amélia tirou as mãos de cima de seu ventre e repuxou o vestido. Amenom esticava o pescoço, tentando ver a surpresa, e eu estava bem atento, morrendo de curiosidade.
A barriga arredondada e firme de Amélia mostrava o estágio avançado da gravidez, devia estar pelo menos no oitavo mês.
Fiquei automaticamente chocado com a revelação, não porque isso fosse ruim, mas sim porque eu não esperava que fosse isso... nem sequer chegou a passar pela minha cabeça.
- Nossa, que barrigona! - Amenom se levantou para ver mais de perto - faz muito tempo desde que vi uma grávida.
- Mais um sobrinho ? - murmurei imaginando a chateação que seria.
- Aham - disse - e não ouse reclamar.
Amenom olhou-me curioso.
- Quantos sobrinhos você tem, Lian ?
- Contando esse... - tentei lembrar de todos - sete... sim, sete.
- Ah, é quase o mesmo que eu - agachou-se perto de Amélia - eu tenho uns nove.
Olhou para minha irmã.
- Posso escuta-lo ?
- Pode tentar - disse - esse danadinho só mexe quando não tem ninguém olhando.
- Vamos ver - Amenom encostou a orelha na barriga - ei, tá acordado ?
Falou gentilmente com a criança, a princípio, achei tosco e bobo, mas, vendo sua determinação em faze-lo mexer, achei... fofo... e até cheguei a sorrir. Sorriso esse que foi logo reprimido.
De repente os dois falaram bem alto e surpresos.
- Chutou! - e sorriram igual bobos.
- Ele deve estar furioso comigo, não para de chutar!
- Isso quase nunca acontece... o senhor é mesmo sortudo!
Amemom olhou-me.
- Venha sentir, Lian - chamou dando espaço.
Fui em silêncio, estava curioso para ver a animação do pequenino.
- Não to sentindo nada - falei imaginando se não teriam tentado me enganar.
- Ele parou... - disse Amélia.
- Acho que ele não gosta de você - comentou sorrindo.
- Peste - me levantei voltando para meu lugar.
Eles riram da situação e voltaram para o café.
Depois daquilo Amélia insistiu em ver meu jardim, afirmando que falaca tão bem dele que deveria estar muito bonito, de fato, ele estava, mas não era grande coisa.
Ela olhava tudo muito atentamente, elogiando cada flor pela qual passávamos. Assim como todas as outras pessoas que entraram nesse Jardim, Amélia foi direto para as flores venenosas, ignorando completamente o aviso na cerca em volta do canteiro.
- Vou arranjar um crânio humano e colocar ali - disse analisando sua mão - talvez assim entendam o recado.
Sugeri nos sentarmos um pouco para tomar sol, mas Amélia disse que estava com energia demais para isso, e perguntou o que mais tinha de interessante por ali.
- Bom... o castelo vamos ver mais tarde, então tem o dormitório dos guardas, a vila, o pomar, a torre do...
- O pomar - interrompeu-me -vamos ver o pomar!
O pomar acabou ficando esquecido por mim nesses últimos tempos devido a vários fatores. Como não era eu quem cuidava, e sim alguns aldeões sob a vigilância de Lanom, acabei esquecendo-me de ir visita-lo.
Em sumo, o pomar era uma grande área cheia de árvores frutíferas, todas separadas e organizadas pelo fruto que davam. Nele haviam muitas macieiras, laranjeiras, goiabeiras... enfim, uma infinidade que veio de todos os lados dos sete reinos. Como estava com menos de um ano, as árvores ainda eram muito novas e maioria ainda não davam frutos, mas quando começarem será uma safra enorme, que, se tudo ocorrer como o planejado, será aberta as pessoas da aldeia e quem mais quiser. Porém não tenho certeza se será assim.
Enquanto caminhávamos em silêncio, Amélia olhou em volta, para ter certeza se estávamos sozinhos e então disse:
- Como esta sua relação com o príncipe ?
- Normal - disse simplesmente - conseguimos manter uma amizade tranquilamente.
- E que mais ?
- Como o que mais ?
- Como ele te trata ?
- Normal...
- Você consegue melhor - disse.
Suspirei.
- Ele é atencioso, as vezes consegue ser engraçado... É calmo, meio bobo, eu diria...
Tentei pensar em tudo que ele era e lembrei-me do vaso de flores que ele me deu, depois daquele surto ele voltou ao normal, imagino mesmo que tenha sido só um problema com a taberna que ele foi... Ah, Amenom, que dramático!
- Ahhhh, te peguei - disse se afastando e apontando para minha boca.
Eu estava sorrindo com as lembranças.
- O que foi ? - perguntei disfarçando - que reação foi essa ?
- Esse sorriso - disse - foi o mesmo que deu agora a pouco quando ele escutava o bebê.
- E o que tem ? - perguntei apreensivo.
Olhou em volta mas uma vez, então segurou minhas mãos firmemente e falou.
- Esta apaixonado.
- Pare de Baboseiras - disse soltando-me - Não estou apaixonado.
- Lian... - falou danando - não adianta esconder isso de mim, conheço bem esse sentimento, sei que você está!
- Não, Amélia, não estou - comecei a me irritar - somos homens, esqueceu ? HOMENS!
- E isso faz alguma diferença ? - se aproximou - sim, é estranho, mas eu percebo o jeito que você fala dele quando escreve, consigo sentir nas palavras seu sentimento.
- QUE INFERNO, JÁ FALEI QUE NÃO ESTOU APAIXONADO - falei bem alto, irritado e assustado por ter sido colocado contra a parede dessa maneira.
Amélia olhou-me surpresa com a redação explosiva, virei de costas envergonhado pelo descontrole e me abracei com força, tentando me acalmar.
Isso era um assunto extremamente delicado e desconfortável para mim... Ah, como eu odeio esse sentimento desgraçado que é a paixão!
- Desculpe, Amélia... - falei e suspirei profundamente buscando pelas palavras - você não falou nada errado, eu realmente sinto algo por ele... mas você sabe melhor do que qualquer um que eu nunca, JAMAIS, vou cair nessa cilada de novo...
- Lian... - falou sentida.
- Vou esperar esse sentimento ir embora com o tempo, e, se não for, vou reprimi-lo com todas minhas forças!
Amélia nada respondeu, o clima ficou tenso e nenhum dos dois arranjava jeito de sair desta situação.
Minha irmã, então, aproximou-se e colocou a mão em meu ombro, não esperava que alguém fosse concordar com tamanha loucura quanto atração entre o mesmo sexo, mas saber que, de certa forma, tinha seu apoio, me fez sentir melhor. Virei-me e a abracei com força, tomando cuidado para não apertar a barriga.
- Vai me mostrar o castelo agora ? - perguntou depois de um tempo.
- Vou - juntamos os braços e voltamos pelo mesmo caminho.

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