Capítulo 10

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Toda festa dada pela "família imperial" era muito bem organizada e divulgada, todas as pessoas que mais importavam da alta sociedade carioca, estavam devidamente convidadas.

Mas a festa de lançamento da mais nova coleção de joias, não era apenas uma festa, e sim um verdadeiro evento glorioso.

E faltava apenas um dia para tal evento.

Marta estava em seu quarto quando escutou batidas na porta.

— Entra, está aberta! 

Clara entrou, passando pela porta com uma caixa enorme e uma outra pequena em cima da grande.

— Olha oque foi que chegou. Adivinha? — Ela sentou a beira da cama e pôs a caixa em cima da mesma — seu vestido.

— Mas já?— Marta perguntou com um semblante alegre, já desfazendo o embrulho.

O vestido era realmente lindo. Completamente vermelho e elegante. Totalmente seu estilo.

— Que lindo! Do jeito que eu gosto.

Clara sorriu vendo a feição da mãe. 

— E isso aqui...— Ela tamborilou as unhas em cima da caixa média— ...seria a sua joia.

Marta sentiu uma pontinha de tristeza vindo da filha ao olhar para a jóia que dessa vez ela não usaria. Ela ajeitou novamente o vestido, o colocando de volta na caixa, e se sentou.

— Ano que vem eu uso. Não fica assim. Uma Medeiros não se abala por qualquer coisa, não — Ela encarou os olhos escuros da filha.

— É, mãe. Mas dessa vez não é qualquer coisa, eu desenhei essa joia especialmente para você, e quando alguém comprar, eu claramente vou ver um pouco de Maria Marta em cada uma delas, é isso que dá o toque especia— lEla fechou a caixa.

Quando se tratava de Clara, o coração blindado de Marta, se rendia e amolecia. 

— Me dá aqui a jóia...

Clara entregou.

Marta se levantou, pegou a caixa do vestido e foi para o banheiro.

A filha ficou sem entender nada.

— Mãe, oque você vai aprontar, hein?

Ela perguntou e minutos depois, Marta veio do banheiro mais deslumbrante que nunca. Usando o vestido vermelho e a jóia de Clara. Um sorriso único e instantâneo nasceu no rosto dela. A mesma bateu palmas.

— Você está linda, mãe. Perfeita! É incrível como tudo fica lindo em você! 

— A pergunta é: oque não fica lindo na imperatriz?

As duas riram.

Mas o clima de risada logo se desfez quando a figura do homem de preto entrou no quarto, tomando a cena para si. A tensão logo invadiu o ambiente. Marta revirou os olhos e Clara emudeceu. 

Apesar do que já estavam pensando, o semblante do comendador era calmo. E pelos muitos anos de convivência, quando ele chegava assim, Clara já sabia que ele só queria conversar, então antes que alguém dissesse algo, ela já foi saído.

— Qualquer coisa...— Ela olhou para a mãe dando a entender que era só lhe chamar se precisasse.

O olhar superficial de Zé admirou a imperatriz verdadeira vestida como tal. Até de maquiagem ela estava, esplendorosa como de costume, até nos dias mais simples. 

— Entrou aqui para ficar feito um dois de paus aí parado me olhando?— Ela ajeitou a postura, quase o olhando de cima.

—Não. Sabe que por mim nem entraria aqui. Mas preciso tratar com você um assunto — Ele detestava ter que correr atrás dela para qualquer coisa que fosse, mais para ele, infelizmente aquele assunto dizia respeito a ela também. 

— Então fala — Ela cruzou os braços.

— Meu amigo Antoninho está organizando o samba enredo no qual eu serei o tema, acho que você sabe disso?

— Infelizmente. E achei pra lá de mal gosto e patético — Ela não achava tudo isso, mais não perdia a oportunidade de pisar nele.

— Mas acontece que você também está inclusa nessa, assim como nossos filhos também!

— Como é que é? Eu?—  Ela soltou uma risada alta. Oque mostrava completamente seu lindo sorriso.

Ele, por sua vez, se manteve sério.

— Você só pode estar brincando comigo! Zé, olha pra mim e vê se sou mulher de me espremer com aquele bando de gente que vem aglomerado dentro de um ônibus, batucando, suando e comendo frango com farofa com a mão?— Ela fazia uma cara engraçada de nojo enquanto gesticulava com as mãos tentando passar todo horror que seria ela naquela situação.

Ele não teve como segurar a risada.

— Tá rindo do quê?— Ela perguntou contendo a próprio risada. 

— Do jeito que você não perde essa pose até com o mundo caindo. Impressionante, Marta.

— Pois eu não perco mesmo. 

— Você não vai precisar se aglomerar dentro de ônibus nenhum com ninguém. Como eu sou o imperador, e você a imperatriz, você vai estar ao meu lado num trono em cima de um carro alegórico —Ele explicou.

— Mais nem morta, aí que não vou mesmo. Imagina se aquela coisa despenca e cai nos dois lá de cima? Não mesmo! Se você quiser desfilar, chama aquela criança pra ir com você e faça bom proveito!—  Ela respondeu tirando os brincos e o colar.

— Você é minha imperatriz!— ele disse olhando para qualquer lugar, menos para ela.

Aquela frase, aquela simples frase desarmou Marta. Como era pesado o fardo como cada palavra daquele homem mexia com ela e com seus sentidos. Ainda de costas, ela suspirou, fechou os olhos e abriu se virando. 

— Imperatriz eu sou mesmo. Mas eu já não sou mais — Ela respondeu com pesar. 

Eles sustentaram o olhar por um tempinho, mas logo desviaram. Um nó se formou na garganta dela, veio uma vontade imensa de chorar, mas conseguiu se conter, ele não merecia mais nenhuma lágrima dela.

— Então você não vai mesmo? 

Ela ficou em silêncio, ele entendeu como uma resposta e saiu do quarto. Marta andou devagar até a cama e se sentou. Ele não merecia mais nada que viesse dela, mais ela foi sua cúmplice e mulher por tantos anos, tantas coisas que já fizeram juntos, essa só seria mais uma. Porém, por outro lado, ele escolheu outra, jogando no lixo tudo oque viveram juntos.

Só que aquela batalha do sim e não era travada dentro dela. Foi então que se levantou e saiu do quarto indo em direção ao dele. Sem bater, como de costume, ela entrou porta a dentro. Ela parou a sua frente. Ele estava sentado na poltrona.

— Se eu lascar uma unha que seja naquela avenida, o culpado vai ser você...— Foi o jeito Maria Marta de dizer, sim!

Depois de responder, ela saiu, deixando ele com um sorrisinho de lado.

*No próximo, A FESTA!*









Meu Diamante - MALFREDOnde histórias criam vida. Descubra agora