Mille incendi

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Carolina dança ao som da festa de forma alucinada. As unhas vermelhas contrastam com sua pele alva e combinam com o conjunto vermelho, composto por um shorts curto e um cropped que tem um decote avantajado.

Rafaela observa a amiga rebolando até o chão ao ritmo perfeito da música, jogando olhares para todos daquela pequena festa ao ar livre, ignorando seu olhar carrancudo de propósito.

Já passou da hora de Carolina estar em casa e ela sabe muito bem as consequências para a amiga.

Os pais dela se importam com horários e se a filha está viva ou morta. E ela odeia ter que ignorar a décima quinta ligação de Dona Júlia em seu telefone.

Carolina se cansa e vem até Rafaela pedindo por água. Rafa alcança a garrafinha.

— Eu sei, eu tenho que ir. Já mandei mensagem avisando que íamos nos atrasar. — Ela fala encarando as unhas pintadas de preto de Rafa. Elas combinam com a pele negra da jovem, as mãos são delicadas e habilidosas.

Carolina já bebeu mais do que deveria e seus olhos percorrem os braços de Rafaela, chegando em seu rosto. Rafa era bonita de doer.

Rafa também achava que Carol era bonita de doer.

Mas nenhuma das duas tinha coragem o suficiente para admitir aquilo, óbvio. Elas eram amigas desde sempre e apesar de ambas saberem que beijavam garotas e garotos, nenhuma delas queria admitir que queriam se beijar.

De novo.

Carol e Rafa sempre ficavam em fins de festa como aquele.

A primeira vez foi no aniversário de 15 de Carol. A segunda vez foi depois que Carol levou o primeiro pé na bunda aos 18 anos e foi na casa de Rafa desabafar.

Ok, aquela vez elas não tinham só se beijado.

A mãe de Rafa nunca estava em casa e quando tinha sua presença física, estava dopada demais de remédios para dormir para notar qualquer coisa.

Então elas aproveitaram a noite e de manhã cedo a mãe de Rafa nem percebeu Carol saindo às escondidas.

E depois disso elas perderam as contas de quantas vezes se beijaram ou terminaram a noite juntas.

As coisas nunca ficaram estranhas entre elas.

Mesmo com aqueles beijos.

Ou com aquelas transas.

E com o coração da Rafa quase tendo um infarto toda vez que via Carolina em roupas tão provocativas quanto aquela.

— Ah é? Então porque ela não para de me ligar? — Rafa dá um sorriso maroto mostrando o celular para Carol, que revira os olhos. Ela pega o celular de Rafa e atende.

— Oi mãe. Sim, óbvio que eu estou com a Rafa, com quem mais eu estaria? Eu e a Mariana terminamos há século. Eu e o Gabriel brigamos ontem. Qual é mãe, para de questionar minhas escolhas! — O rosto de Carolina fica vermelho falando com a mãe.

Rafaela consegue escutar apenas as risadas de Dona Júlia depois da última frase da filha.

Você e a Rafa deviam parar de doce e se assumirem como namoradas de uma vez — Esta frase Rafa escutou e se sentiu ficar vermelha. Carol passa o celular para Rafa, indicando que Dona Julia quer falar com ela. — Traz minha filha para casa em segurança, por favor? 

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