Sorriso Escarlate

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Quando o universo conspira contra você, nunca duvide de que nada esteja tão ruim que não possa piorar, acredite, vai piorar.

Se já não bastasse o aluguel atrasado e a ameaça de cortarem minha luz, ainda tive a brilhante ideia de resgatar um gatinho abandonado que infelizmente estava debilitado, provavelmente fruto de maus tratos, não pensei duas vezes antes de me endividar com a clínica veterinária. Ainda não tinha tempo suficiente de curso para começar minha residência como enfermeira, mesmo já possuindo conhecimento suficiente por ter o curso técnico. Por isso precisava me virar com um trabalho de meio período em uma lanchonete a noite, o salário que já era pouco, mal daria para pagar o que devo e ainda me alimentar. Não teria a mínima coragem de ligar para pedir dinheiro aos meus pais, eles se mataram de trabalhar para me sustentar em outra cidade durante o primeiro ano da faculdade, já passou da hora de dar sossego aos velhos.

Acordei fazendo a rotina de costume, preparando meus materiais para as primeiras aulas da manhã, estava escovando os dentes enquanto lia alguns e-mails acumulados quando quase tropecei na bola de pelos alaranjada que se esticava preguiçosamente no centro do tapete da sala.

- Eu preciso começar a me acostumar com você aqui, coisinha- Falei para o gato que estava pensando seriamente em chamar de Haroldo, o bichano balançou o rabo e me ignorou totalmente- Talvez "ingrato" combine mais.

Me arrumei e preparei minha mochila para ficar fora o dia todo, com sorte, só retornaria para casa após as 22h, isso se o dono da lanchonete não exigisse, digo, pedisse educadamente para que eu fizesse hora extra. Quem me dera ver a cor do dinheiro por essas horas extras.

Suspirei ao ver pendurado na porta de meu apartamento um educado aviso do proprietário, teria até o final do mês para pagar o aluguel atrasado antes que o mesmo tomasse providências, amassei o pequeno bilhete o enfiando no bolso na calça, um problema de cada vez, minha prioridade no momento era a conta de luz.

A rotina da manhã foi tranquila, eu realmente amava a área da saúde e me encontrei na enfermagem, nunca ansiei pela medicina, o contato constante com pacientes e o auxílio aos outros profissionais da saúde era o que me fazia feliz. O almoço era um momento de alívio para meu dinheiro, o restaurante universitário me permitia fazer uma boa refeição pagando muito menos e de quebra tinha a companhia de minhas amigas.

- Que cara é essa? - Mei, uma residente da medicina me perguntou enquanto decidia por onde começaria a comer seu prato.

- A cara de quem está fodidamente fodida. Eu não sei como vou sair dessa, de verdade...

- Você podia pegar uma grana emprestada com seus pais, sabe, sendo eles seria mais de boa para ir pagando o que deve aos poucos- Shoko, minha colega que estava comigo desde o primeiro ano se sentou ao meu lado pegando a conversa no ar, ela já sabia bem dos meus problemas financeiros.

- Eu não vou fazer isso, meu pai acabou de se aposentar depois daquele acidente de trabalho, tudo o que eles precisam agora é de sossego. Se eu disser que estou devendo algo tenho certeza de que vão surtar e minha mãe não vai pensar duas vezes antes de vir para cá e cuidar de tudo, preciso resolver meus problemas sozinha.

- Não seja tão orgulhosa- Shoko provocou, Mei permaneceu em silêncio, os olhos atentos em mim.

- Não é orgulho, é responsabilidade! Já deu desse assunto, vou dar um jeito de pagar isso nem que tenha que fazer um empréstimo- Murmurei vendo Utahime, da psicologia, puxar uma cadeira tentando equilibrar sua bandeja.

- Empréstimo? Não sei do que estão falando, mas passe longe de qualquer banco, aqueles caras vão sugar sua vida!- Me aconselhou e a conversa acabou tomando outro rumo. Algo sobre banco, juros e outras coisas que ignorei, uma mensagem de Mei prendeu minha atenção.

SUBVERSIVO. Imagine Suguru GetoOnde histórias criam vida. Descubra agora